O professor e produtor cultural Gilmar Santos nos envia este artigo, no qual faz uma observação pertinente acerca dos ‘rolezinhos’.
Confiram:
Eram três meninos sujos, nanicos, sedentos, inquietos, “irritantes” e carentes, desses que a nossa trágica sociedade de consumo – conduzida pela cruel e patética atividade política – faz questão de evitar, esconder ou criminalizar.
Nesses tempos em que o “rolezinho” virou notícia temerosa aos “civilizados” de Shopping Center, nossos três “Carlitos” estavam passando pela Orla de Petrolina e se depararam com um circo armado para exibição de filmes: Festival Vale Curtas.
Com a garantia da entrada franca, adentraram o recinto cheios de gaiatice e vulgaridades que, inevitavelmente, aborreceram alguns espectadores. Porém os filmes, com seus argumentos, produções, atores, trilhas e sensibilidades, foram despertando essas crianças para outras possibilidades de enxergar a vida. Por vários momentos, podíamos flagrá-las hipnotizadas pela beleza das cenas, a comicidade ou dramaticidade dos atores, a fotografia impecável, o texto magistral, o toque de humanidade que a arte nos proporciona.
Fiquei a pensar sobre quantos “Carlitos” estão na nossa cidade e país, sem a chance de conhecer os trabalhos de uma imensidão de profissionais da cultura que podem revelar para esses “brasileirinhos” a importância da arte e da sua capacidade educativa, preventiva e humanizadora.
Muitos crescem em ambientes indignos, onde são moldados para servirem à violência. Lugares condicionados por poderes púbicos, com seus “delinquentes” engravatados, que estimulam a “cultura do lixo” e manipulam os seus moradores a se contentarem com os “paredões”, a poluição sonora e as possíveis derivações do mau-gosto. Tudo isso consolidado pela falta de investimentos em política cultural.
Semelhante ao querido personagem do Charles Chaplin, esses três garotos nos propõem uma reflexão sobre o papel dos vagabundos, anarquistas, rebeldes, revoltados, e dessa geração que encontrou no “rolezinho” alternativa para expressar o seu descontentamento com a cínica, nefasta e abominável (des)ordem estabelecida. Essa realidade revestida por um histórico apartheid social, gritante nas comunidades empobrecidas, maquiado por políticas assistencialistas ou sensacionalizado pelo noticiário policial.
Assim como os promotores do Vale Curtas, existem milhares de produtores culturais que fazem, muitas vezes na raça, aquilo que é responsabilidade do poder público. Gente que investe a maior parte do seu tempo em produções e estudos sobre arte, cultura e, consequentemente, na construção de lugares nos quais a beleza, a criatividade e o bom-gosto sejam marcas do desenvolvimento. Vale parabenizá-los!
Na volta pra casa, após assistir a diversos curtas preciosos, vi os três meninos andando pelo asfalto, bem juntinhos, às onze e meia da noite, “sinalizando” para quem passava o quanto eles necessitam de liberdade, dignidade e cuidados. Uma política cultural, efetivamente democrática, será fundamental para esse fim. Do contrário, continuemos com o “rolezinho”.
Gilmar Santos/Professor de História e Produtor Cultural
A iniciativa de entrada franca em eventos culturais educativos, mesmo que por recurso didático teatral, é uma coisa. Outra coisa é a criação de expressões novas para representar o moderno na forma de protestar, como se lançasse um modelo novo de vestimenta ou de música. Tem que se definir bem o que é protesto democrático pela imposição da ordem para não acontecer o costumeiro descambo para a baderna e vandalismo que atentam contra a democracia, o direito seguro de ir e vir das pessoas a preservação de patrimônio. Estas questões têm que ser discutidas antes com os órgãos de segurança, porque durante a baderna não mais se dialoga. A polícia não vai acariciar ninguém, porque na confusão não se consegue fazer distinção entre o bem e o mal. O cassetete policial age por impulso e por instinto de combate e de defesa. Não há tempo nem pra o recurso mais rápido do ser humano, o raciocínio. O planejamento tem que ser feito com participação dos órgãos de segurança e obedecendo ao princípio democrático que limita a liberdade e o direito de uns, exatamente, aonde se inicia a obrigação de se respeitar o direito dos outros. Não me venham depois reclamar dos excessos da polícia!
Cultura é cultura, baderna é baderna. Fazer rolezinho, prejudicar os outros e depois colocar o nome de protesto é subestimar a capacidade humana. Chamo também a atenção aos PAIS e MÃES que também tomem conta dos seus filhos, tenho filha na adolescência, com quase 18 anos e só vai a shopping na minha companhia, pra uns pode ser mico, ditadura, ou irá traumatiza-la, mas garanto que em rolezinho ela não estará…
Na boa, acho que você deveria dar mais liberdade a sua filha, tenho toda certeza que se você deu uma boa educação a ela, ela jamais se desviará do bom caminho! lembre-se que você está “treinando” a sua filha para saber viver no mundo e a torna-la uma adulta, e impedi-la de ter contato com ele não a tornará apta para lidar com ele!
