Artigo do leitor: “A importância da psicologia para obtenção da CNH”

por Carlos Britto // 22 de dezembro de 2015 às 21:43

paula bezerra - psicólogaEm artigo enviado a este Blog, a leitora Paula Bezerra, que é especialista em Psicologia do Trânsito, explica por que a avaliação psicológica é requisito obrigatório para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Acompanhem:

Percebo que muitas pessoas possuem dúvidas acerca da necessidade de ser submetido a uma avaliação psicológica para dar continuidade ao processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, popularmente conhecida como carteira de motorista. A maioria dos candidatos desconhece a importância da Psicologia neste contexto e a julgam como desnecessária no processo de aquisição da CNH, considerando-a como a resposta a alguns testes que buscam avaliar se o candidato é “doido”.

No entanto, a Psicologia do Trânsito vem para contribuir, oferecendo conhecimento técnico-científico que utiliza métodos, técnicas e instrumentos psicológicos visando à segurança de todos aqueles envolvidos no trânsito. Assim, este artigo pretende explicar para que realmente serve a avaliação psicológica no trânsito e mostrar o quanto a Psicologia pode contribuir na melhoria da qualidade de vida das pessoas, em especial daquelas que visam obter a CNH.

Breve histórico

A Psicologia do trânsito no Brasil iniciou na década de 1920, com as primeiras aplicações técnicas de exames psicológicos (Hoff­mann & Cruz 2011a) quatro décadas antes da regulamentação da profissão de psicólogo no país. Em 1941, com o Decreto-lei n° 2.994/1941 do Código Nacional de Trânsito, foram estabelecidas as primeiras bases da futura prática do psicólogo no contexto do trânsito, em que a obtenção da habilitação para motorista teria como condição, exame fisio­lógico ou médico e psicológico (Silva, 2012). Com a regulamentação da profissão do psicólogo em 1962, esses profissionais se inseriram efetivamente no processo de habilitação dos DETRANs (Departamento de Trânsito). A consolidação da Psicologia do trânsito no Brasil deu-se pela apro­vação do Código Nacional de Trânsito em 1966 em substituição ao de 1941, ratificando a obrigatoriedade dos exames psicológicos para a obtenção da carteira de habilitação em todos os estados brasileiros (Hoffman & Cruz, 2011a). Outrora denominado de exame psicotécnico, a avaliação psicológica continua sendo procedimento obrigatório para todos os candidatos à obtenção da carteira de habilitação e na renovação, no caso dos condutores que exercem atividade remunerada dirigindo (Vieira et al., 1956; Spagnhol, 1985; Brasil, 2002).

O que é a Psicologia do Trânsito?

A área da Psicologia relacionada ao contexto do trânsito é composta por psicólogos que investigam o comportamento humano presente na dinâmica do trânsito, seus fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam e o alteram (Conselho Federal de Psicologia, 2000). É notável que a ação do homem no trânsito é influenciada por suas emoções e por sua personalidade, uma vez que o motorista  expressará no trânsito a sua inteligência e o seu caráter, sendo o trânsito apenas o reflexo destas características (Rozestraten, 1986). Nessa perspectiva, é possível destacar que o conhecimento dos aspectos psicológicos e comportamentais dos condutores de veículos automotores torna possível entender e quiçá resolver as problemáticas presentes no trânsito.

A expansão do campo de atuação dos psicólogos nos Departamentos de Trânsito inclui, ainda, ações para prevenir acidentes; perícia em exames para motorista objetivando sua readaptação ou reabilitação profissional e tratamento de fobias ao volante (Silva e Gunther, 2009). Cabe ao psicólogo uma formação comprometida e consciente sobre o estudo das cidades e planejamento urbano, comportamento humano no trânsito, saúde pública e demais fatores que contribuam para o convívio humano (CFP, 2000).

Considerando que a perícia psicológica no contexto do trânsito busca indícios para contraindicar ou não o candidato a função de motorista, os psicólogos utilizam técnicas e instrumentos que avaliam o candidato, tais como: testes psicológicos, entrevistas diretas e individuais, dinâmica de grupo, escuta e intervenções verbais.

E os testes afinal, o que avaliam?

A Resolução CFP n° 007/2009 conceitua os testes psicológicos como uma medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento do sujeito e, de acordo com a Resolução CONTRAN 425/2011, Art. 5°, determina que sejam avaliados os seguintes processos psíquicos: tomada de informações, aferem-se as capacidades de atenção (difusa, concentrada e distribuída), detecção, discriminação e identificação; processamento de informação, a orientação espacial e avaliação de distância, conhecimento cognitivo, identificação significativa, inteligência, memória e julgamento ou juízo crítico; tomada de decisão, a capacidade para escolher o comportamento seguro dentre as várias possibilidades no ambiente do trânsito; comportamento, a adequação dos comportamentos às situações do trânsito e se suas ações correspondem ao que pretendia fazer; traços de personalidade, equilíbrio dos aspectos emocionais, socialização e ausência de traços psicopatológicos não controlados (Amorim e Cardoso, 2015). Percebe-se, assim, que os testes avaliam características necessárias para a segurança no trânsito.

