Artigo: Uma homenagem a Lima Delmar

por Carlos Britto // 14 de junho de 2012 às 07:59

O músico Maurício Dias Cordeiro “Mauriçola” fez esta bela homenagem póstuma ao juazeirense Lima Delmar (foto) e a enviou ao Blog.

Confiram:

LIMA DELMAR

Deixei um certo tempo passar, principalmente para não ser mal interpretado pelos que sempre dizem que quero apenas aparecer. Esperei alguém fazer antes, mas acredito que agora posso derramar minha pequena homenagem ao nosso amigo LIMA DELMAR, pedindo permissão ao “Blog” e aos seus leitores.

“Viracopos” era um bar no meio da Praça da Misericórdia, foi ali que conheci Lima Delmar, tempo das “cervejas “chopp 70” “ciquine pop chopp”. Tinha 14 anos e trabalhava em um departamento do “Pinguim”, que representava esta cervejaria baiana aqui em Juazeiro, com outro saudoso amigo e mestre da voz, Clésio Athanásio. (Clésio gravou um “spott” com “os Novos Baianos” do poeta Luiz Galvão para esta cerveja, de grande impacto no rádio).

Juazeiro era música pura, serestas, “boemia” dos bons e depois Lima Delmar criou o “Guadalajara” na Praça do Boi, tempos da copa de 70. Tinha uma música de sucesso: “Guadalajara, mora no meu coração, fostes também animadora do nosso tri-campeão” e Clésio soltava a voz, convidando todos para lá, nos potentes “carros de som” onde Lima Delmar era o “boêmio-mor anfitrião” e recebia todos com um largo sorriso sobrando no rosto – às vezes ia pra lá só pra ver o movimento.

Lima era produtor de eventos, principalmente shows musicais, também compositor de “jingles” políticos, locutor, apresentador, animador de uma vida alegre, ingênua, de uma “atmosfera” mais feliz, tempo de uma Juazeiro pequena, brilhante, insuperável, dos tempos da AUJ, temporadas universitárias, festivais de música e lutas livres na “quadra do Franvale” (comecei ali, me apresentando ao lado do “Bossa Quatro” de “Capenga” e Genivaldo). Caetano Veloso veio em 1973, logo depois de regressar do “exílio” em Londres, idos da ditadura de 64. Euclides Pereira, Ivan Gomes, Valdemar Santana, “Marreta”, “Demônio do Ringue” “Fidelão” Leão do Norte” eram os “gladiadores” do “largo da matança” onde “corria óleo quente”, um “marketing” poderoso de Clésio Athanásio, que também tinha inventado o “Braseiro” na Praça da Misericórdia.

Lima Delmar, Gil Brás, Clésio Athanásio, “Seu Galo” Oswaldo Matutino, Edmundo Rastelli eram os mestres de cerimônia deste tempo, da minha infância mais feliz, quando ainda se ouvia João Gilberto e Elvis Presley na Rádio Juazeiro, tinha o auditório João Gilberto da Rádio e “Ratinho” Raimundo Nobre era o nosso “rei do rock n’roll” um “grilo seresteiro, protegido por “Maninho Buldogue” nas madrugadas escuras, iluminadas de estrelas, sem energia da “ilha do fogo”.

“Tempos que Apolo e a 28 recebiam “Caribe Stell Band”, “Românticos Del Caribe”, “Orquestra Banda do Canecão”, Amado e seus “Xeques Mates”, Bisbão e Lordão, “Os Leopardos e The Gentleman”, os “Beatles” de Salvador, banda dos irmãos do guitarrista Pepeu Gomes, que tocava na porta da loja “Os Gonçalves” e Gil Brás colocava o Rei Roberto Carlos para cantar no cine São Francisco. Era um tempo sem fim, assim como este meu texto aqui pode ser.

Por isso, fico por aqui no deserto desta saudade, de tudo ficando longe de mim, de nós, de todo mundo, uma Juazeiro linda, mágica, cheia de casarões coloniais, janelões de madeira, do cais cheio de “vapores” e barcas, das misses pintadas por “Sanduarte” já sem a “estação da leste” e agora sem o “suntuoso” cais.

