Trabalhadoras e trabalhadores da hortifruticultura do Vale do São Francisco (VSF) – que compreende municípios da Bahia e de Pernambuco – se mobilizam por mais um ano na 28ª campanha salarial da categoria, juntamente com a Contar, as federações dos dois Estados e os sindicatos das bases. Desde fevereiro último, os profissionais vêm se reunido com a bancada patronal no intuito de reivindicar melhores condições de trabalho e salários que lhes possibilitem alimentar suas famílias e sustentar seus filhos e filhas.
Atualmente, 100 mil famílias trabalham no setor na região. A atividade econômica tem movimentado milhões de reais anualmente, sendo o Vale um dos principais produtores de manga e uva do Brasil, com foco na exportação. Em 2021, aquecidos pelo aumento da demanda mundial de frutas, os dois estados exportaram quase 321 toneladas de mangas e uvas frescas, gerando uma receita de 380,6 milhões de dólares, segundo dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (SECINT). Esse faturamento representa um aumento de 16,8% em relação ao ano de 2020.
Apesar do resultado, o patronato tem resistido às propostas da categoria, mesmo àquelas que não trarão impactos econômicos. Por outro lado, os sindicalistas alegam que o patronato apresenta cláusulas de regressão aos direitos das trabalhadoras e trabalhadores, como salário abaixo da inflação (com valor de R$ 1.230,00, um reajuste de 7,20% ou 71% da inflação da data-base); alterações no número de delegados(as) sindicais; ampliação do intervalo de idade para aplicação de agrotóxicos (de 45 para 60 anos, para o aplicador costal, e de 55 para 60, para o aplicador tratorista).
As entidades justificam que, sobretudo no atual cenário econômico, esse valor não consegue suprir a alta no preço dos alimentos, gás de cozinha e combustíveis. A categoria tem lutado para que seu salário seja pago até o 2º dia útil de cada mês, além do direito a um auxílio compras, no valor de R$ 220, e de um auxílio gás no valor de R$70.
A categoria deseja evoluir na negociação e ainda aposta na força do diálogo da Campanha Salarial. Mas, em razão das ameaças de retrocessos, as negociações foram temporariamente suspensas durante a sua 5ª rodada, neste mês, para ouvir a base e exigir respeito patronal na condução do processo. “Os trabalhadores e trabalhadoras da hortifruticultura, que não pararam em nenhum momento da pandemia, avaliam que, por serem centrais na produção de riquezas do setor, devem ser melhor reconhecidos(as) e valorizados(as)”, dizem os sindicatos.
Mesa
Participam da mesa de negociações a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados Rurais (CONTAR); Federações dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados Rurais de Pernambuco (FETAEPE) e da Bahia (FETAR); Sindicatos dos municípios de Abaré, Curaçá, Casa Nova, Juazeiro, Sobradinho (na Bahia); Belém do São Francisco, Inajá, Lagoa Grande, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista (em Pernambuco); Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese); Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras (CUT) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Interessante é que falam apenas na receita das exportações, porém esquecem dos custos de produção que nos últimos dois anos da pandemia aumentaram em alguns insumos mais de 100%.