Em época de degradação, as mobilizações em favor da revitalização do Rio São Francisco ganham cada vez mais força. Por meio de artigo enviado ao Blog, o sargento do Corpo de Bombeiros, Ênio Silva, chama atenção para a importância econômica do rio e a eventual crise para a agricultura irrigada do Vale do São Francisco.
Acompanhem:
Recentemente o companheiro Roberto Malvezzi (Gogó) publicou um excelente artigo relatando a decadência econômica do rio São Francisco. O óbvio aconteceu, embora acredite que o pior ainda está por vir, porque a principal atividade econômica do Vale é agricultura irrigada. Sem água não teremos mais o sentido de existência econômica que faz da região, em especial Petrolina, polo de desenvolvimento e de destaque internacional.
O poeta Wilson Duarte, numa de suas belas poesias sobre o rio, conta angústia do Velho Chico em não poder ver mais o mar, mas é o mar que está angustiado pelo rio que não chega mais ao seu encontro. Diante da espera sem sucesso, o mar vem ao encontro do rio, causando um fenômeno doloroso para o velho Chico, – cuja salina, que avança rio adentro de forma assustadora.
Imaginar a morte do Velho Chico é algo quase inimaginável, muitos tentam nem pensar na hipótese, tantos outros acham um absurdo e alguns poucos acreditam ser possível o rio desaparecer. Mas o que seria de Juazeiro e Petrolina sem o rio? Como seria a vida no Vale sem rio?
O Brasil entrou na onda neoliberal de desenvolver sem a preocupação com a sustentabilidade ambiental. Nos últimos anos são vários os exemplos de grandes empreendimentos, tendo aqui na região o delirante projeto de transposição das águas do Velho Chico, pano de fundo para esconder os mais nocivos projetos de transposição das águas, que são as adutoras.
Desde a construção da Barragem de Paulo Afonso, na década de 50, o rio vem sofrendo um processo inexorável do fim. Depois de Sobradinho teve a construção das barragens de Três Marias, Itaparica, Sobradinho e Xingó; ainda está em andamento a construção das barragens de Pedra Branca, Pão de Açúcar e Riacho Seco. Depois das barragens vieram os grandes projetos de irrigação Nilo Coelho e Mandacaru, consequentemente as indústrias e o aumento da densidade populacional.
Mas o que será de Petrolina e Juazeiro sem o rio? Petrolina sentirá muito mais do que Juazeiro com a morte do rio. Até porque é também a que mais provoca destruição do mesmo com a sua ganância em crescer. Petrolina tem grandes volumes de investimentos, é onde se concentra os grandes empreendimentos imobiliários, as principais indústrias estão em Petrolina, o maior polo médico, os melhores cursos da Univasf, o maior centro gastronômico e de outros comércios. É também aonde mora os mais ricos (também onde se esconde bem a pobreza). Petrolina é destaque no cenário internacional como o melhor lugar para se investir e morar. Resultado: quem chega à região procura Petrolina para morar. Consequência: grande percentual da população de Petrolina é composto de pessoas que não nasceram na cidade.
Quando o rio perder sua capacidade de fornecer vida para o agronegócio, Petrolina voltará ser a pequena Passagem para Juazeiro. Devido ao seu grande percentual de habitantes não-nativos, muitos sacudirão o pó dos pés e deixarão Petrolina para trás, e com eles irão também os grandes investimentos. Devido à grande exploração das monoculturas, suas terras permanecerão improdutivas, os grandes projetos tornarão campos sem vida.
Os imponentes prédios residenciais na orla serão refúgio para usuários de drogas, o que aumentará consideravelmente a violência e os roubos. Os grandes condôminos residenciais serão habitados pelos moradores dos bairros periféricos, que voltarão a residir nas margens do filete que sobrará do rio.
Ao contrário de Petrolina, Juazeiro voltará ser a principal cidade do Vale, o principal entreposto comercial. Voltará a ser chamada de “Joazeiro”. Sem grandes volumes de investimentos, com densidade populacional proporcional, com grande parte da população de nativos, sem grandes investimentos imobiliários; com parque industrial pequeno. Juazeiro voltará a ser a cidade provinciana de um século atrás. O comércio não terá mais como referência o rio, se dará nos arredores da cidade (provavelmente onde é o Mercado do Produtor), tendo o escambo como referência das atividades econômicas de subsistência. Sem Agrovale, mas com imensidão de terra sem vida, Juazeiro terá como atividade econômica a agricultura familiar de subsistência nas terras onde a Agrovale não chegou.
Teremos aumento nos índices de violência, roubos e assaltos; famílias se revezarão no poder político e econômico, haverá aumento e retorno de doenças já erradicadas, como é o caso da Doença de Chagas. No casos da benditas muriçocas, poderá haver uma redução, mas que não será grande para o povo não esquecê-las.
Assim, Petrolina que já foi chamada de “a Califórnia Brasileira” (cidade americana símbolo de sucesso), se transformará numa Detroit (cidade americana símbolo de fracasso). E Juazeiro, que nunca se esforçou para ser grande, perderá de vez o sonho de se tornar igual a Petrolina. E o rio seguirá com o seu filete exíguo para atormentar a memória dos que sobreviverão para ver o fim do velho Chico.
