Neste artigo enviado ao Blog, o médico Aristóteles Cardona Júnior destaca o isolamento social como uma medida importantíssima para conter o avanço do novo coronavírus. Segundo ele, o cenário da doença no Vale do são Francisco poderia ser muito pior, caso os gestores locais não tivessem se empenhando em adotar essa e outras medidas cruciais.
Confiram:
Na última terça-feira, 5 de maio, o Brasil alcançou a marca de mais de 600 mortes diárias por COVID-19. Este é o maior número desde o início da pandemia, que já levou a mais de 7.921 óbitos em nosso país. O pior de tudo é que não temos ideia de qual é o limite da pandemia por aqui. Sinto calafrios ao perceber que estamos sem o menor sinal de quando chegaremos ao pico, ou seja, o momento a partir do qual os números começarão a diminuir. Enquanto isso, o sistema de saúde caminha para o seu colapso. É este o nome que é dado quando há mais pacientes graves que leitos hospitalares, acarretando filas e mais mortes por falta de assistência médica. Já está acontecendo em algumas capitais do país e várias outras cidades caminham para isto.
Por enquanto, aqui no Vale do São Francisco, ainda não chegamos a uma situação crítica. Ajudaram para isso dois fatores: o primeiro deles é do próprio comportamento esperado da doença, com a disseminação inicialmente nas capitais e posterior chegada em cidades do Interior. O segundo são as importantes medidas que têm sido adotadas por gestões locais, a exemplo de Petrolina e Juazeiro, com políticas que incentivam o distanciamento e o isolamento social. Apesar dos casos confirmados e das mortes até agora, poderíamos estar vivendo uma situação bem pior sem a adoção de tais medidas com antecedência. É este o comportamento que tem sido observado em todo e qualquer lugar do planeta. Seria um grande equívoco defender que estas medidas só fossem tomadas após o agravamento da situação.
O ritmo de difusão do vírus em nosso país é um dos mais agressivos do planeta. Quem faz esta afirmação são instituições sérias, que têm pesquisado o comportamento da pandemia, como o Imperial College de Londres. E esta situação pode levar governadores e prefeitos a tomarem medidas mais sérias como o bloqueio total, conhecido como lockdown. Tal ação já está sendo adotada em algumas cidades do Maranhão e anunciada em outros estados como no Pará e no Ceará. O bloqueio total é uma espécie de última etapa antes do caos instalado.
É claro que é preciso pensar nos reflexos econômicos trazidos pela pandemia. Esta é uma das facetas mais cruéis deste momento, sobretudo em uma região como o Nordeste, onde mais da metade da população economicamente ativa trabalha em empregos precários e informais. Porém, é falsa essa contradição entre economia e saúde, que alguns setores tentam emplacar. Afinal, o que restará da economia se vivermos uma tragédia social com milhões de mortes que poderiam ser evitadas? A vida das pessoas deve vir em primeiro lugar. O Estado brasileiro é que precisa dar conta de oferecer condições dignas para o seu povo neste sensível momento de nossa história. E esta é uma responsabilidade de todos os níveis governamentais.
Cada dia promovendo a contenção da doença é um dia a mais para que o sistema de saúde se reforce para os momentos de crise. É o caso de Petrolina: em breve deve ser entregue o nosso primeiro Hospital de Campanha. Agora, imagine uma situação de crise antecipada sem a finalização deste serviço, que deverá constar com cerca de 100 leitos aptos a receber pacientes doentes pelo Coronavírus.
Por fim, reforço mais uma vez a importância das medidas de contenção e de isolamento social. Precisamos estar preparados para a intensificação destas políticas nas próximas semanas entendendo que a vida deve vir em primeiro lugar. Afinal, se para alguns trata-se apenas de números e mais números, para outros tantos estamos falando de milhões de familiares e amigos queridos de tantas outras pessoas. Vale sempre lembrar que cada morte é uma família que sofre, uma família que se despedaça. Que possamos salvar o máximo possível de famílias.
Aristóteles Cardona Júnior/Médico de família em Petrolina e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco
Felicito os gestores Municipais de Juazeiro e Petrolina, pela visão humanística e de responsabilidade social, por adotarem medidas de distanciamento social nos primórdios do contágio, visando salvarem vidas.
Pois como muitos querem equivocadamente por a economia adiante da vida, por não saberem que toda riqueza provem do trabalho, oriundo das ações humanas.
Dr. respeito seu posicionamento, mas com uma simples análise no boletim epidemiológico detalhado no site do MS se perceberia que as 600 mortes não ocorreram em 24h, mas tinham mortes de mais de 7 dias em investigação e que os resultados só saíram no dia 04, bem como a quantidade de infectados também sofrera acúmulo. Para pânico, bastam certas emissoras.
O prefeito de Juazeiro não está investindo as verbas no enfrentamento da pandemia, esse tempo todo a prefeitura se preocupou em fazer só propaganda com um infectologista , agora está querendo pela décima vez reinaugurar a UPA um local sem estrutura para o enfrentamento de covid-19 , tentando fazer uma camuflagem abrindo portas é nada mais . Passou esses anos todos só realizando puxadinhos na UPA e na maternidade , unidades sem estrutura adequada para nada. Povo de Juazeiro acorde vocês não têm para onde correr se o contágio avançar na UPA não existe nem respiradores para atendimento do dia a dia, imagina para casos de covid-19.
Muito esclarecedor. Mas me entristece ver um prefeito que nada tem feito pelas pessoas, como o de Juazeiro. Enquanto o de Petrolina tem dado vários exemplos de humanidade e correndo contra o tempo p estruturar a saúde.