A SINDUNIVASF, Seção Sindical dos docentes da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), expressou repúdio à proposta de doação de parte do terreno do Campus de Juazeiro-BA à Polícia Federal (PF). A proposta foi apoiada pelo Reitor, Prof. Télio Leite, durante uma reunião do Conselho Universitário (Conuni) realizada em 23 de fevereiro de 2024. A SINDUNIVASF criticou a presença de delegados da PF na reunião, alegando que isso causou constrangimento e intimidação. A entidade também questionou a viabilidade das contrapartidas oferecidas pela PF, que incluíam a priorização da Univasf para receber doações de itens apreendidos e o acesso da comunidade acadêmica a cursos e treinamentos oferecidos pela PF. A SINDUNIVASF argumentou que a doação do terreno, localizado em uma área nobre de Juazeiro, seria humilhante e incerta, e criticou a postura do reitor. A SINDUNIVASF não é contrária a presença da PF em Juazeiro, mas entende que não é justificável que esta instituição precise de terreno da Univasf para construção da sua sede.
Confira na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO DA ASSEMBLEIA DA SEÇÃO SINDICAL DOS/AS DOCENTES DA UNIVASF
A SINDUNIVASF, Seção Sindical dos/as docentes da Universidade Federal do Vale do São
Francisco (Univasf), repudia a atitude e fala do Reitor, prof. Télio Leite, que, em Reunião ordinária
do Conselho Universitário (Conuni), realizada no dia 23 de fevereiro de 2024, declarou apoio a
proposta da Polícia Federal (PF) para que a Univasf doasse parte do terreno do Campus da cidade
de Juazeiro-BA para a construção da sua sede. Além disso, o reitor, sem um aviso prévio, trouxe
delegados da PF para participar da reunião do Conuni, o que provocou nos conselheiros
presentes um sentimento de constrangimento e intimidação, uma vez que iriam debater o
assunto na presença dos interessados.
Ainda na reunião, o reitor se disse sensibilizado com a situação da PF que, segundo ele,
corria risco de ter a sua sede deslocada do município de Juazeiro para outras cidades, por falta
de um espaço para sua construção. Na ocasião, os delegados apresentaram as contrapartidas da
PF à universidade, que seriam basicamente: priorizar a Univasf para receber doações de carros,
equipamentos eletrônicos, balanças e drogas (com intuito de pesquisa) apreendidas, além de
possibilitar o acesso da comunidade acadêmica a cursos e treinamentos oferecidos pela
instituição policial.
Ou seja, a Univasf doaria parte de um dos seus terrenos mais nobres (centro/orla de
Juazeiro), comprado com recursos próprios, à PF na base de um tipo de escambo bem abstrato,
aleatório e humilhante. Na prática, estaríamos sendo financiados pelo crime organizado, ou
melhor, pela ação repressiva do estado contra o crime organizado. Humilhante ou não? Além de
toda incerteza que envolve este tipo de procedimento, uma vez que o material apreendido em
operações policiais não é tão facilmente e automaticamente liberado para ser doado a
instituições públicas, pois representa prova em processos judiciais. É ou não um acordo bem
obscuro e abstrato?
A postura entreguista do reitor (praticamente gratuita) ainda desconsidera o histórico de
opressão às universidades públicas do poder policial no Brasil. Não é preciso ir muito longe para
termos exemplos de ações violentas e autoritárias da polícia, incluindo a PF, dentro de
Universidades. Por exemplo, em 2018, policiais federais invadiram a Universidade Federal de
Campina Grande, às vésperas da eleição presidencial, para recolher o “Manifesto em Defesa da
Democracia e da Universidade Pública”, que foi aprovado em assembleia da seção sindical dos
docentes da instituição.
Na sua fala desastrosa, o reitor ainda deixou a entender que o campus de Juazeiro tinha
áreas não aproveitadas ou subutilizadas. Como um campus que não tem residência universitária,
que tem limitações de uso de salas e laboratórios, que não tem salas adequadas e individuais
para docentes, e que não tem área de convivência, pode ceder parte do seu terreno para outra
instituição? Vale considerar que o campus de Juazeiro fica às margens do Rio São Francisco, ou
seja, a área disponível para construções no local já é naturalmente limitada.
A SINDUNIVASF não é contrária a presença da PF em Juazeiro, mas entende que não é
justificável que esta instituição precise de terreno da Univasf para construção da sua sede.
Acreditamos que existem vários terrenos disponíveis da União no município, e que a prefeitura
de Juazeiro tem total interesse em manter a PF na cidade, podendo facilmente conseguir um
local para a construção da sua sede. Também lembramos que o Ministério da Justiça e Segurança
Pública, ao qual a PF é subordinada, é um dos poucos que tem seu orçamento mantido ou
aumentado nos últimos anos, diferentemente do Ministério da Educação, que tem seus recursos
cada vez mais limitados e que continuamente vem reduzindo o seu investimento nas
Universidades Públicas.
Sendo assim, a SINDUNIVASF é totalmente contrária à proposta de doação de parte do
terreno do campus de Juazeiro da Univasf à PF. A SINDUNIVASF defende, de forma irrestrita, que
a reitoria se esforce para garantir, no campus de Juazeiro, a construção de residências
universitárias, de salas individuais e adequadas ao trabalho docente, e de mais salas de aulas e
laboratórios para a expansão da Universidade no local, com a oferta de mais vagas e mais cursos
de graduação e pós-graduação. Também pedimos, encarecidamente, que a reitoria da Univasf
lute pela construção de espaços de convivência, que faltam em todos os campi da instituição.
Estes espaços são vitais para o desenvolvimento da universidade, especialmente para permitir a
troca de saberes e conhecimentos, a expressão do pensamento criativo e crítico e das
pluralidades. Tudo isto é totalmente incompatível com a presença simultânea de uma instituição
do aparato repressor estatal dentro/ao lado da universidade.
Assembleia da Seção Sindical dos/as Docentes da Univasf (Nota aprovada por unanimidade)
Se fosse pra colocar uma boca de fumo daria certo.