Morre aos 95 anos Dom Paulo Evaristo Arns

por Carlos Britto // 14 de dezembro de 2016 às 11:50

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Morreu nesta quarta-feira (14) o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina em decorrência de uma broncopneumonia. Arns estava com 95 anos.

D. Paulo foi internado no dia 28 de novembro para tratar de problemas pulmonares.

Com o passar do dia o estado de saúde piorou e ele teve de ir para a UTI por causa de dificuldades na função renal.

O comunicado da morte de Anrs foi feito em nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo.

O arcebispo metropolitano, Dom Odilo Scherer, afirmou em nota que Arns “entregou sua vida a Deus, depois de tê-la dedicado generosamente aos irmãos neste mundo”.

Vida e trajetória

Quinto de 13 filhos de imigrantes alemães, Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina. Ingressou na Ordem Franciscana em 1939, e iniciou seus trabalhos como líder religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado.

Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Teve uma atuação marcante na zona norte da cidade, região em que desenvolveu inúmeros projetos voltados para a população de baixa renda. Em julho deste ano, foram celebrados os 50 anos de sua ordenação episcopal.

Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já.

Ganhou projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini.

No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros que estavam sendo pressionados pelo regime militar.

Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.

Presidiu celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da Ditadura Militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 75.

Atuou contra a invasão da PUC em 1977, em São Paulo, comandada pelo coronel Erasmo Dias, à época secretário de Segurança, e a operação para entregar ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de desaparecidos políticos.

Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi “salvo duas vezes” por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.

Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários.

Em 1985, criou a Pastoral da Infância, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.

Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu 1200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2000 comunidades eclesiais de base (CEBs) na capital paulista.

Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.

Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo. (fonte: G1-SP/foto reprodução)

Morre aos 95 anos Dom Paulo Evaristo Arns

  1. Arnaldo Ribeiro disse:

    A MORTE NÃO EXISTE
    A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução.

    Para além da campa, abre-se uma nova fase de existência.
    O Espírito, debaixo da sua forma fluídica, imponderável, prepara-se para novas reencarnações.

    Acha no seu estado mental os frutos da existência que findou.

    Por toda parte se encontra a vida. A Natureza inteira mostra-nos, no seu maravilhoso panorama, a renovação perpétua de todas as coisas.

    Em parte alguma há a morte, como, em geral, é considerada entre nós:
    Em parte alguma há o aniquilamento; nenhum ente pode perecer no seu princípio de vida, na sua unidade consciente.

    O Universo transborda de vida física e psíquica.

    Por toda parte o imenso formigar dos seres, a elaboração de almas que, quando escapam às demoradas e obscuras preparações da matéria, é para prosseguirem, nas etapas da luz, a sua ascensão magnífica.

    A vida do homem é como o Sol das regiões polares durante o estio. Desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante por baixo do horizonte.

    É o fim, na aparência; mas, logo depois, torna a elevar-se, para novamente descrever a sua órbita imensa no céu.

    A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências; mas, basta esse instante para revelar-nos o sentido grave e profundo da vida. A própria morte pode ter também a sua nobreza, a sua grandeza.

    Não devemos temê-la, mas, antes, nos esforçar por embelezá-la, preparando-se cada um constantemente para ela, pela pesquisa e conquista da beleza moral, a beleza do Espírito que molda o corpo e o orna com um reflexo augusto na hora das separações supremas.
    A maneira por que cada qual sabe morrer é já, por si mesma, uma indicação do que para cada um de nós será a vida do Espaço.

    Há como uma luz fria e pura em redor da almofada de certos leitos de morte. Rostos, até aí insignificantes, parecem aureolados por claridades do Além.

    Um silêncio imponente faz-se em volta daqueles que deixaram a Terra. Os vivos, testemunhas da morte, sentem grandes e austeros pensamentos desprenderem-se do fundo banal das suas impressões habituais, dando alguma beleza à sua vida interior.

    O ódio e as más paixões não resistem a esse espetáculo. Ante o corpo de um inimigo, abranda toda a animosidade, esvai-se todo o desejo de vingança. Junto de um esquife, o perdão parece mais fácil, mais imperioso o dever.

    Toda morte é um parto, um renascimento; é a manifestação de uma vida até aí latente em nós, vida invisível da Terra, que vai reunir-se à vida invisível do Espaço.

    Depois de certo tempo de perturbação, tornamos a encontrar-nos, além do túmulo, na plenitude das nossas faculdades e da nossa consciência, junto dos seres amados que compartilharam as horas tristes ou alegres da nossa existência terrestre.

