Artigo do leitor: A polêmica em torno do novo ensino médio

por Carlos Britto // 22 de março de 2023 às 08:20

Foto: divulgação

A polêmica envolvendo o novo ensino médio no país continua. Agora, o pedagogo Antonio Marcos da Conceição Uchoa reforça o coro dos que são contra esse sistema por ver várias arestas, a começar da forma como foi implantado.

Confiram na íntegra o seu arquivo:

O novo ensino médio: por que reformar não é a solução!

No último dia 15 de março, várias cidades pelo país, dentre elas Petrolina, foram palco de reivindicações de estudantes e suas representações exigindo a imediata revogação do chamado Novo Ensino Médio (NEM). O novo ensino médio foi estabelecido inicialmente pela medida provisória 746/2016 e convertido na Lei nº 13.415 no início de 2017. Além dos problemas relacionados à forma, também há problemas de conteúdo.

Quanto à forma, sua criação se dá por meio de medida provisória, o que desde já impede o devido e necessário diálogo com a sociedade civil. Apesar das audiências públicas realizadas no Congresso, apenas as participações dos representantes da iniciativa privada foram levadas em conta na discussão da conversão da medida provisória em lei.

Quanto ao conteúdo, essa reforma educacional ignora todos os problemas infraestruturais, de pessoal e financiamento relacionados à oferta do ensino médio no país, e concentra seus esforços somente na modificação curricular, como se as fragilidades do ensino médio se reduzissem ao currículo. O novo currículo do ensino médio passa a ser dividido em dois blocos, sendo um chamado de Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ocupará inicialmente 60% da carga horária do currículo, e a outra parte chamada de Itinerários Formativos, que ocupará inicialmente 40% da carga horária do currículo e é dividida em 5 partes: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional.

Na prática, a implementação do currículo desse novo ensino médio tem gerado o que a professora e pesquisadora Mônica Ribeiro (UFPR) tem chamado de “ensino médio líquido”. Segundo o Censo escolar de 2022, aproximadamente 88% das matrículas do ensino médio concentram-se na rede pública. Isso, associado a um contexto de baixo financiamento, infraestrutura inadequada e limitadora da ampliação da carga horária que a reforma impõe, formação docente inadequada às novas necessidades de formação impostas pelo novo modelo curricular, fragmentação das disciplinas em inúmeras outras disciplinas quando associadas aos Itinerários de formação, entre tantas outras dificuldades materiais, de pessoal e logística, tem aprofundado as históricas desigualdades educacionais não só regionais, mas especialmente entre estudantes das escolas públicas e particulares.

Por conta das condições materiais objetivas que diferenciam as escolas públicas das particulares, por exemplo, ao mesmo tempo em que estudantes do ensino médio público fazem itinerários de formação que pouco ajudam, e até atrapalham bastante na desigual corrida pelo acesso ao ensino superior, estudantes de escolas particulares não têm seu direito a uma formação geral e humanística mais abrangente interditado.

Em prol da escola pública, dos jovens brasileiros mais pobres, de um projeto de país comprometido com um futuro no qual os filhos da classe trabalhadora possam ter uma educação de qualidade, torna-se um compromisso republicano a revogação desse novo ensino médio. Não dá para reformar a reforma. Se é por falta de adeus, digo-lhe: vá-se embora!

Antonio Marcos da Conceição Uchoa/Pedagogo do IFSertãoPE, doutorando em educação e membro dos grupos de pesquisa Habitus e Qualificação Profissional e relações entre trabalho e educação

Artigo do leitor: A polêmica em torno do novo ensino médio

  1. A criação do novo ensino médio no país tem gerado inúmeras polêmicas e controvérsias. O pedagogo Antonio Marcos da Conceição Uchoa vem reforçar esse coro ao criticar a forma como esse sistema foi implantado.

    É inegável que há uma preocupação com a qualidade do ensino médio no país, no entanto, a forma como o novo sistema foi implementado é extremamente questionável. Parece que o governo fez pouco ou nada para consultar os profissionais da área e outros grupos interessados na educação antes de tomar uma decisão tão importante. O resultado é um sistema que pode ser frágil e não atender às necessidades da população brasileira.

    Portanto, é extremamente necessário que as autoridades responsáveis ​​pela educação no país ouçam verdadeiramente as vozes dos que estão preocupados com o novo ensino médio. O governo deve ter mais discernimento ao tomar decisões importantes e não pode negligenciar a opinião dos profissionais da área.

  2. Cristiane Almeida disse:

    Pessimo esse novo ensino na escola onde meu filho estuda virou integral ate o 3 ano do ensino medio o colegio nao tem estrutura sao 2 cozinheiras para 270 criancas nao tem nada de curso tcnico para o 3 ano ja reclamei varias vezes na ouvidoria e nada querem fazer ensino bom e so piorou

  3. EDNA SILVA disse:

    O MEC DEVE SE PREOCUPAR EM FOMENTAR MÉTODOS E TÉCNICAS EDUCATIVAS, JÁ QUE AS DISCIPLINAS CONTINUAM AS MESMAS.
    INVESTIR NA CAPACITAÇÃO DOS PROFESSORES PARA QUE ESTES SEJAM MUNICIADOS DE TÉCNICAS EDUCACIONAIS PARA ATINGIR O INTELECTO DO ALUNO.
    FALTAM MÉTODOS E TÉCNICAS PEDAGOGICAS.
    SER MESTRE NÃO BASTA, TEM QUE SER PROFESSOR APRENDENDO COMO TRANSMITIR CONHECIMENTOS .
    A UM CURSO PEDAGÓGICO SERIA DE BOM ALVITRE NA ATUAL CONJUNTURA.

  4. Valdelice Cordeiro disse:

    Sou professora, o chamado novo ensino médio, é a visão deturpada da educação no nosso país.

  5. Pior forma de Ensino inventado no país. Os alunos presos em suas escolas ,sendo retirados as disciplinas básicas como Português, Matemática e colocando eletivas que não leva a lugar nenhum com professores despreparados e formando estudantes que não sabem nem escrever o nome qdo termina o ensino médio. Formando alunos para ser balconista, trabalho em supermercado, mão de obra barata .Cadê a formação para vestibular, será que vamos formar alunos para ser balconista, etc.Eletivas não leva a nada .Por que não voltar disciplinas tradicionais?

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