Em mais um artigo, a advogada e colaboradora deste Blog, Simone Duque de Miranda, fala sobre a questão da corrupção no País. Segundo Simone, “o corrupto sabe de todos os caminhos, conhece o universo que atua, e só um profissional capacitado, que também possua esse conhecimento, poderá fazer-lhe frente”. Para combater essa prática, de acordo com a advogada, é preciso ter “postura técnica, aliada a uma grade de valores morais nítidos.”
Acompanhe o artigo na íntegra:
Técnica e ética
“A crise no Brasil é uma crise moral. Quando esta se resolver, se resolverão todas as outras”.
Desde muito jovem ouvia meu pai fazer essa afirmação. Afinal de contas somos um país onde a corrupção faz parte da nossa forma de viver. Somos um bom povo, mas ainda imaturo e imediatista demais para saber esperar ver o esforço valer a pena.
Todavia, o que se tem visto nos últimos dias é o impensável, e por isso mesmo, inaceitável. Mesmo para um povo familiarizado com a corrupção. Isso não era mais para estar acontecendo, não nos dias de hoje, não com o nível de civilidade que já conseguimos ter enquanto nação.
Não restam dúvidas sobre o que fazer em um caso como o da Petrobras: apurar e punir, independentemente do que se tenha que apurar, o quanto se precise punir, e o mais importante, a quem se precise punir.
Mas o que fazer diante das “corrupções” do nosso cotidiano? Do nosso trabalho? Dia desses, um estagiário me questionou isso. Você é honesta, disse-me ele. Sei disso! Mas como conviver com a desonestidade?
A primeira coisa que me veio à mente foi a ideia de capacidade de trabalho, domínio completo do que se propõe a fazer. O corrupto sabe de todos os caminhos, conhece o universo que atua, e só um profissional capacitado, que também possua esse conhecimento, poderá fazer-lhe frente, e muitas vezes sem a necessidade de contraposição. Apenas com a força e a humildade de quem quer acertar.
Essa postura técnica, aliada a uma grade de valores morais nítidos, costuma ser devastadora. Nem sempre de forma imediata, mas com certeza deixa amarras bem fincadas.
Sei que existem muitos outros aspectos, e que a elevação moral capaz de tornar obsoleta a corrupção está longe de existir. Entretanto, esse é um passo que já podemos dar e depende, tão somente, de cada um de nós.
É alentador perceber isso, diminui nossa sensação de impotência e indignação e nos tira um pouco do papel de vítimas nos fazendo ver, que de alguma forma podemos mudar a nossa história.
Simone Duque de Miranda/Advogada