Nesta sexta-feira (2 de agosto) o povo nordestino renderá homenagens pelos 30 anos de morte do eterno Rei do Baião Luiz Gonzaga. Neste artigo, o jornalista e pesquisador Ney Vital lembra desse fato fazendo um alerta.
Confiram:
A voz forte de Luiz Gonzaga ainda ecoa, dirigindo-se para as autoridades, para denunciar o descaso, a burocracia que seguram e impedem a velocidade de fazer um turismo e setor cultural gerador de emprego e renda.
Infelizmente mais uma vez temos que vir a público denunciar o descaso que o Governo Federal e o Estado de Pernambuco têm com aquele que deveria ser um dos principais Patrimônios da Cultura: Luiz Gonzaga e sua sanfona.
É a voz de Luiz Gonzaga ainda forte, a fonte maior de sua força social e “a bandeira do sertão nordestino em que tremula o Brasil inteiro”.
É triste e assustador, mas é desafiante saber que estamos na semana da celebração da data de morte de Luiz Gonzaga, 02 de agosto, e assistimos o pouco caso dos Governos. Para onde está caminhando a Política Cultural brasileira?
Este assunto evoca os versos de uma canção: “Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim / Digo num velho baú de prata porque prata é a luz do luar”. Este baú é como um museu pessoal, o museu que todos temos, feito de lembranças, quinquilharias e reminiscências que alimentam o nosso presente. Como todos os museus pessoais, o da canção tem “qualquer coisa” que vai além do “eu”.
Gilberto Gil, ex-ministro da cultura, disse que há um momento e um território em que o canto da memória se encontra com outras memórias e outros cantos. E se transforma a partir dos encontros feitos. Os museus de pedra e cal e os museus virtuais são baús abertos da memória afetiva da sociedade, da subjetividade coletiva do país, da soma dos museus pessoais.
É preciso que o Museu do Gonzagão se mantenha vivo e pulse, consagrando o jogo de tradição e invenção que dialeticamente marca a construção da cultura brasileira.
O Museu de Luiz Gonzaga em Exu tem cheiro de vida e nele está o alimento, a raiz da música mais brasileira inspirada no toque da sanfona de Luiz Gonzaga, de seus compositores e seguidores. E esta raiz remete ao cosmo (e ao caos) das musas.
O museu é a casa das musas. E não por acaso a musa da música tem lugar privilegiado no Templo das Musas, no museu das artes, no panteão das musas, que desde a mitologia grega são as inspiradoras de toda arte, de toda criação humana. Os museus abrigam o que fomos e o que somos. E inspiram o que seremos.
O Parque Asa Branca precisa ser visto como um lugar de criação, diálogo e preservação do aqui e do agora. Esta noção está na base dos esforços de todos que preservam a memória e história de Luiz Gonzaga.
Os museus são “pontos de cultura”. O Parque Asa Branca deveria cumprir um papel de referência e base para o futuro da cultura. O Museu Gonzagão significa música e poesia para os nossos corpos, mentes e espíritos.
O alerta é para que o pedido de Luiz Gonzaga não se perca no tempo: “Não deixem nosso forró morrer”.
Ney Vital/Jornalista e pesquisador
Carlos, parabéns pelo artigo. Sou cearense e fã incondicional do Luiz Gonzaga, aprendi com o meu pai um agricultor, nascido e criado na roça que passava a semana trabalhando mais que no fim de semana se divertia ao som das músicas do Luiz nas antigas radiolas. É muito bom que não deixemos isso morrer. A canção de ninar que cantava pro meu filho era : Riacho do navio, corre pro Pajeú, o rio Pajeú vai dispejar no São Francisco. Outra: Minha vida é andar por esse país pra se um dia me sinto feliz…. Quanta saudade.