O secretário de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia, Tum Torres, completou um ano no comando da pasta neste mês de janeiro. Com esse período de atuação no Executivo, o ex-deputado estadual traçou um panorama sobre as ações realizadas pela Seagri e projetou novos planos para o ano de 2024. Em entrevista ao Bahia Notícias, Tum também avalia que o maior gargalo na área da agropecuária é a distribuição de energia.
“Não só pela Seagri, mas pelo governo. Nós temos o maior gargalo que eu entendo que é a questão de energia. Infraestrutura, tanto a estrada como a energia. A energia mais um pouco porque o produtor consegue produzir sem ter uma estrada asfaltada porque ele acaba produzindo onde encontra água, onde encontra terra fértil, mas a questão da energia é hoje o maior gargalo que nós enfrentamos“, disse.
Durante a entrevista, o secretário também falou sobre as secas que atingiram a Bahia no ano passado, a crise econômica do sisal e as discussões sobre o agronegócio e a agricultura familiar. Confira abaixo na íntegra:
Secretário, tem um panorama dos trabalhos realizados pela Secretaria de Agricultura na Bahia?
A Seagri tem uma importância enorme para o estado da Bahia, 30% do PIB da Bahia vem da agricultura como um todo, tem o agronegócio, tem a agricultura familiar e a Bahia respira agricultura. Nós também temos a responsabilidade do fomento dessas atividades em todo o Estado. Temos 150 exposições agropecuárias que acontecem em todo o estado. Nós temos essa participação e incentivo do produtor com o governo do Estado, a responsabilidade de estar atraindo novos investimentos, trazendo empresas para o estado da Bahia e por exemplo nós temos uma referência muito grande na fruticultura, no algodão, em grãos, que eu sempre afirmo que a Bahia é o estado com maior potencial pra receber o agronegócio, porque nós temos clima favorável, nós temos muita terra disponível ainda, nós temos recurso hídrico. Tudo isso são fatores que colocam a Bahia em um estado em destaque em relação aos outros estados do Brasil. A Bahia respira agricultura, está em todos os municípios do estado da Bahia. Então a gente tem essa missão de fazer com que a Bahia cresça mais e também trazer novos investimentos aqui para nosso Estado.
Dentro desses planejamentos, qual foi o grande gargalo da agropecuária na Bahia, não só no ano passado, mas nos últimos tempos? Qual foi o principal desafio?
Não só pela Seagri, mas pelo governo. Nós temos o maior gargalo que eu entendo que é a questão de energia. Infraestrutura, tanto a estrada como a energia. A energia mais um pouco porque o produtor consegue produzir sem ter uma estrada asfaltada porque ele acaba produzindo onde encontra água, onde encontra terra fértil, mas a questão da energia é hoje o maior gargalo que nós enfrentamos. Não por conta de geração, porque são dois temas. As pessoas confundem, geração de energia a Bahia é o suficiente é um exemplo em todo o Brasil em relação à geração de energia. Nosso gargalo é a distribuição de energia, que foi o que nós tratamos no evento de Luís Eduardo Magalhães, a Bahia Farm Show, quando o presidente esteve aqui no Estado e pedimos que olhasse com mais atenção para a questão da distribuição de energia aqui do nosso estado. Já foi aberto um leilão depois desse momento dessa solicitação e nós estamos aguardando o Governo Federal abrir mais leilões para que a gente consiga resolver esse gargalo que é a energia porque para produzir precisa de energia, você tem que ter a energia na ponta para o produtor conseguir produzir.
Recentemente, no final do ano, a Bahia enfrentou o problema da seca em algumas regiões. Como a Seagri tem acompanhado situações como essa e como afetou diretamente o desenvolvimento agrário e o setor da pecuária na Bahia?
O Estado criou um grupo de trabalho para que a gente pudesse fazer um plano emergencial, de curto, médio e longo prazo. Algumas ações serão estruturantes que irão acontecer em 2024 e durante o mandato do governador Jerônimo. Mas foram algumas ações que foram emergenciais. Por exemplo, carro pipa…o Governo disponibilizou R$ 10 milhões para contratação de carros pipas. Teve por exemplo a entrega dos “pipinhas”, que você anexa no trator para que você consiga abastecer aquela comunidade pequena, aquela associação. Foram entregues 200 unidades, com um investimento de R$ 8,4 milhões. Nós entregamos 89 tratores, que dá algo em torno de R$ 14 milhões. Perfuração e instalação de poços também foram liberados R$ 20,6 milhões para perfuração e instalação de poços, sistema simplificado de água, e essa está em processo de licitação. Mas são 442 sistemas simplificados de água, que dá um investimento de R$ 230 milhões. Promoção e doações de alimentos, entrega de 34 mil cestas, R$ 4,4 milhões. Promoção e doações de alimento para consumo animal, entrega de 157.480 sacas de milho e implantação de 11 novos pontos de venda. E para esse tema tem um destaque: já foram contabilizadas mais de 150 mil mortes de animais. A nossa preocupação justamente é essa. Nós vamos fazer um trabalho de uma campanha conscientizando esses produtores a também fazerem uma reserva [de água] para que não aconteça isso. A convivência com a seca, o Estado já trabalha há mais de 16 anos. Mas a cada dia que passa aumenta mais o desafio e a gente entende que o governo tem que ser parceiro dos prefeitos.