Foi apenas uma opinião, mas vc é o pai ou a mãe é quem sabe o melhor para sua filha!
“Pulítica’ cultural de Petrolina = ” panelinhas” + poucos talentos + poucos espaços.
O resto é papo de “gente cheio de verniz cultural” ou ” intelectual de barzinho”. Parece-me que Gilmar , ainda, é uma exceção.
Cera que os policiais com sua truculência foi quem instigaram a violência pois violência gera violência ,outra coisa na net mostra que cenas mostrada na globo que o tumulto foi promovido pelos manifestante foi mesmo truculência policial.como sempre policiais maus preparados e muito mais muito arrogantes .
Eu acho que quem ta criticando o texto, não.entendeu o texto.
Os “rolezinhos” e um apartheid à brasileira
O “rolezinho” demonstra o paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala
Junto com alguns outros shoppings da capital, o Shopping JK Iguatemi, um dos templos do consumo de luxo em São Paulo, conseguiu uma liminar na Justiça impedindo o “rolezaum” que havia sido marcado pelas redes sociais para acontecer no local neste sábado. As portas automáticas que dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e passaram a ser blindadas por policiais. Houve, ainda, a presença de um oficial de justiça na porta do estabelecimento. Caso o organizador do evento aparecesse e fosse reconhecido, seria conduzido a um distrito policial para esclarecimentos, segundo declarou à Veja SP o oficial de justiça. A situação estapafúrdia foi amplamente divulgada pela imprensa.
Em outro shopping, bem mais popular e localizado no extremo leste da cidade, a PM chegou a usar bombas e balas de borracha. Na prática, o Estado tem usado a força para impedir o sagrado direito de jovens pobres e da periferia de ir e vir. Os chamados “rolezinhos” estão sendo agendados por jovens e adolescentes destes bairros mais distantes por meio das redes sociais, e têm despertado o medo de comerciantes e frequentadores habituais dos shopping centers. Os primeiros rolezinhos aconteceram em shoppings da periferia, e a presença de seguranças e policiais também ocorreu. A ação deste final de semana seria mais marcante, pois fora escolhido um dos shoppings frequentados pela elite paulistana, localizado no caríssimo bairro do Itaim, um dos que mais concentra investimentos públicos e privados em toda a cidade. Vale lembrar que shoppings centeres ocuparam as páginas policiais dos jornais recentemente por suposto envolvimento em esquemas de propina para ter seus projetos aprovados.
As portas automáticas que dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e passaram a ser blindadas por policiais
A expedição de uma liminar, embora compreensível sob o ponto de vista daqueles que temiam a chegada de centenas ou milhares de frequentadores, digamos, “diferenciados”, escancara o que todos neste país sabemos mas muito poucas vezes falamos: apesar dos avanços institucionais e legais que o Brasil conheceu desde a redemocratização, alguns brasileiros são mais cidadãos do que outros. Alguns espaços são mais exclusivos do que outros. E o consumo, ainda que cantado em prosa e verso como motor da sociedade e supra-sumo da felicidade e da realização pessoal, não é, evidentemente, para todos. É estranhíssimo ver empresários buscando a ajuda do Estado, ainda que seja para obter uma simples liminar com o objetivo de impedir a diversificação de sua própria carteira de clientes. Afinal de contas, a elite brasileira é capitalista ou não?
Essa garotada que hoje tenta frequentar os shoppings nasceu na década de 1990, quando o discurso neoliberal já era hegemônico em nosso país. Cresceram ouvindo dia e noite que política é ruim e que o sucesso é uma conquista individual. Comprados o tênis de marca, o relógio da moda, o celular de última geração, o rolezinho no shopping é o top da ostentação dos que vem de baixo, da base da pirâmide social. E ai encontram o que? As portas fechadas. A porta na cara da molecada de pele marrom é o outro lado da moeda de um país onde uma boa parte da elite parece ser capitalista somente até a página 2. E que no dia a dia, há séculos, busca se apropriar, de todas as formas possíveis, do Estado, a fim de dirigir suas prioridades. Dos vultosos subsídios a setores empresariais ao eterno chororô contra os impostos, do poderoso rentismo que vive da rolagem da dívida pública aos editais amigos de obras e serviços públicos, da sonegação fiscal à domesticação de partidos e candidatos através do financiamento de campanhas eleitorais.
Fernando Henrique Cardoso talvez estivesse certo nos seus livros e artigos sobre a dependência brasileira: nunca tivemos, em nosso país, amplos setores de elite que trouxessem consigo um projeto de nação, destinado a integrar nos direitos, na cidadania ou sequer no consumo os milhões de despossuídos. Quando muito nossa elites têm um projeto de classe, ou nem isso. Ao longo de séculos boa parte delas contentaram-se em intermediar negócios com os países mais ricos e levar sua parte, e a polícia que se vire para segurar a massa mulata e preta das periferias paupérrimas. Sempre foi assim.
