Uma jornada de trabalho que se estende por, pelo menos, dez horas diárias somada a condições precárias, além de baixa remuneração. Este é o dia a dia de aproximadamente 230 mil homens e mulheres que trabalham como catadores de materiais recicláveis no país. A combinação torna a saúde dessa parcela da população vulnerável a diversos riscos.
A constatação faz parte de um estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A autora da pesquisa, a bióloga Jandira Aureliano de Araújo, ex-aluna do mestrado em saúde pública da Fiocruz Pernambuco, afirma que a “invisibilidade pública” a que são submetidos esses trabalhadores tem como consequência uma autoestima prejudicada e o descuido com a saúde.
Para realizar a pesquisa, ela acompanhou durante cerca de um ano a atividade de catadores da comunidade de São José do Coque, no Recife (PE), onde vivem cerca de 1,8 mil pessoas.
Segundo ela, essas pessoas reclamam que ficam à margem da sociedade, que muita gente até se assusta quando os vê revirando latas de lixo próximas a pontos de ônibus, por exemplo, procurando alguma coisa que possa ser reciclada.
“Por isso, embora percebam os riscos aos quais estão expostos por conta do seu trabalho, eles quase não tomam atitudes preventivas, como o uso de equipamento de proteção”.
De acordo com a bióloga, entre as explicações citadas estão a falta de dinheiro para comprar luvas, botas e máscaras e o desconforto que o uso desse tipo de equipamento causa.
“A preocupação maior é trabalhar, é ter aquele dinheirinho garantido, porque para eles o risco de morrer de fome é maior”.
Jandira alerta que esses profissionais enfrentam riscos sérios, já que é comum encontrar entre os entulhos objetos cortantes ou contaminados, como lixo hospitalar.
Na comunidade observada, os catadores ganham de R$ 30 a R$ 50 por semana com a venda do material coletado. Por um quilo de papelão, eles recebem de R$ 0,10 a R$ 0,15.