O poeta Odilon Filho nos envia este belo cordel, demonstrando sua posição contrária à transposição de águas do Rio São Francisco.
Na verdade, o cordel é uma resposta de Odilon a um poeta que subiu no palanque do presidente Lula em Cabrobó, Sertão do São Francisco, por ocasião da visita deste ao município, no mês passado. Boa leitura!
Rio da Vida (Cordel)
Escutei de um poeta
Que o Velho Chico vai cortar,
Terras sertanejas e muita gente ajudar.
Vou lhe replicar em versos sinceros
De um jovem que acredita,
Que antes de transpor, precisa revitalizar o rio da vida!
Rio que mata a sede pode ficar na secura,
Por causa de uma obra obscura e politiqueira
A vida é muito maior que essa porqueira,
Que muitos querem se beneficiar.
Quantos jogaram pedras é um homem que apareceu do nada,
Deu risco sua vida e enfrentou uma batalha.
Levantou a bandeira da vida pra enfrentar essa guerra
Em terra que a seca inferna,
Que a botija que mata a sede.
Desse jeito até o verde que nas margens dele é rico.
Quer fazer de cimento um piso
Para água passar,
Quem já viu margens de pedra alguma planta ficar?
Como é que o coitado do jumento vai poder beber da água
Que se chegar perto da margem vai escorregar dentro d’água,
E a sede que ele iria matar
Num teve saída e no rio de cimento a se afogar.
Mas pra o Doutor Presidente lhe peço uma desculpa!
O Senhor precisa de uma lupa pra pode enxergar,
Enxergue enquanto é tempo não pense só no seu bolso
Comece a furar poço e mude essa história,
Que a vida pede tanto essa vitória.
Em obras de Deus não se mexe
Pare obra a que o povo esquece,
E tente outra solução, dê uma boa desculpa!
E ajude essa nação.
Odilon Filho
Pense num caba por fora da realidade esse poeta. Arrieégua, chega a ser leviano…
Caro Carlos Britto,
Esse texto pode ser qualquer coisa, menos Literatura de Cordel. Há, na composição, uma mistura de sextilhas (estrofe de 6 versos) com quadras (estrofe de 4 versos) e quintilha (estrofe de 5 versos), revelando total disparidade em relação a tradiconal composição do cordel; que pode ser em sextilhas ou décimas, sendo a primeira a mais utilizada por todos os renomados cordelistas.
Ademais, há uma verdadeira “babel” em relação à métrica: a medida tradicional dos versos na literatura de cordel é sete sílabas poéticas, seja na sextilha ou na décima. No citado texto apenas o 1º e o 5º versos da primeira estrofe, estão de acordo com a regra, o que também ocorre no 4º verso da terceira estrofe.
Daí por diante, se formos escandir todo o texto, identificaremos medidas variadas, com até 17 sílabas poéticas em um único verso, como é o caso de “O/ Se/nhor/ pre/ci/sa/ de/ u/ma/ lu/pa/ pra/ po/der/ en/xer/gar”. Versos como esse, é denominado heterométrico, haja vista apresentarem um grande variação de medida.
Quanto às rimas, agridem os ouvidos dos poetas parnasianos, que cultivavam o preciosismo nas rimas raras e ricas e buscavam a perfeição formal do poema. O texto apresenta uma heterogeneidade nas rimas. Convivem no poema, rimas emparelhadas, misturadas e versos brancos ou livres, descaracterizando-o em relação à literatura de cordel.
Não pretendemos com essa breve análise, desclassificar a criatividade e o dom poético do autor, mas não podemos aceitar que a produção seja classificada como LITERATURA DE CORDEL. Em outras palavras, trata-se de um poema (está composto em estrofes) livre e de versos brancos.
Outrossim, em relação ao poeta que se apresentou em Cabrobó, trata-se de Antonio Marinho do Nascimento, (meu conterrâneo) de São José do Egito, filho de Zeto e Bia Marinho, neto de Lourival Batista ( O rei dos trocadilhos), bisneto de Antonio Marinho (um dos maiores repentistas nordestino) e sobrinho de Otacílio Batista (autor de “Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor”) e de Dimas Batista (extraordinário repentista, foi advogado e professor universitário no Ceará).
