Quase dois meses após a criação de uma Comissão Especial de Inquérito na Casa Plínio Amorim para apurar os óbitos de gestantes e bebês ocorridos nas dependências do Hospital Dom Malan (HDM), em Petrolina, os primeiros resultados começam a aparecer. Ao Blog o presidente da comissão, vereador Ronaldo Cancão (PTB), informou que até o momento oito pessoas já foram ouvidas – incluindo o delegado Daniel Moreira, o qual foi acionado para investigar os casos, além do representante do HDM e de alguns familiares que perderam seus parentes na unidade médica.
Uma dessas vítimas foi Gislaine Lopes, de 21 anos. A jovem, que veio de Remanso (norte da Bahia), deu entrada no HDM no dia 2 de outubro de 2017 para ter seu bebê, mas acabou morrendo oito dias depois por um quadro de infecção generalizada. Outro fato que comoveu a população foi a trágica morte da adolescente Miliam Carvalho da Silva, de 15 anos. Grávida de cinco meses, ela também teve um quadro grave de infecção, no início de maio deste ano, vindo a falecer. A família de Miliam acusou, na ocasião, o hospital de negligência médica.
A repercussão do caso ecoou na Casa Plínio Amorim. Pressionados pelo clamor popular, os vereadores se mobilizaram e solicitaram à Mesa Diretora a instalação da comissão especial suprapartidária. Além de Cancão, também fazem parte os vereadores Gilmar Santos (PT), Gabriel Menezes (PSL), Rodrigo Araújo (PSC), Paulo Valgueiro (MDB) e Ronaldo Silva (PSDB).
Cancão revelou que o levantamento feito pela comissão especial, com base nos inquéritos aos quais os vereadores tiveram acesso, aponta para “um conjunto de falhas e erros”, a ponto de a Polícia Civil (PC) tomar a frente da situação. Ele adiantou, inclusive, que o delegado Daniel Moreira já pediu a exumação do corpo de Miliam. Ele informou que o pedido está nas mãos da justiça. A comissão, segundo o presidente, irá fazer uma visita ao juiz responsável, até a próxima segunda-feira (16), solicitando celeridade nesse processo.
Ele frisou que Gislaine também poderá ser exumada, porque “há um conflito nos relatórios médicos” referentes à causa da morte da jovem, uma vez que ela seguiu rigorosamente todas as regras recomendadas a uma gestante. A afirmação foi reforçada por um dos integrantes da comissão, Rodrigo Araújo. “No prontuário tem um médico que cita que ela deveria ter feito uma cirurgia, mas não sei o motivo por que a cirurgia não foi feita, segundo a família, e daí ela partiu para uma infecção”, declarou.
Cremepe
Cancão disse ainda que a comissão convidará, na próxima segunda, um representante do Conselho Regional de Medicina (Cremepe). A intenção é ouvir a entidade sobre os inquéritos instaurados da PC. “O que chegou ao Cremepe? Qual foi o posicionamento tomado pelo Cremepe em relação a algum médico? Qual o tratamento relacionado entre o Cremepe e o HDM/Imip?”, indagou. O presidente ressaltou que os convidados podem se recusar a prestar esclarecimentos, o que ainda não aconteceu. Mas se ocorrer, ele frisou que encaminhará a questão aos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
Mesmo vista inicialmente com descrença pela sociedade petrolinense, Cancão disse que a comissão está cumprindo seu papel. “O trabalho realizado ajudará o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Civil (PC) a trazer fatos novos”, pontuou.
Otimismo
O número de mortes de gestantes e bebês no HDM, segundo o presidente, é elevado, mas as denúncias à polícia só foram feitas até agora por cinco famílias. Tia de Gislaine, Edilaine Barreto Lopes se mostra otimista quanto ao resultado da comissão, e pede aos parentes das vítimas para não se calarem. “Quem viveu ou está vivendo essa situação, é preciso denunciar. Os vereadores não podem fazer nada sozinhos. Não podemos ficar com medo, porque se a gente ficar com medo mais pessoas podem morrer”, completou. Sobre as declarações de Cancão, a reportagem entrará em contato com a assessoria do hospital.