Em outubro de 2009, o então presidente Lula citava Eliane Lisboa (foto), 39 anos, de Floresta (PE), no Sertão de Itaparica, como exemplo da prosperidade motivada pelas obras da transposição do Rio São Francisco. “Ela já montou empresa e serviu até 400 refeições por dia”, disse ele. Quatro anos depois, a paralisação e a lentidão nas obras mudaram tudo. Endividada, ela mantém uma estrutura mínima à espera da retomada das promessas do governo.
“Trabalhava na roça e vendia coxinha e pastel para uma escola. Era coisa pouca. O Exército chegou aqui em 2007. No outro dia, pedi ao coronel permissão para vender pastel. Peguei R$ 50 emprestado com um afilhado. À tarde, já estava vendendo pastel e refrigerante a R$ 1. Apurei R$ 35. Fiquei feliz. Não tenho mais nada”, desabafa ela, atualmente.
“Abri o restaurante em 2008. Todas as empresas da transposição passaram por aqui. Servia 27 refeições por dia. Cheguei a R$ 400 em 2009. Quando estava muito bom, faturei R$ 100 mil num mês. Lembro de ter pago R$ 5 mil de Imposto de Renda. Na época, conversando com (o ex-presidente) Lula, ele disse que eu estava pagando mais imposto que ele. Nesse dia (da visita, em outubro de 2009), vendi muito no restaurante e decidi ir até lá, no meio do povão. Bati nas costas dele e falei: ‘Lula’. Ele foi muito atencioso. Quis saber minha trajetória, qual era minha expectativa. Me perguntou: ‘Por que você, pessoa da roça, mulher, tem essa coragem de enfrentar tudo isso?’. Foi quando respondi: ‘O senhor também é nordestino, pernambucano, e é presidente. Por que eu não poderia mudar de vida?”. Na hora, as lágrimas vieram aos olhos dele”, lembra.
Nome sujo
“Quando a obra estava bem mesmo, começaram a demitir um monte de gente, acho que em 2011. Cheguei ao ponto de servir três refeições só para manter o negócio. Hoje não tenho compromisso com nenhuma empresa. Elas estão voltando, mas ainda não consegui (contratos). Vendo mais para o pessoal da roça do que da transposição. Isso quando aparece cliente. Eu, que investia todo dinheiro que entrava –comprava mesas, freezers, balcão de lanche, panelas enormes–, hoje estou com o nome sujo na praça. Levei muito calote. Isso foi o pior de tudo”, lamenta.
Ela informa que sua dívida é de R$ 60 mil, mas já foi de R$ 100 mil. “Quase perdi o carro. Tenho dívida grande de energia e temo que cortem a luz. Faço faculdade de pedagogia, mas não estou conseguindo pagar (a mensalidade de R$ 150). Não vendi nada do que comprei, na expectativa (de retomada das obras). Vou esperar até o próximo ano. Em 2014, com eleição, quem sabe as coisas andam. Se até junho nada acontecer, não acontece mais. Já tive oito funcionários. Hoje tenho uma, por pena, porque ela começou comigo”.
Fé e luto
Quanto ao futuro, Eliane mostra-se sem muita convicção. “Às vezes acho que a transposição vai dar certo. Às vezes, que vou precisar de ajuda. Tenho muita fé em Deus, mas tem hora que dá desespero. Entrei em depressão e tomo remédio controlado. Não consigo botar a cabeça no travesseiro. Em 2010 abortei por estresse. Estava grávida de três meses. Sempre tive orgulho de ser honesta, de ter o nome limpo. Agora, chego numa loja e tenho que comprar em nome de outra pessoa. Não tenho mais cheque, cartão de crédito. Não tenho mais nada”, desabafa. (Fonte/foto: Folha de SP)
Eu conheci a Dona Eliane, gente finíssima, trabalhava em uma empresa do Consorcio, era administrativo da Obra,
SAUDADE DAQUELE TEMPO WANDER.