Adeus Lima Delmar, adeus àquela Juazeiro mágica, pequena, luminosa, de Edésio Santos e João Gilberto, de Luiz Galvão e Sangalo Jóias, que fez nascer aqui outra estrela. De Alcina, Nena, Clélia Pontes, Professora “Guigui” Guiomar, do “Vaporzinho”.

Juazeiro era amada e cantada, cheia de auto-estima, a gente chegava mesmo a desprezar Salvador, bastava imaginar uma viagem de trem, num camarote, com seu “Boto” de garçom. Sei que esqueci muitos, mas um dia ainda vou falar destes humanos demasiados da minha infância. Que Herbeth Mouze continue contando o que esqueci e Deus dê longevidade para ele e Bebela, para o turbilhão da saudade não nos consumir na lembrança dos amigos levados, representados em Euvaldão, Zé Maurício, Pedro Raymundo, “Scaffa” “Guerrinha” “Neguinho”

Mas de saudade eu não morro, corro no cavalo de Zorro. Marinheiro ao mar, Lima Delmar, o oceano inevitável.

“The end”

Obrigado,

Carlos Maurício Dias Cordeiro “Mauriçola”/Músico

Artigo: Uma homenagem a Lima Delmar

  1. carlos augusto disse:

    Fantástica homenagem! Valeu Mauriçola! Não preciso escrever mais nada… muito obrigado pela emoção, neste início de manhã.

  2. Victor Fidel disse:

    Tive o prazer de conhecer. Figura fantástica!

  3. Bom senso... disse:

    Mauriçola , parabens pela bela iniciativa ! Já que ninguem se dispõe a escrever a história desse longo cotidiano ( Se houver me avisem..)… nó aqui vanmos catando as passagens do tempo através de textos brilhantes como o seu ! valeu !

  4. Maria Cavalcanti disse:

    Obrida Maurício!!
    Só um pessoa com a sensiblidade aguçada é que pode escrever com tanta perfeição e causar tanta emoção.
    Só não tem saudades quem não tem passado!!!

  5. Maria Cavalcanti disse:

    Obrigada Maurício!!
    Só uma pessoa com a sensiblidade aguçada é que pode escrever com tanta perfeição e causar tanta emoção.
    Só não tem saudades quem não tem passado!!!

  6. Faw Faustino disse:

    Não conheci o “Seu Delmar” como o Sr Mauriçola, mas, no curto tempo de trabalho na Prefeitura, pude constatar a maneira simples e elegante no tratar com os colegas, a experiência política na resolução de tarefas cotidianas, o conselheiro e apaziguador nos momentos de crise nas conversas de gabinete.
    Que Deus abençoe seus familiares e lhes dê conforto. Paz Seu Delmar.

  7. fantastico Mauriçola! disse:

    Mauriçola, quero dizer que voce tambem faz parte da historia de muita gente,.La pelos idos de 70-80, quando voce revolucionava os cabeças pensantes ,ou aqueles que gostariam de se sentir assim,que queriam revolucionar ou modficar algo, em Juazeiro-Petrolina.Voce tb faz parte do nosso imaginario e voce vai ficar sempre na memoria daqueles que te conheçeram naqueles anos dourados de nossas vidas.Parabens, e continue sempre a nos enviar suas perolas, para podermos relembrar dos bons tempos.Parabens!

  8. Its a good times... disse:

    Mauriçola, voce me fez lembrar dos bons tempos…good times…. tempos de uma rebeldia quase que ingenua e inocente ,onde queriamos ser diferentes,queriamos acompanhar o que ocorria nos grandes centros e que por aqui respingavam, anos das calças boca de sino, dos cabelos blac power,dos encontros escondidos, dos cigarros fumados as escondidas só para nos sentirmos ´´o cara´´,das festinhas chamadas de assustados, de nossas bebedeiras só por rebeldia,das garupas das velhas motos, dos beijos roubados, dos giros em torno da praça concha acustica. e do som que tocava roberto carlos…So ira entender o que estou a falar ,quem foi daqueles saudosos tempos e for das queridas Petrolina e Juazeiro…Saudades daqueles tempos,Mauriçola…Grande abraço, companheiro!

