Abrindo a série de entrevistas realizadas pelo Blog com os candidatos a prefeito de Petrolina nas eleições 2016, a representante do PSOL, Maria Perpétua Rodrigues, destacou o “projeto diferenciado” proposto para o município em áreas consideradas prioritárias, a exemplo de saúde e educação.

Perpétua também enfatizou que seu governo será descentralizado, com políticas públicas destinadas a setores cruciais como mobilidade urbana e questões ambientais, como a preservação do Rio São Francisco. A candidata avalia que a atual administração tem pouco a comemorar e tachou Julio Lossio de “prefeito fecha-tudo”.

Confiram:

Blog do Carlos Britto – Por que a senhora aceitou o desafio de se candidatar a prefeita da maior cidade do Sertão?

Maria Perpétua Rodrigues – Primeiro pelo clamor que há em Petrolina pela necessidade de uma alternativa. O PSOL já vinha com o companheiro Rosalvo (Antonio) mostrando essa alternativa. E esse ano o PSOL resolveu lançar uma mulher. Hoje compomos uma frente de esquerda, que é o PCB e PSOL, e estamos aí para mostrar o nosso projeto, que é um projeto diferenciado, voltado para a descentralização da gestão, a democratização, a questão do ecossocialismo, E pela série de problemas que existem na nossa cidade, como o transporte, nós aceitamos esse desafio de concorrer nessa eleição.

Blog – Como o eleitor de Petrolina pode acreditar nessa proposta? O que vocês têm de diferenciado dos demais candidatos?

MPR – Primeira a gente vai investir nos bairros periféricos, porque é onde mais as políticas não são aplicadas. A questão do transporte público, que é privado e não oferece um serviço de qualidade para a população, e nosso projeto é garantir um transporte de qualidade com a perspectiva de tarifa zero, o que vai evitar que as pessoas usem seus carros, suas motos; vai evitar mais acidentes, mais poluição. E a questão da saúde pública, não só como assistência, mas uma saúde que venha a promover e proteger o cidadão petrolinense, além de habitação com qualidade, saneamento básico, a questão dos esgotos despejados no nosso Rio São Francisco; a educação pública, que não é de transformação, mas alienada e sem qualidade. É inadmissível a gente ver hoje uma sala com 40, 50 alunos. Não há condição de se ter um aprendizado com qualidade; a questão do meio ambiente, como coloquei, é um desafio para nosso projeto. Temos de nos articular com outras cidades ribeirinhas para que a gente proteja o nosso rio.

Blog – E como a senhora vê a prefeitura e a Compesa, trocando responsabilidades sobre o despejo de esgoto no rio?

MPR – Primeiro, quem administra a cidade é o prefeito. Ou seja, quem tem de dizer o que fazer é o município. Se existe responsabilidade da Compesa, existe também responsabilidade do município. Sobre a questão da municipalização, se fosse uma municipalização de fato…mas é camuflada, que vem com a privatização, e nós somos contra. Todo os serviços de relevância pública como educação, saúde, saneamento, água, tem de ser públicos, porque são bens públicos para o cidadão. E água é questão de vida. E as empresas privadas não vão se preocupar com a qualidade, muito menos com o cidadão que deixe de pagar sua conta. Acho também um absurdo a taxa de 50% da água que pagamos. Vamos ver também esse custo, porque os impostos são pagos, mas não existem os investimentos de retorno para a população?

Blog – A menina dos olhos do prefeito Julio Lossio, o ‘Nova Semente’, virou lei, nenhum prefeito pode mais acabar. Qual a sua proposta para melhorar ou ampliar o programa?

MPR – Primeiro, como já coloquei, a educação é uma educação de transformação. E segundo, a educação básica é de competência do município. O Executivo batizou como ‘Nova Semente’, mas são recursos que vêm para as creches, e essas creches tem de ser realmente implementadas em todos os bairros, para que os pais tenham onde deixar seus filhos de zero a sete anos, com sistema pedagógico, com acompanhamento de profissionais específicos para a área. E esse programa, que a gente vai deixar de chamar Nova Semente, e só de creches, tem de ser revisto, porque hoje os pais pagam uma taxa. E não é para pagar. O município tem de construir essas creches e de serem públicas, sem que haja despesas para os pais.

Blog – E como a senhora avalia o programa?

