Artigo do leitor: A Pátria Educadora e os rumos do país

por Carlos Britto // 30 de abril de 2015 às 20:30

mestrado vera3Em artigo enviado ao Blog, a professora e jornalista Vera Medeiros (foto) relata as dificuldades enfrentadas pelos docentes de todo o Brasil e critica a postura do governo em relação às manifestações.

Em um trecho do texto, a professora e jornalista cita que o mais importante cargo da nação é o de Ministro da Educação, mas, por causa da “barganha político-partidária”, o governo diz não ser possível assalariar dignamente seus protagonistas maiores: os professores. Leia o artigo na íntegra:

Com licença, senhores. Sou da Pátria Educadora

Se me podem dar licença, escutem que importantes coisas tenho a lhes dizer da minha pátria, a Educadora.

Lá, ao contrário da sorte que teve o amigo Bandeira, os professores nunca são amigos do rei, apesar de serem dedicados àqueles as melhores promessas e as mais afáveis juras de amor, quando a pátria vive seu momento de campanhas eleitorais.

E a Pátria Educadora é igualmente singular no que se refere ao índice de agressões a professor – lidera esse tipo de violência, segundo à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre 34 países pesquisados.

Mas há algo que se assemelha à Pasárgada do poeta: lá é lugar de intensa aventura também. É preciso coragem para viver a odisseia da jornada extraordinária de trabalho e não ter de sofrer, mês a mês, com salário que nem “Joana, a Louca de Espanha, Rainha e falsa demente” poderia, em seus mais ranhosos delírios, imaginar.  

Sou da Pátria Educadora, senhores, onde os reis (e a rainha), negociam, em balcão de barganha político-partidária, o cargo mais importante da nação – o de ministro da Educação. Sou da Pátria Educadora, onde R$ 7 bilhões foram tirados da já defasada pasta, na qual se diz não ser possível assalariar dignamente seus protagonistas maiores, na qual tenta se esconder, com cinismo profundo, que a sucateada economia do país deixou, para último plano, continuar financiando a faculdade de jovens mais carentes.

Na minha Pátria, senhores, há de tudo também. Duvidam? 529 mil zeros na redação do Exame Nacional do Ensino Médio, 38% de universitários analfabetos funcionais, 40% de tempo da aula perdidos em indisciplina, Planos Nacionais que não saem do papel (além de programas estaduais feitos para atender a desmandos de governadores) e apenas 2% dos jovens estudantes que desejam ser professor.

É, de fato, outra forma de “civilização”: quando professores resolvem unir-se e lutar pelos seus direitos, são ameaçados, cerceados e agredidos. Balas de borracha, choques, pancadaria tornam-se palavras comuns no campo da educação dessa Pátria – educadora.

Resta-nos pensar quase como o grande Manuel Bandeira, senhores:

“E quando eu estiver mais triste, mas triste de não ter jeito”, é só olhar o oportunismo dos políticos e partidos, em rádios, TVs e internet , criticando, com tom de moralismo, os seus opositores que agridem professores. E lembraremos que , na Pátria Educadora, professor sofreu e sofre agressões de PT, de PSDB, de PSB, de PMDB. Enfim, riremos muito, bem muito mesmo, para não choramos por já termos apanhado de todas as cores e bandeiras.

É essa, sim, a minha Pátria Educadora.

Vera Medeiros/Professora e Jornalista

Artigo do leitor: A Pátria Educadora e os rumos do país

  1. Carlos Laerte disse:

    Com toda licença, inclusive a poética, pensei como Manuel Bandeira chorando por nossa pátria. Adorei o artigo amiga.

  2. antonio dermeval de menezes. disse:

    VERA MEDEIROS . vamos pra luta. represente a educação na politica.

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