Ao lado dessa ignorância preguiçosa de nossas elites, temos a ignorância adestrada de nossos pobres. Quando se vê um garoto carregando um fuzil no meio de uma favela, de uma coisa pode-se ter certeza: ele não quer fazer a revolução e pôr o sistema abaixo. Pelo contrário, a violência é a forma pela qual pretende acessar e usufruir dos bens materiais que outros jovens conseguem obter por meios legais ou aceitáveis. A garotada pobre que se manda em grupos para os shoppings tem o mesmo desejo. Querem consumir os símbolos de status que de uns tempos pra cá imaginam ser acessíveis a eles também. Ignoram, no entanto, que ao invés dos shoppings muito melhor seria se tivessem acesso a teatros, cinemas, bibliotecas, centros esportivos e de lazer, tão ou mais inacessíveis a eles que estes ocos templos de consumo.
O “rolezinho” demonstra o paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala. A muralha que o “rolezinho” escancarou é formada por uma Justiça muitas vezes conivente com a desigualdade social, fato que se expressa em alguns casos como foi em Pinheirinho e agora nos “rolezinhos”.
O TEXTO É BOM, MAS A VIDA É MUITO MAIS COMPLICADA E DIFÍCIL DE SER DEFINIDO POR UMA SIMPLES VISÃO DO MOMENTO DE MENINOS SUJOS, NANICOS OU REMELENTOS…………MESMO EM UMA TENDA DE TEATRO…………………….DEFINIR A VIDA DOS HUMANOS COMO UM COITADINHO SEM SUA PRÓPRIAS RESPONSABILIDADES SÓ CRIAM CAMINHO PARA MAIOR DECADÊNCIA DO PRÓPRIOS HUMANOS.
E QUERER QUE O ESTADO SEJA 100% RESPONSÁVEL POR TUDO É SÓ CRIAR CONFLITOS E TIRA RESPONSABILIDADE DE QUEM TEM QUER TER SOBRE OS REMELENTOS, SEUS PAIS.
O ESTADO TEM BRAÇO FORTE,MAS NÃO TEM CALOR DO ABRAÇO E NEM BOCA PARA O DIÁLOGO DE PAI E FILHO.
Tony Martinez desculpe, mas não consegui ler seu texto todo. Você me parece mais uma vítima da formação equivocada. Que se imprime a alguns povos, inclusive a nós brasileiros. O que você precisa entender é que, se por um lado, a paz somente se consegue com justiça, por outro a justiça não se faz pelos meios da violência. Este tipo de manifestação tem que ser com ordem e respeito. A experiência mostra que movimentos assim sempre descambam da algazarra para a baderna e para o crime contra a integridade física e moral das pessoas e contra o patrimônio das pessoas e das empresas. Esta questão dos ” peles marrons” a quem você insiste em repetir há realmente, mas porque são pobres. Há milhares de galeguinhos dos olhos azuis que passam pelas mesmas dificuldades. Por outro lado há milhares dos peles marrons que não têm estas dificuldades. A questão está na histórica qualidade baixa do ensino público que termina por manter despreparados os mais pobres e, por consequência, sem emprego e renda. O maior e eficiente protesto é votar com independência e sabedoria, buscando colocar no poder o menos ruim. Enquanto continuarem votando no fulano que é amigo ou que lhe facilitou alguma coisa ou que comprou com dinheiro vivo o seu voto, a solução deste problema se adiará cada vez mais.
Lamento, mas cada um tem que assumir as consequências do seu nível econômico. Cada pessoa sempre estará dentro de um nível conquistado. Há pessoas que conseguem ter avião próprio, Iates, outras somente podem ter um carrinho velho, somente uma bicicleta, ou um jegue e muito outro tem que andar a pé. Imagine agora que pessoas de um nível tenham que fazer quebra quebra porque há outras num nível melhor. Não é por aí. Tem que entender o mundo como competitivo e dar de si para crescer. A questão do circunstancial, que torna o progresso mais difícil pra uns do que pra outros, tem que ser resolvido pelo poder democrático do voto. Muitos e muitos casos são de pessoas que nunca quiseram nada com a vida. Outros realmente sofrem as consequência do ser pobre. Lamentavelmente, estes últimos terão suas dificuldades resolvidas mais lentamente.
O protesto é legítimo quando se quer formar uma opinião pública mais solidária contra as chamadas injustiças sociais. Só que estes protestos têm que seguir uma estratégia inteligente para não se reverter a opinião contra os reivindicadores. Então por que não planejar tudo com a participação dos órgãos de segurança? Somente assim se poderá fazer o protesto com ordem, segurança e respeito. Diferente disto, esqueça, teremos cada vez mais problemas novos e cada vez menos soluções para os problemas que se tornam crônicos. Pense nisto!
Deixem que a juventude construa seu futuro! Temos que lutar pelo fim dessas discriminações. Toda mudança causa transtornos, então se querem um mundo melhor e mais justo, aceitem que quem tem capacidade para isso o faça!
O rolezinho sinaliza que a sociedade tem que proporcionar aos jovens mais programas culturais e de fácil acesso, para que esses jovens ocupem seu tempo livre, como agora que estão em férias, e não tenham que marcar rolês como diversão, nem buscar ocupação nas badernas, bebidas ou drogas. Mas as entrelinhas são poucos os que veem.