MPR – Tem pontos positivos, porque as mães hoje têm onde deixar seus filhos. Mas precisa ser regulamentado, como já foi aprovada a lei, fazer concurso público para que os profissionais sejam vinculados. Porque contrato temporário, hoje você está, amanhã não. Nós sabemos que existe até perseguições; uns trabalham seis, e outros oito horas.

Blog – A questão do trânsito também foi outro ponto bastante questionado nos dois governos do prefeito Julio Lossio. Tem gente que defende, por exemplo, mais construção de viadutos. Qual sua proposta para o setor?

MPR – Isso (viadutos) é uma necessidade de facilitar a mobilidade urbana. Mas se você tem um transporte público de qualidade, gratuito, no horário devido, sem que as pessoas precisem se estressar porque têm de sair mais cedo, vai desafogar o trânsito, porque as pessoas vão usar mais o transporte coletivo. Claro, que a gente não vai fazer isso de um dia para o outro. Tem que ter um planejamento. O pessoal comenta que a prefeitura é só revestimento, só botando asfalto…mas na realidade é só para mostrar que está fazendo alguma coisa. Faz um contorno, e em um ano ou dois vai lá e desmancha. Isso é falta de planejamento. Isso é recurso que é desperdiçado. Petrolina está crescendo e há uma necessidade de se fazer um planejamento na infraestrutura para a questão tanto da mobilidade, quanto do planejamento da habitação.

Blog – O prefeito foi eleito em 2008, e reeleito em 2012. Qual a avaliação da senhora sobre essa gestão?

MPR – Eu batizaria o prefeito como ‘prefeito fecha-tudo’. Fechou o Ceape, fechou o Lacen (Laboratório Central), o matadouro, que hoje temos aí as consequências. Tivemos ontem (domingo, 6) em Izacolândia e vimos a necessidade dos comerciários de carne. Trabalham num ambiente insalubre e estão trabalhando com carne clandestina porque forçam a isso. E nessa conversa com eles, eles disseram que não aceitam mais nem o carimbo de Lagoa Grande (PE); a privatização nos serviços de saúde, como a questão do laboratório, por exemplo. Antes nós tínhamos os exames de Raio X para os usuários do SUS, que eram públicos, e não temos mais. Então, de positivo, não vejo muita coisa, não, principalmente na saúde, onde eu trabalho. Existem os PSFs, as AMEs, mas o cidadão ainda sofre as consequências.

Blog – qual sua proposta para gerar emprego e renda?

MPR – Para incentivar a renda, pretendemos criar cooperativas, principalmente nos assentamentos, que tem uma grande quantidade de pessoas; investir na agricultura familiar para promover os produtos orgânicos e ver as empresas que existem no nosso município com incentivos para que possam realmente gerar emprego. Quanto às cooperativas, criaremos feiras artesanais para que as pessoas possam ter seus locais de venda para comercializarem os produtos que foram desenvolvidos nas cooperativas.

Blog – Na convenção do seu partido, a senhora destacou primeiro a chapa histórica na majoritária, com duas mulheres pela primeira vez. Depois uma, a senhora, representante da área urbana, e a outra, a vice Isabel, da área rural. Como vai se dar essa parceria?

MPR – A companheira Isabel Macedo vem da Pastoral da Diocese, tem um trabalho na questão rural, através do Sindicato (STR), e também em nível urbano ela participou de vários movimentos. Eu sou filha do campo, mas me criei na cidade, tenho história em movimentos, participei de vários Conselhos. Fui diretora e coordenadora de um sindicato em nível estadual. Visitei o Estado todo. Tenho o básico da saúde, sei que é possível porque temos municípios que funcionam com a gestão pública, sem privatizar os serviços. Tem a questão da segurança alimentar, que venho acompanhando porque participei de fóruns, Conselhos, congressos e conferências, e envolve saneamento básico, moradia, geração de emprego e renda, educação, lazer. Tudo isso me baseia de que é possível, nós estamos preparadas para assumir e fazer uma boa gestão e mostrar para Petrolina que a esperança continua, que ainda existem pessoas honestas e comprometidas com o coletivo.

Blog – Suas considerações finais.

MPR – Primeiro que Deus nos ilumine, nos dê sabedoria, e que ilumine cada eleitor e eleitora, para que no dia façam uma reflexão e apostem, acreditem que nós temos sim um projeto de governo para ontem, para hoje e para amanhã. Nós não queremos apenas um projeto de governo, mas um projeto de estado, no qual as políticas públicas sejam implementadas em curto e longo prazo.