Enio Silva da Costa/Pedagogo, Sargento Bombeiro e Mestre em Educação
É certo que o rio São Francisco vive hoje, muito mais do que antes, um grande abandono por parte das autoridades políticas e também pela população que não poupa esforços para poluir o rio com garrafas pet, plásticos entre outros objetos poluentes. Porém, essa previsão macabra, agourenta e sinistra feita por esse rapaz, é simplesmente, uma visão escura daqueles pessimistas. O uso racional dos recursos hídricos é uma necessidade em várias regiões do Brasil ou em todo o mundo e, certamente, o Vale do São Francisco que abrange o alto, o médio e o baixo São Francisco não é diferente. Lembremos, pois, que o desperdício de água se dá pelo uso irracional da energia elétrica, a iluminação pública que fica com as lâmpadas acesas durante o dia por meses a fio e, também, jardins-gramados que são regados sem nenhuma economia de água, como é o caso da indústria têxtil aqui de Petrolina, o furto de energia elétrica que é comum em todo o Brasil entre tantos outros meios. Devemos nos conscientizarmos que o Rio São Francisco está agonizando e cuidarmos dele o quanto antes em uma ação consciente e conjunta entre a população e os governantes mas, o Velho Chico sobreviverá e a derrocada das cidades de Juazeiro e Petrolina não acontecerá segundo previsão macabra do autor desse artigo.
PODEMOS CONSIDERAR QUE O ARTIGO É UM MISTO DE PAVOR INFUNDADO E DE DESINFORMACAO
O NOSSO RIO É PERENE, CAUDALOSO ETC ETC E TAL
LAMENTO POR ESTE ARTIGO…MAS COMO VIVEMOS NUMA DEMOCRACIA…..Vale tudo
A primeira reação,natural, de todos é achar exagero. Mas como bem demonstrado no artigo eu sou um “estrangeiro” de que fala o autor. E para quem como eu pude ver fotos de parentes meus, no caso meu avó tomando banho nas aguas do rio Tiete na capital de São Paulo. O clube de regatas Tiete ainda existe lá. A situação descrita não me parece uma previsão apocalíptica. O fim das duas cidades e de tantas outras no curso do rio é mais que certo no caso de morte do Velho Chico, seja por secar ou por poluição.
E com a morte do rio seguir-se-á da agricultura, do comercio, dos serviços e sem dúvida a de pessoas.
Estou a pouco aqui, mas já criei um grande afeto por Petrolina e pela delícia de ter um rio quase na porta de casa onde pode-se tomar banho!
Espero que toda população que hoje vive aqui, independente de sua origem, e que gostam daqui, tomem o que foi dito no artigo como uma possibilidade real e lutem de verdade, dentro e fora de suas casas para que esta possibilidade nunca aconteça, como todos já sabemos, basta cuidar mais do nossos votos e sermos mais persistentes nas mobilizações.
Quanta premonição detalhista! Será que a Madame Devoica tem um concorrente em Juazeiro?
Se não houver revitalização, o rio morrerá, e será logo. Em 12 anos nada foi feito para isso – no Brasil, porque lá fora: Usina de Chagalla, no Perú (US$ 320 milhões), Tumarín, na Nicarágua, (US$ 343 milhões), São Francisco, no Equador (US$ 243 milhões), barragem de Moaba Major, em Moçambique (US$ 350 milhões)
Se não houver revitalização, o rio morrerá, e será logo. Em 12 anos nada foi feito para EVITAR isso – no Brasil, porque lá fora é só investimentos: Usina de Chagalla, no Perú (US$ 320 milhões), Tumarín, na Nicarágua, (US$ 343 milhões), São Francisco, no Equador (US$ 243 milhões), barragem de Moaba Major, em Moçambique (US$ 350 milhões)
Deve ganhar dinheiro também jogando búzios, lendo cartas do tarde, olhando a bola de cristal e outras idiotices mais.
*** cartas de tarô
Concordo com o conteúdo do artigo e suas previsões para o futuro – não tão distante – tenebroso que se avizinha. Ênio Silva, além de ser extremamente bem informado sobre a grave questão, não utiliza seu conhecimento para teses universitárias inócuas, mas sim, para lutar em defesa do Rio São Francisco como pude na prática conviver ao seu lado e de demais companheiros e jovens estudantes na luta pela recuperação da Ilha do Fogo, o acesso livre do povo à Ilha e a denúncia da presença invasora e comprovada(sem nenhuma autorização de nossas autoridades) de soldados norteamericanos na região.
Se conquistamos uma vitória, ainda que parcial, o direito das famílias tradicionais de pescadores continuarem morando e exercendo os seus ofícios na Ilha e o acesso – também parcial – à Ilha, ficou como exemplo histórico de que só a unidade dos povos das duas cidades pode barrar a destruição do Rio e por consequência, a terrível destruição da vida de centenas de milhares de trabalhadores e jovens da região.É necessária a urgente retomada da mobilização para barrar esse crime hediondo que está sendo preparado.
A ILHA DO FOGO E O RIO SÃO FRANCISCO SÃO DO POVO BRASILEIRO !!
CONTEM COM O MEU APÔIO !!!
BORA LUTAR !!!