    — A tumba apenas encerra pó.
    Elevemos mais alto os nossos pensamentos e as nossas recordações, se quisermos achar de novo o rastro das almas que nos foram caras.

    Não peçais às pedras do sepulcro o segredo da vida.
    Os ossos e as cinzas que lá jazem nada são, ficai sabendo.

    As almas que os animaram deixaram esses lugares, revivem em formas mais sutis, mais apuradas. Do seio do invisível, onde lhes chegam as vossas orações e as comovem, elas vos seguem com a vista, vos respondem e vos sorriem.

    A Revelação Espírita ensinar-vos-á a comunicar com elas, a unir os vossos sentimentos num mesmo amor, numa esperança inefável.

    Muitas vezes, os seres que chorais e que ides procurar no cemitério estão ao vosso lado.

    — Vêm velar por vós aqueles que foram:

    O amparo da vossa juventude,
    Que vos embalaram nos braços,
    Os amigos, companheiros das vossas alegrias…

    E das vossas dores, bem como todas as formas, todos os meigos fantasmas dos seres que encontrastes no vosso caminho, os quais participaram da vossa existência e levaram consigo alguma coisa de vós mesmos, da vossa alma e do vosso coraçã
    Ao redor de vós flutua a multidão dos homens que se sumiram na morte, multidão confusa, que revive, vos chama e mostra o caminho que tendes de percorrer.

    Ó morte, ó serena majestade!

    Tu, de quem fazem um espantalho, és para o pensador simplesmente um momento de descanso, a transição entre dois atos do destino, dos quais um acaba e o outro se prepara.

    Quando a minha pobre alma, errante há tantos séculos através dos mundos, depois de muitas lutas, vicissitudes e decepções, depois de muitas ilusões desfeitas e esperanças adiadas, for repousar de novo no teu seio, será com alegria que saudará a aurora da vida fluídica.

    Será com ebriedade que se elevará do pó terrestre, através dos espaços insondáveis, em direção àqueles a quem estremeceu neste mundo e que a esperam.

    Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente.

    Para nós, ela é a hora bendita em que o corpo cansado volve à grande Natureza para deixar à Psique, sua prisioneira, livre passagem para a Pátria Eterna.

    Essa pátria é a Imensidade radiosa, cheia de sóis e de esferas.

    Junto deles, como há de parecer raquítica a nossa pobre Terra. O Infinito envolve-a por todos os lados. O infinito na extensão e o infinito na duração, eis o que se nos depara, quer se trate da alma, quer se trate do Universo.

    Assim como cada uma das nossas existências tem o seu termo e há de desaparecer, para dar lugar a outra vida, assim também cada um dos mundos semeados no Espaço tem de morrer, para dar lugar a outros mundos mais perfeitos.

    Dia virá em que a vida humana se extinguirá no Globo esfriado. A Terra, vasta necrópole, rolará, soturna, na amplidão silenciosa.

    — Hão de elevar-se ruínas imponentes nos lugares onde existiram:

    Roma,
    Paris,
    Constantinopla,
    Cadáveres de capitais,
    Últimos vestígios das raças extintas,
    Livros gigantescos de pedra que nenhum olhar carnal voltará a ler.

    Mas, a Humanidade terá desaparecido da Terra somente para prosseguir, em esferas mais bem dotadas, a carreira de sua ascensão. A vaga do progresso terá impelido todas as almas terrestres para planetas mais bem preparados para a vida.

    É provável que civilizações prodigiosas floresçam a esse tempo em Saturno e Júpiter; ali se hão de expandir humanidades renascidas numa glória incomparável.

    Lá é o lugar futuro dos seres humanos, o seu novo campo de ação, os sítios abençoados onde lhes será dado continuarem a amar e trabalhar para o seu aperfeiçoamento.

    No meio dos seus trabalhos, a triste lembrança da Terra virá talvez perseguir ainda esses Espíritos; mas, das alturas atingidas, a memória das dores sofridas, das provas suportadas, será apenas um estimulante para se elevarem a maiores alturas.

    Em vão a evocação do passado, lhes fará surgir à vista os espectros de carne, os tristes despojos que jazem nas sepulturas terrestres.

    A voz da sabedoria dir-lhes-á:
    “Que importa as sombras que se foram! Nada perece”.

    “Todo ser se transforma e se esclarece sobre os degraus que conduzem de esfera em esfera, de sol em sol, até Deus”.

    Espírito imorredouro, lembra-te disto:
    “A morte não existe”.
    Leon Denis – Do livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
    Forum Espírita – Maio/2015

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