Artigo do leitor: “A Lei da Zabumba”

por Carlos Britto // 22 de junho de 2015 às 20:35

LeiNeste artigo, nosso colaborador Maurício Cordeiro, o ‘Mauriçola’, comenta sobe um projeto polêmico aprovado na Assembleia Legislativa da Bahia, que já vem sendo chamado de ‘Lei da Zabumba’, e acredita que não é restringindo as músicas descartáveis e modistas que se vai valorizar a boa música.

Confiram:

Estão chamando assim uma nova lei baiana, aprovada na Assembleia Legislativa da Bahia, e já causando reação em outros estados. Tudo para aliviar um pouco, diante da impostura midiática da dita música “sertaneja”, que toma conta de todos os eventos juninos no “Nordeste”. O cachê de Jorge & Matheus deve ser uns R$ 350 mil? daria para colocar num palco Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Pedro Sertanejo, Jackson do Pandeiro!!

Eu sinceramente não sei se o caminho é por aí. “Tudo liga tudo”, como sugere uma música de Tuzé e Gereba. E essas bandas de “pagode baiano”? Esse forró pop-pobre de “aviões e calcinhas”? Ou o Neto LX é o gordinho baiano que pode “ostentar” esta miséria musical que nos assombra?

Tudo é uma pobreza geral, não educaram gerações inteiras e leis não vão impedir esta devastação de nossa cultura mais verdadeiramente brasileira. Já não sabemos o que somos. Lembrando que o turbilhão da “humanidade” cresce todo dia depois de “sex and the city” no morro e na mansão. Deus não se mete nesta confusão. É o direito de nascer – na miséria ou na riqueza, o inferno vem depois e breve seremos uns 250 milhões com 0.5% de ricos e 0.3% de bem informados.

Quem escuta música ruim pode não ter uma alma boa. Ou Pode?

“Cada geração tem sua cachaça”. Hoje vejo muitos jovens “bêbados” alterados, ouvindo o “sonzão” “tum,tum,tum” que não é de “zabumba” nem de baião.

A minha geração, que foi mais proibida, também pegou pesado, em porões ou no meio do mato, com guitarras e violões, entre Jimi Hendrix e João Gilberto – o mistério era nossa “ostentação”.

Meu avô, o “seu Lindolpho”, era fã de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Pedro Sertanejo. No São João eu ia para o “Salitre” com muitos primos e levava LPs de Roberto Carlos e dos Beatles – meu avô tinha uma “radiola de pilhas” e promovia forró na luz do “fifó” para o seu povo. E a gente, para criar confusão, tirava os discos de forró e colocava “iê, iê, iê”. Ele levantava furioso da sua “espreguiçadeira”, vendo o seu salão vazio, “xingava” seus netos exigindo respeito ao sentimento do seu povo. Quando era manhã ele deixava a gente ouvir Roberto Carlos e os “reis do iê, iê, iê”. para gastar o restinho das pilhas.

Viva o meu avô que me ensinou este sentimento! Pra valer!

Como proteger os nossos valores humanos culturais?

Qual o sentido existencial de ter e ser ou não ser e só ter e vice-versa, sendo um avesso e vivendo diante de tanta opressão financeira?

“Beber, cair, beber de novo e cair novamente”. Será isto? então como levantar este Brasil raquítico de gente pobre seminua e gente fina mal vestida?

Maurício Dias Cordeiro (‘Mauriçola’)/Músico e Compositor

Artigo do leitor: “A Lei da Zabumba”

  1. Maria do asocorro - fora comunas disse:

    Se diz um homem do povo, defensor das minorias, mas não respeita nem a cultura popular de Aviões e Tyrone Cigano. É só aparência.

  2. Aluizio Campos disse:

    Ótimo texto. Devemos mesmo proteger nossos valores culturais e humanos, e nos proteger dos Aviões e Tayrones!

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