Ex-prefeito Odacy Amorim rebate críticas da atual administração

por Carlos Britto // 11 de julho de 2009 às 16:35

Ele disse que vinha ao Blog, e veio. O ex-prefeito de Petrolina, Odacy Amorim (PSB) saiu do silêncio. Aliás, desde o início desta semana ele decidiu falar. Resolveu contestar, em algumas emissoras de rádio, as críticas que vem recebendo da atual administração. Mas sem polemizar.

Foi dessa forma que ele também nos concedeu esta entrevista. Ratificou suas críticas, mas não ficou só nisso. Falou das ações que seu governo deixou para os petrolinenses, da candidatura a deputado estadual e do futuro político. Confira a primeira parte da entrevista com Odacy. Amanhã tem mais:

Imip

Para mim a presença do Imip em Petrolina era para servir de modelo. A prova é que o Imip está chegando a Juazeiro e até o ministro da Saúde já confirmou presença na inauguração do Hospital Regional. Então essa decisão de botar o Imip aqui foi uma decisão acertada. O hospital começava com R$ 1,5 milhão (mensais), mas a demanda ia crescer. Inclusive a direção do Imip tinha elaborado um projeto de ampliação do Hospital Dom Malan. Ia ser construído, me parece, um primeiro e segundo andar. Já tinha recursos reservados para investimento no Dom Malan e que, de fato, serão paralisados, ou adiados. O município tinha condições de manter o convênio, porque a saúde em Petrolina é deficitária de décadas. De fato os recursos que a saúde recebe são pequenos para o tamanho da demanda, mas quando abrimos o Hospital de Traumas já abrimos com o teto definido. Isso foi um gesto do ministério da Saúde, que teve apoio do governador Eduardo Campos para viabilizar esses recursos. Agora, a questão de dar ou não dar (para manter o convênio), você não corrige esse déficit de uma hora para outra. O que ficou para o município pagar ao Imip foi justamente o que o Governo do Estado tinha acertado para repassar por mês e o governador não repassou o ano passado. No final do ano (2008), sinalizou que ia mandar dois meses, mas só mandou agora no governo de Júlio. Então a nota que o Imip soltou naquela época (sobre atraso do repasse), quando você faz a conta era justamente os R$ 300 mil. Mas como a prefeitura baixou para R$ 1,2 milhão, você tinha como bancar sem o dinheiro do Governo do Estado. Até porque o Estado acertou de repassar esse recurso de R$ 300 mil para o governo municipal.

Câmeras de vigilância

Oferecemos um projeto de segurança a Pernambuco. Ofereci ao governo as viaturas, e pedi o monitoramento eletrônico. Esse projeto era de R$ 149 mil e fechei entendimento com o secretário da época, Dr. Romero (Menezes, Defesa Social do Estado), que queria inaugurar o sistema em junho (2007). Acontece que os recursos do Governo do Estado demoraram um pouco a chegar e eu lancei o processo de licitação pela urgência, porque era uma questão de vidas. Estavam morrendo pessoas na cidade. Ali no Centro eram roubos e assaltos quase todos os dias, os idosos eram assaltados nas portas dos bancos. Zeramos essas ocorrências. Mas de fato, nós licitamos antes do dinheiro chegar. Eu fiz um pregão presencial, que a prefeitura fazia pregão, e nós conseguimos comprar (as câmeras) por pouco mais de R$ 90 mil. Fizemos a cabine de monitoramento através da iniciativa privada. E sobrou R$ 58 mil de convênio. Eu propus ampliar o número de câmeras para atender a feira da Areia Branca, da Cohab e a Ponte Presidente Dutra, mas aí o Governo do estado não permitiu pela questão do plano de metas. E eu devolvi os R$ 58 mil. Houve de fato uma divergência de datas, por causa desse problema do convênio. A questão das câmeras, e eu acho que a prefeitura deve estar resolvendo isso, é que no final do ano (2008) eu trouxe um especialista pra fazer uma avaliação. Começou com uma carreta, que entrou numa rua e quebrou uma das câmeras. E também estava havendo um problema de visibilidade. Então o especialista sugeriu botar mais um monitor. Esse sistema gastaria R$ 4 mil. Só que já era final de outubro. E para eu lançar qualquer tipo de processo para adquirir esse sistema, eu tinha de ter uma empresa que vendesse isso. Mas as empresas não queriam fazer nenhuma venda ao município no final do mandato. Primeiro, vir do Recife para cá por R$ 4 mil? Então foi isso, uma coisa simples de ser resolvida. E não essa história de que precisa de R$ 80 mil para dar manutenção no sistema. Eu implantei o sistema por noventa e poucos mil, como é que vai gastar R$ 80 mil com manutenção?