Concordo com tudo que o Paulo escreveu, o caboclo entende mesmo de Literatura de Cordel, acho que ele deve escrever também, publica aí macho!!!
ÓÓÓÓÓÓdilon… poeta???
Muito bem, Robério, excelente explicação.
Literatura de Cordel não é só escrever um monte de palavras e mandar para a internet, onde chega até a ser chamado de “Belo Cordel”, vixe Maria.
Nada contra Oldilon, vc tem talento, está começando como se vê, mas sua obra foi inflacionada pelo blog.
Colocar seus versos em “desafio” ao poeta Marinho é subestimar a literatura de Cordel e a inteligência de quem conhece a poesia nordestina e o Marinho, um dos maiores poetas da nova geração.
O último parágrafo do Robério disse tudo.
Prezados leitores, que deste blog acompanham a vida de toda região. Não tenho nada contra as críticas ao governo Lula, mas, quem assistiu o poeta Antonio Marinho em Cabrobó teve a oportunidade impar de ver o verdadeiro espetáculo em forma de cordel e não esse amontoados de palavras sem nexo . Gostaria de externar os mais sínceros votos de agradecimento ao Paulo Robélio pela aula de literatura e esclarecimento do que um cordel.
Parabéns, Odilon… a Transposiçao vai colocar Lula ao lado de homens públicos do quilate de Hitler, Mussolini.
É a ditatura do lulismo. Agora até fazer poesia tem que seguir as regras do Estado. É muita hipocrisia desses pseudoscomentadores.
Parabens Odilon Filho, realmente seu texto retrata o sentimento de uma pessoa que vive a realidade da nossa terra, que diz com poucas palavras a real situação dessa obra faraonica que veio para beneficial os grandes, pois por aqui mesmo na beira do rio muitas pessoas sofrem com a sede, enquanto muitos sairão com suas contas bancarias abarrotadas com o dinheiro do povo, e prestem atenção, não é pouco. Notei que a materia causou uma certa discussão por
conta da palavra CORDEL, pois ai apareceram os defensores do grande poeta e repentista Antonio Marinho que veio com certeza abrilhantar com seus versos, a passagem do Presidente Lula por Cabrobó, e ainda ganhar uns tracados que é justo. Isso é que é união, o pessoal da terra do berço da poesia de cordel, São José do Egito, entrou logo em defesa do patricio Antonio Marinho, más abriu uma boa oportunidade para se aprender sobre literatura de cordel com o professor Paulo Robério.
Fernando, tus és ignorante pra caramba.
Visualizo o rio da unidade
Com água pra beber e irrigar
Com o Velho Chico pujante
E levando mais água ao mar
Mais árvores nas suas margem
Mais peixes em todo lugar
O meu rio revitalizado
Correndo como era outrora
Sem esgotos prá dentro dele,
Águas limpas e com melhora
Para a vida dos ribeirinhos
E pros nordestinos de fora
Antevejo o rio da vida
Matando a sede e a secura,
Em razão de grande obra
Que o homem fez bem segura
Levando água ao meu povo
Límpida, farta e muito pura
A vida é um fardo leve
Quando se quer ajudar
Quando se pensa nos outros
E não em se beneficiar
Nem jogar pedras naqueles
Que se dispõem a trabalhar
Na vida trava-se batalhas
Ao final vence o homem a guerra
Se quando a chuva escasseia
Seca e árida fica a terra
Trabalhando o homem com garra
Tem o tesouro que ela encerra
Nas margens do Velho Chico
Um novo verde encantador
E cada canal de cimento
Tal qual um fio condutor
Transportando água da vida
Como um bálsamo redentor
E o jumento nosso irmão
A cabra, a ovelha, o bezerro
Comendo pasto à vontade
Bebendo a água sem erro
Homens com água e alimento
Livres de um triste desterro
Deus confiou seu mundo
Ao homem trabalhador
Que sendo um servo fiel
Cumpre bem o seu labor
O mundo é obra de Deus
O homem o seu zelador
Assim, Doutor Presidente
Dou-lhe vivas e parabéns
O Senhor enxergou longe
E com a coragem que tens
Mudou a historia de povos
Que não serão mais reféns.