Nem mesmo a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ancorada na promessa do combate à corrupção, alterou a percepção do brasileiro sobre este problema. Em 2019, o Brasil caiu uma posição no Índice de Percepção da Corrupção e ocupa a 106ª posição entre os 180 países avaliados. O pior resultado desde 2012.
O país está atrás de outros latino-americanos, como a Argentina (66ª), Chile (26ª), Colômbia (96ª), Cuba (60ª), Equador (93ª) e Uruguai (21ª). Elaborado pela ONG Transparência Internacional, o ranking atribui notas de 0 a 100 a países com base em pesquisas e relatórios sobre como o setor público é percebido por especialistas e executivos de empresas no que diz respeito à prática de corrupção. Até nações como Etiópia e Vietnã, que tinham colocação pior que a brasileira, conseguiram ultrapassar o Brasil nessa classificação. Isso indica que o novo governo, apesar do discurso, não adotou medidas que impactassem na percepção de que práticas corruptas, tais como abuso de poder, subornos e acordos secretos, tenham diminuído no país.
“O resultado reflete um ano de poucos avanços e muitos retrocessos na luta contra a corrupção no Brasil“, avalia Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil. Para ele, trata-se de prova de que “só discurso não é o suficiente“. “São necessárias medidas efetivas e coerência nas atitudes em todos os âmbitos“, afirma.
De acordo com o relatório, alguns episódios envolvendo até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF) podem ter contribuído para a má percepção. “A decisão do presidente do STF de suspender investigações que usavam dados do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, praticamente paralisou, durante metade do ano, o sistema de combate à lavagem de dinheiro do Brasil“, apontou.
Apesar do discurso anticorrupção, o próprio governo federal catapultou para baixo a nova colocação brasileira. Segundo a Transparência Internacional, no ano passado houve “um aumento das tentativas de interferência política do Palácio do Planalto nos órgãos de controle, com substituições polêmicas na Polícia Federal e Receita Federal, e nomeação de um procurador-geral da República fora da lista tríplice“.
Ficha limpa
Entre os poucos avanços citados, o relatório destaca o decreto do governo que exige ficha limpa para aqueles nomeados a cargos de confiança, um fortalecimento da Polícia Federal, que recebeu 1.200 novos agentes, e a recomposição das equipes dedicadas à Lava Jato em Curitiba, Rio e Brasília. Na visão do diretor Transparência Brasil, essa percepção só deve mudar, de fato, quando o poder público assumir reformas ambiciosas que possam tornar mais transparentes e confiáveis as suas ações. “Aqueles países melhores posicionados no ranking são historicamente os mais democráticos. Os autoritários estão lá embaixo”, ressaltou Bruno Brandão. (Fonte: Folhapress)