Um projeto de extensão bem sucedido da Universidade de São Paulo (USP) está trazendo esta semana a Afogados da Ingazeira, no Sertão pernambucano, um grupo de 200 estudantes e professores para um mutirão de saúde, agroecologia, educação, comunicação e economia rural. O projeto “Bandeira Científica” nasceu na década de 50, foi extinto na época da ditadura militar e retornou há 13 anos a distantes e carentes cidades brasileiras para aproximar o conhecimento acadêmico da realidade regional.
O grupo chegou ao Recife neste fim de semana em dois aviões da Força Aérea Brasileira e seguiu à região do Alto Pajeú por estrada, em ônibus cedidos pela Prefeitura de Afogados da Ingazeira. Estão alojados em escolas da cidade e a partir de amanhã iniciam o atendimento no Centro e na área rural. Terão a companhia de dois professores e 23 alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), das áreas de medicina, nutrição, fisioterapia e fonoaudiologia. Toda vez que visitam um Estado, os meninos do Bandeira Científica procuram aproximar mais universitários para incentivá-los a seguir o exemplo, explica Marcelo Pellegrini, aluno da Escola de Comunicação da USP e assessor de imprensa do projeto.
“São muito bem-vindos. Estamos precisando desse apoio e seria ideal que a UFPE também fizesse o mesmo que a USP”, avalia a secretária-adjunta de Saúde de Afogados da Ingazeira, Sandra Regina Siqueira. Embora tenha rede de saúde que serve de referência a municípios vizinhos, a cidade não consegue atender as necessidades totais da população, que requer cuidados médicos especializados.
Além disso, Afogados da Ingazeira tem enfrentado epidemias de dengue e, com o recrudescimento da seca nos últimos dois anos, aumentou o adoecimento de crianças com diarreias e outras infecções. “Também temos constatado mais doenças crônicas, como câncer, o que demanda mais exames e diagnósticos”, afirma a secretária.
A expedição da USP trouxe ultrassom e outros aparelhos para ajudar na assistência à população. São cinco toneladas de bagagem, equipamento, remédio e outros materiais. Vai oferecer também óculos e próteses dentárias. Para isso conta com empresas parceiras, embora a grande parte do projeto de extensão seja financiada pela própria universidade estadual.
Logística
Afogados foi selecionada por apresentar características de desenvolvimento, funcionar como polo, e ao mesmo tempo ter indicadores sociais insatisfatórios, como baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), explicam os organizadores do Bandeira Científica. Ter uma rede de assistência mínima que apoie a presença do projeto também é requisito na hora de escolher a população beneficiária.
Desde abril o projeto já vem tomando providências na área. Representantes viajaram ao Sertão pernambucano para negociar apoios com a prefeitura e outros entes. O Exército Brasileiro, por exemplo, garantirá água potável para a realização dos trabalhos.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, agentes comunitários já fizeram pré-triagem das pessoas que precisam de assistência médica. Mesmo assim, haverá espaço para demandas espontâneas. A equipe da USP fará inicialmente uma triagem de clínica geral. Daí, o paciente será encaminhado a especialidades como oftalmologia, pediatria, ginecologia e otorrinolaringologia, entre outras.
Haverá ainda atendimento de odontologia, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição e terapia ocupacional. Todos também farão atividades educativas com a população, para prevenir novos problemas. Além do envolvimento comunitário, papel da extensão universitária, o projeto possibilita a formação dos alunos e a pesquisa científica. Dará ao público e à cidade visitada outras oportunidades, como a de planejar o trabalho, o uso da terra e a economia local.
Estão no grupo estudantes de engenharias civil e ambiental da Escola Politécnica da USP, que farão mapeamento do saneamento básico (esgoto, abastecimento d’água e compostagem do lixo). Representantes da Escola Superior de Agricultura trabalharão o manejo da terra e a agricultura nas comunidades rurais.
Alunos de economia, administração e contabilidade vão desenvolver projetos de geração de renda, para fortalecer as organizações locais. A Escola de Comunicação e Artes estará presente não só para documentar a expedição por meio de fotos e vídeo, mas também usará a rádio comunitária para convocar o público e passar dicas de saúde e prevenção de doenças adquiridas por água e alimentos contaminados. (Fonte/foto: divulgação)