E para que serve a entrevista?

Conforme a resolução n° 007/09 do CFP, a entrevista é um instrumento com um propósito definido de avaliação, completando dados obtidos por outros instrumentos como os testes, por exemplo. Outro objetivo é a verificação das condições físicas e psíquicas e identificação de situações que possam interferir negativamente na avaliação psicológica (Amorim e Cardoso, 2015). Sendo assim, a entrevista deve ser realizada antes da aplicação dos testes, pois o psicólogo poderá averiguar se o candidato tem condições físicas e psíquicas para ser submetido à avaliação naquele dia. Caso não seja possível, marca-se outro dia para a realização da avaliação psicológica.

Ainda cabe destacar que, após a realização da avaliação, se o candidato for considerado inapto para a condução de veículo automotor, ele será submetido ao reteste dias depois. O candidato também tem o direito de receber uma devolutiva do profissional acerca do resultado de sua avaliação psicológica.

Importante!

O psicólogo, para atuar na área de trânsito, deve possuir a partir de fevereiro de 2015, o título de especialização em Psicologia do trânsito reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia. Antes, era obrigatório apenas o curso de perito, com carga horária de 180 horas. Além destas, existem outras exigências. Por fim, a Psicologia do Trânsito oferece elementos para a diminuição dos riscos de acidentes, garantindo condições de maior segurança no trânsito.

Paula Bezerra/Bacharel em Psicologia pela Univasf, com especialização em Psicologia do Trânsito

Artigo do leitor: “A importância da psicologia para obtenção da CNH”

  1. Edilberto disse:

    Aproveitando o comentário da psicóloga e sem querer duvidar da importância da psicologia no trânsito, acho importante tudo que some para maior segurança no trânsito. Mas a realidade do trânsito no Brasil é que o sujeito tira a sua habilitação e “Não SABE DIRIGIR” , ninguém aprende a guiar uma bicicleta no papel. Tenho visto pessoas morrerem no trânsito por falta de habilidade mesmo, já ouvi pessoas afirmarem como alguns dias na TV
    uma senhora falou para o repórter “tirei minha carta e ainda não tive tempo de aprender a dirigir” conheço diversas pessoas que possuem a CNH e não sabem dirigir. Quando tirei minha carteira a 36 anos atrás aprendi primeiro a dirigir, depois me submeti ao exame do detran. Não sou favorável a laudo de auto escola, no Brasil como vemos os fatos na imprensa de corrupção é fácil conseguir certas facilidades através de dinheiro, prova disso são despachantes que resolvem ‘quase’ tudo nos Detrans. O Brasil teria que adotar o sistema da India que o exame físico, baliza, exame de rua, motor e outros é feito ao vivo e monitorado por computador totalmente a prova de fraudes.

  2. AMAURI VIEIRA MAGALHAES disse:

    Muito relevante a sua exposição.São essas contribuições que fazem-nos crer que o nosso trânsito ainda tem jeito.Meus Parabéns à Psicóloga!

  3. Marcio disse:

    Um dos grandes problemas do nosso transito é que a maioria das auto escolas, não ensinam a dirigir e sim a tirar a carteira. Fato é que nos deparamos com inúmeros motoristas sem ter noções básicas. Sinalizar com seta não existe, se colocar na faixa correta de acordo com sua velocidade também não. Dentre outras diversas coisas que vemos diariamente.

  4. juliana disse:

    Nao querendo desmerecer o trabalho do psicologo acho um tanto vago a funcao ,lei exige que p tirar uma cnh tem de passar por avaliacao psicologica o que na verdade avaliam se fosse tao eficaz nao aconteceriam barbaries no transito qual e o criterio ? Como que eles retiram a cnh? tinham de avaliar de forma mais criteriosa . Assim como se faz uma investigacao criminal onde se faz a mesma pergunta so de forma diferente. Sera que esses inviduos respeitam limites? sera que gostam de a ssumir riscos ?. regras/ leis sera que estes inviduos sabe o que e isso e a sua importancia ? PIOR e que existem milhares de motoristas péssimos ando por ai ceifando a vidas Acordemos psicologos avaliem de forma diferente

  5. Carlos Gil Da Silva gualter disse:

    Moro na nova Zelândia, aqui não existe nada disto tanto para empresas quanto para habilitação, isto é um jeito de dificultarem as coisas

  6. Ismael disse:

    Quantas pessoas não conseguem passar na prática. E como passam no psicológico? E qual o sentido dessas pessoas poder refazer esse teste?

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