Neste artigo, o estudante de História Júlio César Britto Lima nos traz um pouco da tradição da Marujada, realizada no município de Curaçá (BA), uma das manifestações populares mais conhecidas do Sertão baiano.
Confiram:
A Marujada surgiu com uma iniciativa dos escravos, nas margens do Rio São Francisco em homenagem ao santo, aquele que é o maior símbolo de identidade dos negros escravizados, São Benedito. Este Santo foi assumido como sendo milagroso e grande protetor de suas causas.
Em Curaçá a sua importância cresceu tanto que suplantou os santos brancos, de tal maneira que é mais devotado que o padroeiro da cidade, Bom Jesus da Boa Morte. Em Curaçá os festejos em sua homenagem acontecem nos dias 30 e 31 de dezembro.
No dia 30 de dezembro acontecem a procissão e o hasteamento da bandeira de São Benedito. Todo mundo cantando, com veneração de crença forte, com velas acesas nas mãos, levando a bandeira. Os devotos se apressam para chegar na frente, para pagarem promessas, carregam o mastro com a bandeira até a Igreja Matriz.
No dia 31 de dezembro, vem o ponto alto da festa de São Benedito: a Marujada. A festa dos Marujos de Curaçá é a única manifestação popular local ligada à escravidão e que possui traços afro. Além do caráter folclórico, a marujada tem ainda toda uma simbologia relacionada à aspiração de liberdade.
A marujada mostra uma releitura da reconstrução cultural e artística popular de origem portuguesa com raízes africanas, que no sertão baiano encanta pela mistura da fé e o prazer profano em homenagem ao santo protetor dos negros, São Benedito.
Uma manifestação popular religiosa, que se transformou ao longo do tempo em tradição, acontecendo todos os anos desde do começo do século XX. Danças coreografadas, roupas iguais para todos, cantigas entoadas durante o trajeto denotam a vitalidade dessa tradição que se renova a cada ano.
A Marujada é uma das festas mais tradicionais de Curaçá, de fundo religioso e com mais de 200 Marujos. Muitos acompanham trajados de marujos, todos de branco, com chapéus enfeitados com fitas coloridas representando a alegria desta festa popular religiosa e de grandiosa tradição no sertão baiano. Todos pagando uma graça pela promessa feita a São Benedito.
Muitos desses marujos são representados por pessoas mais antigas, adolescentes e atualmente também representados por mulheres.
A Marujada exprime a cultura e tradição do povo de Curaçá e região, tanto pelas cerimônias festivas quanto pelos rituais religiosos. Essa celebração reafirma laços sociais e raízes que aproximam a sociedade, movimentam e resgatam lembranças e emoções dos antepassados. A festa popular religiosa traduz a cultura popular, a linguagem do povo, tudo que vem dele e de sua alma.
A predominância e a valorização de aspectos de herança, em detrimento dos costumes e hábitos da cultura popular, têm aqui como uma cultura nascida das vivências populares, onde naturalmente se transmite e preserva a herança material e imaterial ligadas às manifestações de alegria, resistência e de lutas pela sobrevivência dessa tradição.
Júlio César Britto Lima/Estudante (8º Período do curso de História-UPE Petrolina)