Artigo: Considerações de um rio morto

por Carlos Britto // 02 de abril de 2012 às 11:28

O engenheiro agrônomo Malan Calazans lamenta a morte do Rio Salitre, um afluente do Rio São Francisco, que foi prejudicado pela construção de barragens sem os devidos critérios ambientais e pelo uso desenfreado de suas águas para a irrigação.

Confiram as explicações do especialista neste artigo:

CONSIDERAÇÕES SOBRE UM RIO MORTO – O SALITRE

Este afluente do S. Francisco não nasce na região do Pacuí, no município de Campo Formoso, como se apregoa, mas, na Chapada Diamantina, na localidade conhecida como Boca da Madeira, no município de Morro do Chapéu (porção norte da Bahia) e desemboca na comunidade Divina Graça (boca do Braço) em Juazeiro, à jusante da barragem de Sobradinho. Nasce com o nome inicial de Rio Tabuleiro.

São nove os municípios que compõem a bacia hidrográfica do Salitre:

Morro do Chapéu, Várzea Nova, Ourolândia, Umburanas, Miguel Calmon, Jacobina, Mirangaba, Campo Formoso e Juazeiro.

Seu sistema hídrico está morto, pois a existência de 35 barragens, construídas ao bel prazer dos donos de terra, sem nenhum critério técnico hidrológico, mas com forte apadrinhamento político, num pequeno curso do rio de pouco mais de 330 km, afetou grandemente sua vazão e decretou morte do Salitre.

Por outro lado, o uso desenfreado de suas águas na irrigação e com boa parte do seu leito impermeabilizado por resíduos oriundos da exploração de mármores, somados aos efluentes domésticos lançados em suas águas, contribuíram também para matá-lo.

Particularmente estivemos em uma dessas barragens, quando prestávamos serviços de consultoria/instrutoria para o Sebrae no município de Ourolândia. À época levamos ao conhecimento da sociedade esse assunto, através da rádio Juazeiro.

Segundo informações esta barragem de Ourolândia pertence a pessoas ligadas ao ex-prefeito de Jacobina, Dr. Carlito, político de grande expressão regional. Nesse período a Secretaria de Recursos Hídricos era ocupada por um político juazeirense.

Existe uma curiosidade interessante na entrada do Salitre no município de Campo Formoso, na localidade de São Tomé. Ali o rio resvala no subsolo, tornando-se um afluente subterrâneo, voltando ao seu leito a céu aberto, na região de Brejão da Caatinga. O Salitre, em Campo Formoso, tem um percurso em torno de 100 km.

Eis alguns afluentes do Rio Salitre: Pacuí- rio das Lages, riacho Tanquinho e da Piaba.

Um contingente populacional de 160.000 pessoas milita em torno do Salitre e grande parte desta população, cansada de clamar ao vento, tal qual carpideiras, chora a morte daquele que um dia produziu fartura.

Descanse em paz, bravo Rio Salitre.

Malan Calazans- engenheiro agrônomo

Artigo: Considerações de um rio morto

  1. Adriano disse:

    Pior que isso é saber que Juazeiro tem um diretorio do Partido Verde e seu políticos nenhuma bandeira levantam a favor do Rio São Francisco.
    Os integrantes do PV na região usam a sigla apenas para promoção política e benefícios próprios, não há nenhum empenho em defesa do Rio, dos pássaros nativos, caças etc …
    O sertão se degrada lentamente e os políticos só olham para seus umbigos.

  2. Joaquim Florencio Coelho disse:

    Ilustre amigo
    Dr. Malan.
    Eu já tinha um parco conhecimento sobre os impactos causados ao rio Salitre por conta da construção da Barragem de Sobradinho pela Companhia Hidrelétrica do S. Francisco-CHESF.Seu relato técnico sobre o rio Salitre deixou-me espantado e ao mesmo tempo indignado pela omissão da Cia.CHESF em relação ao meio ambiente do entorno da pequena bacia do mesmo.É inacreditável que a CHESF juntamente com governos municipais e estaduais e até o Federal não se importem com isso.O rio Salitre é um rio temporário e será de grande monta que a CHESF o resgatasse.Do contrário,os poderes constiutidos, os políticos com mandatos, as associações, etc..possuem a forma de protestar contra essa perda ambiental.Cordialmente Joaquim Florencio Coelho.

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