Uma questão que também provoca muito debate é o embate entre o agronegócio, relacionado com a divisão com a agricultura familiar. Como está esse assunto atualmente no âmbito estadual?
A minha opinião é essa e eu falei isso em um evento onde o ministro do Desenvolvimento Agrário estava, e ele fez um comentário porque eu acho que a agricultura é uma só. Existe o pequeno produtor, existe o médio e existe o grande produtor. Na palavra agronegócio, se você for olhar é negócio do agro, então você pode ter um negócio de um hectare e pode ter um negócio de cem hectares, de mil hectares. O que muda vai ser só o tamanho e a forma de você vender, comercializar aquele produto. Geralmente quem trabalha com agronegócio comercializa, exporta. É o meu caso, eu sou exportador de uva e de manga. A minha produção é 100% exportação. Mas não existe uma diferença na forma de produzir. Eu acho que o que existe é que são negócios de tamanhos diferentes. Então, essa harmonia a gente vem buscando conversar. No final do ano teve o evento da feira da agricultura familiar. Um evento fantástico, onde a agricultura familiar deu um show no que produz. Nosso Estado é muito grande, a gente produz muita coisa na agricultura familiar e eu sou a favor de incentivar cada vez mais para que a agricultura familiar cresça. Eu não vejo divisão. O que existe é você ter um supermercado pequeno, que trabalha no bairro, e um atacadão que vende por um preço diferente e que vende em escala, mas não existe divisão, aos meus olhos eu não vejo divisão e apoio e acredito muito na agricultura familiar.
Outro assunto que aqueceu a ALBA em 2023 foi a crise na economia do sisal. O senhor foi inclusive chamado pela Assembleia para falar um pouco sobre isso. Quais medidas de fato serão adotadas?
A Comissão de Agricultura e a Secretaria de Agricultura, nós estivemos com o ministro da Agricultura para tratar do tema do sisal, conseguimos o preço mínimo e que o governo visse a importância que o sisal. Estamos reativando a câmara temática do sisal e ele está entrando no plano de desenvolvimento que a Seagri está fazendo. Estamos fazendo o primeiro plano de desenvolvimento da agricultura do Estado. E o sisal é um produto, uma cadeia produtiva que nós estamos tratando específico pelo potencial que tem. Geralmente gera muita renda, gera muito emprego, que é muito importante para o nosso Estado. Nós teremos uma pasta, uma pauta, uma câmara temática pra discutir toda a cadeia produtiva do sisal. É algo que a secretaria está trabalhando, tem um grupo de trabalho e estamos tratando desse tema como prioridade para que a gente consiga, no decorrer do ano, elaborar estratégias para poder avançar mais e tentar cobrir essas deficiências.
Principais ações, iniciativas e planos para 2024?
A Seagri está desenvolvendo o Plano de Desenvolvimento da Agricultura do Estado. É um diagnóstico, um extrato da agricultura do Estado inteiro, onde nós iremos mapear o que é produzido aqui hoje. Nós estamos fazendo um teste da Tâmara, que se adapta muito bem ao nosso clima e tem todo o potencial, é uma parceria junto com a Embrapa e com a Adab. Vou dar um exemplo: São Paulo não está conseguindo exportar limão porque a agência de defesa está impedida. Então, São Paulo não está conseguindo produzir limão e a Bahia está crescendo muito, e o número desses produtores que estão migrando pra Bahia para poder plantar limão e exportar. Dentro do plano da Bahia, nós vamos tratar sobre o meio ambiente, sobre a questão fundiária, sobre como a Bahia pode ampliar o que já produz. É um plano que a gente atinge todos os setores. Então, é uma visão estratégica para gente criar o esse mapa e publicar de forma com que o produtor pequeno conheça qual é a realidade da venda. Eu sempre digo que a venda é mais importante do que plantar, porque não adianta você plantar e vender barato, e vender para quem paga pouco. Tem que plantar e vender melhor. Por isso a criação dessas cooperativas e desse plano de desenvolvimento é muito importante pra que a gente oriente o produtor no cenário para o estado da Bahia.
(Fonte: Bahia Notícias)