Fim do Musicando

O projeto Musicando era dentro do projeto de segurança, com a implantação de uma escola de música, ressocialização de presos, lazer para os jovens. O Musicando eram quase 200 crianças aprendendo a tocar flauta, violino, teclado e iniciação vocal. Buscamos apoio da Adra, que bancou os instrumentos. Um dos bairros mais violentos da época em que assumi a prefeitura era o João de Deus. E nós implantamos uma escola de iniciação vocal, a Luisa de Castro, e uma de flauta. A outra implantamos no parque (Josepha Coelho). Eu entendo que o prefeito (Lóssio) tenha seus projetos, eu não quero me meter no governo dele. Tem muitas crianças já tocando flauta, violino e elas quebraram essa sequência. A gente tinha parceria com as empresas de ônibus, a EPTTC na questão dos passes. Inclusive gravamos o hino de Petrolina com essas crianças. Elas estavam com a auto-estima elevada. No dia das mães (este ano), uma mãe me disse lá no João de Deus que estava triste porque seu filho mudou muito depois que começou a aprender a tocar e a cantar. A prefeitura gastava R$ 10 mil por mês para pagar os professores. Nós fizemos (o projeto) através da ONG porque a prefeitura não podia contratar direto, a não ser fazendo concurso. Mas era um projeto bonito. Eu acho que não tem que ser um projeto de governo A ou B. O projeto é da sociedade. A administração que entrou pode até implantar novos projetos, mas acabar o que estava dando certo? Eu conversei com o governador sobre esse projeto, e muito provavelmente o Musicando vai ressurgir com o apoio do Governo do Estado, porque o governador achou o valor perfeitamente possível de ser trabalhado.

Fim da ressocialização de presos

Como o número de prisões estava aumentando em Petrolina, A gente entendia que tinha de pensar também na população carcerária. Eu apresentei ao Governo do estado um projeto de contratar esses homens para trabalhar para o município. Fizemos uma experiência com eles na construção de casas populares. Tinha uns 30 trabalhando. Pedi mais cem homens no regime semi-aberto para trabalhar para o município, e através da empresa responsável, foram liberados 50. Eles trabalhavam 20dias por mês de segunda a sexta. A cada três dias de trabalho eles reduziam um dia da pena. Recebiam um salário mínimo e uma parte era depositada na poupança para quando eles saíssem do presídio ter alguma coisa para começarem a vida. Eu tive uma conversa com eles, que mesmo na fraqueza que eles tiveram na vida, eles podiam contribuir com Petrolina e se recuperarem. Um deles me abraçou e disse: ‘prefeito, a gente não vai lhe decepcionar’. Mas eles tinha um fiscal que os acompanhavam o dia todo, iam do presídio, trabalhavam na avenida e voltavam para o presídio. Nunca chegou ao meu ouvido de que eles estariam praticando delitos de nenhuma natureza. Esses homens precisam se recuperar na vida. Não acho justo pegar esses presos agora e fazer deles bodes expiatórios para justificar uma atitude que não deveria ter sido tomada. A verdade é essa. No Brasil não tem pena de morte, nem prisão perpétua. Quem entra num presídio vai ter de sair. E se a sociedade ou os poderes públicos não fizerem sua parte, eles vão sair pior do que entraram.