Num artigo enviado ao Blog, o médico Tiago Fonseca Nunes fala sobre a ineficiência do Sistema Único de Saúde (SUS) e a “maneira injusta” que, segundo ele, o médico é “responsabilizado por questões que não dependem da sua atuação profissional”.
Acompanhem:
Infelizmente a população brasileira está habituada a conviver com a ineficiência do SUS. De fato, saúde pública é um problema crônico. E em meio aos entraves e falta de integração das redes de assistência encontra-se o médico, que de maneira injusta é responsabilizado por questões que não dependem da sua atuação profissional.
A maioria das pessoas que escolhem a medicina como profissão tem o genuíno interesse de ajudar o próximo. Porém, algumas tentativas são frustradas, seja pelo estágio avançado da doença ou porque os recursos disponíveis são insuficientes. Ainda assim, alguns estigmas são jogados contra os médicos na tentativa de fazê-los bodes expiatórios para o caos da saúde pública.
Os médicos têm compromissos vocacionais sustentados com sofrimento, angústia e depressão. Dia após dia é recorrente a falta de infraestrutura, iminência da morte de pacientes que poderiam ser evitadas, atraso de salários, agressões físicas e o seu aviltamento perante à sociedade. Entretanto, o arraigado altruísmo é a voz que ecoa no empenho incessante em curar e aliviar a dor dos pacientes, mesmo quando todos os limites foram superados. Lidar com o sofrimento alheio não é fácil e gera sentimentos, afinal o médico também tem emoções.
Os cidadãos reiteradamente são violados pelo Estado brasileiro, pelo fato de serem vítimas da ausência de direitos sociais. O cenário real do SUS é diferente do formato idealizado na constituição federal. Na prática, apresenta limitações que cursam desde a dificuldade de acesso até a falta de resolubilidade. É uma rotina dos pacientes que necessitam de utilizar os serviços.
A União transfere ônus cada vez maiores aos Estados e municípios, sem que haja qualquer organização hierárquica que reflita em ações efetivas. Muitos gestores municipais têm desativado serviços próprios e passado responsabilidade para as vizinhas, mantendo a desordem na gestão da saúde. Pacientes perambulam em ambulâncias na tentativa de conseguir atendimento, exames, cirurgias ou tratamentos.
A saúde não pode ser utilizada como instrumento político e, portanto, políticas de Estado devem ser implementadas em detrimento às medidas pontuais de governo. Sistemas de saúde pública, como no Reino Unido, estabelecem metas e têm planejamentos ancorados em pilares fundamentais: acesso universal, sustentabilidade financeira e qualidade nos serviços prestados, com análise de resultados.
Aos médicos, torna-se urgente a aprovação da carreira de Estado (PEC 454/2009) a fim de eliminar os vazios assistenciais e gerar uma interiorização verdadeira do médico, havendo progressão funcional, infraestrutura e acesso a aperfeiçoamento contínuo. Essas medidas mudarão a saúde pública no Brasil. Enfim, como disse Machado de Assis, “o país real revela os melhores instintos, mas o país oficial é caricato e burlesco”.
Tiago A. Fonseca Nunes/Médico
(foto/divulgação)