  9. João Gilberto disse:

    Parabéns Mauriçola,tenho bastante interesse na história cultural de juazeiro e fiquei muito feliz de ler estas palavras verdadeiras sobre nosso povo tão original.

  10. zaira disse:

    Linda homenagem Maurício, Lima realmente merece, pessoa linda, iluminada, que DEUS abençõe a família, que está a sentir saudades!!!!

  11. josé farias gomes disse:

    Mais uma linda crônica de meu amigo querido Mauriçola: o grande músico de Juazeiro e autor do hino de Petrolina.
    Mais uma crônica sua salva em meu computador. Continue. Voçê escreve bem. Não ligue para críticas negativas.
    Obrigado
    Farias

  12. SOCORRO VASCONCELOS disse:

    Mauriçola, só vc com uma sensibilidade sem igual pode prestar essa homenagem a seu LIMA, como o chamava, foi a primeira pessoa a me dar um emprego num comitê político que tinha aí em juazeiro em frente a praça do antigo Fórum, lindo prédio que foi demolido, que muitas vezes namorei com meu marido nas suas escadarias. Que Juazeiro maravilhosa, tenho tanta saudades… das pessoas do Bar Primavera, do point Praça do Jacaré, do Cais lindo que tinha aquela balaustrada onde sentavámos e namoravámos e ficavámos a observar uma coruja que tinha a morada alí. Juazeiro de seu Lima que retratava bem o juazeirense generoso, talentoso e humano. Ele foi muito importante na minha vida, como também de grande importância outro amigo que tive aí, seu Ermi Ferrari, maravilhoso, pessoa que considerava tanto que o chamei para entrar comigo no meu casamento e me entregar ao meu marido. Tenho tantas saudades…

    Grande abraço,
    Socorro

  13. WILSON NERY DA CUNHA disse:

    Valeu,Muriçola!Este é um texto que eu queria ter escrito.Amei, de verdade.Sempre falo aos meus filhos(amantes como eu do MMA) das grandes lutas que haviam em Juazeiro, e das figuras e amigos de Juazeiro .Grande memória,parabéns!Quero deixar minha homenagem a Lima Delmar, não sabia de detalhes de sua vida como vc descreveu.Grande amigo,grande figura, me incentivou muitas vezes a sair na política em Sobradinho,acho que a política era a sua principal atividade nestes últimos anos .Não segui seu conselho e acho que Lima deve ter levado dela inúmeras decepções por ser uma pessoa de caráter e de boas intenções..Pessoas como Lima Delmar deveriam viver para sempre para alegrar o nosso dia a dia.Estranhei o fato de sua morte passar quase desapercebida e este seu artigo foi a melhor coisa que li nos últimos dias.Um abraço.Wilson Nery(Popó).

  14. JOTA MILDES disse:

    MAURIÇOLA RETRATOU BEM A FIGURA CARISMÁTICA DE LIMA DELMAR. FUI AMIGO E COLABORADOR DE LIMA QUANDO TRABALHEI NAS EMISSORAS DE RÁDIO DE JUAZEIRO E PETROLINA, E PARTICULARMENTE EDITANDO A SUA REVISTA “PANORAMA DO VALE”. LIMA ERA ALEGRE, GENEROSO; UM BON VIVANT NO SENTIDO MAIS POSITIVO QUE UMA PESSOA HONRADA POSSA OCUPAR. QUANTO À RÁPIDA DESCRIÇÃO SOBRE SOBRE FATOS E ACONTECIMENTOS DO PASSADO, E FIGURAS IMPORTANTES QUE FIZERAM O DIA-A-DIA DE JUAZEIRO NAS DÉCADAS DE 60, 70 E 80, MAURIÇOLA FOI TAMBÉM MUITO FELIZ, E A LUZ DA MEMÓRIA ME TROUXE GRANDES E GRATAS RECORDAÇÕES. COMO FOI BOM REVIVER TUDO AQUILO DE UM TEMPO EM QUE JUAZEIRO E PETROLINA SE COMPLETAVAM EM CORTESIA E ELEGRIA!
    Jota Mildes – jornalista e escultor

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