Diante dos tormentos diários da mobilidade urbana em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), as duas maiores cidades do Vale do São Francisco, o economista Márcio Araújo deixa sugestões pertinentes para minimizar essa realidade.
Boa leitura:
Juazeiro e Petrolina já não são mais, sabidamente, cidades de um cotidiano tranquilo. Ou seja: já se foi a impressão de duas cidades de porte médio pacatas, de mobilidade facilitada e de baixo custo de vida.
No que tange a mobilidade especificamente, os problemas têm se aprofundado diariamente sem que tenhamos, num curto horizonte de tempo, soluções que venham sendo planejadas e executadas. O tráfego entre as duas cidades está cada vez pior, tanto pela verdadeira explosão acontecida com o crescimento da frota de veículos, quanto pela falta de investimentos estruturadores que possam equacionar os problema dos continuados e crescentes engarrafamentos diários em diversas ruas e avenidas das duas cidades.
Algumas iniciativas que aconteceram nos últimos anos, como municipalização do trânsito nas duas cidades, criando-se órgãos municipais e contratando-se agentes fiscalizadores, ajudaram, mas não têm superado os gargalos. Muitos veem apenas como instrumentos geradores de receita, como com a zona azul e autuações de irregularidades, do que efetivamente solucionar os desafios da mobilidade urbana.
Por outro lado, investimentos em infraestrutura retardam a acontecer, como duplicação de avenidas, construção de novos corredores de tráfego, de viadutos, reordenamento planejado do trânsito, incentivo ao transporte coletivo, e pensamentos mais ousados, como implantação de BRT, VLT, ou outros veículos como teleférico entre as duas cidades, ou mesmo ampliar a oferta do transporte fluvial de passageiros (incentivando o seu uso) etc. Além, evidentemente, das ciclovias.
Convém ainda ressaltar que as duas cidades vêm sofrendo também com experiências quase rotineiras que são realizadas no reordenamento do sentido de fluxo em algumas ruas, sem parecer que tenham sido feitos estudos mais aprofundados, e logo em seguida o que fora alterado é novamente alterado. Lógico, essa temática compete aos especialistas. No entanto, atreve-se aqui a propor um debate com a sociedade, para que alguns pontos sejam considerados, quando da discussão desses problemas. Um deles é a sugestão de se analisar junto às autoridades de trânsito, a possibilidade de se proibir o fluxo de veículos acima de “tantas”
toneladas nos horários de pico, nas avenidas que dão acesso à Ponte presidente Dutra.
Algo como entre às 7h e às 8h, ou entre às 18h e 19h. Será que isso não poderia ajudar evitar os rotineiros congestionamentos que vêm acontecendo? Outra sugestão, talvez mais ambiciosa, é propor às autoridades das administrações públicas locais que sejam elaborados dois projetos de duas novas pontes (ainda que seja matéria requentada), uma a montante da atual (para unir o tráfego de cargas intermunicipal e interregional), e outra à jusante da atual (para unir o tráfego de passageiros intermunicipal e interregional).
Algo do tipo, a primeira entre a região do porto de Juazeiro ligando à região do Distrito Industrial de Petrolina. E a segunda, entre a região da Uneb, em Juazeiro, e região da Facape/UPE, em Petrolina. Isso já foi debatido no âmbito da esquecida RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do polo Juazeiro-Petrolina), porém nada avançou.
A novidade aí sugerida seria a proposta da execução sob a modalidade de Parceria Público-Privada ou regime de concessão total à iniciativa empresarial (por prazo determinado) que operaria as duas pontes, cobrando-se pedágio (em tarifas justas) aos seus usuários, e mantendo-se a atual pública e gratuita.
Caberia ao usuário escolher, entre uma única ponte que liga o Centro ao Centro, com situações de continuados e demorados congestionamentos que não serão resolvidos apenas com a duplicação do pedaço que falta em Juazeiro, ou optar em pagar uma tarifa de pedágio e economizar tempo (que é o mais caro, quando se trata de transporte de cargas e passageiros), usando as outras pontes que ligariam as demais regiões das cidades que lhe interessam ou que facilitem o seu destino final.
Ademais, seria muito interessante ver a tradicional Ponte Presidente Dutra e a bonita Ilha do Fogo sem o tumulto atual (que vai piorar muito, em pouco espaço de tempo) para que as pessoas pudessem frequentá-la mais, tornando-se um ponto de visitação turística, requalificando o seu espaço com a construção de equipamentos como um museu, um teatro ou cinema, uma sorveteria ou um café, por exemplo, como o que já é feito nas demais cidades civilizadas do mundo.
Seria imaginar e querer demais?
Márcio Araújo/Economista
Caro Márcio,
Vários são os problemas que acarretam e complicam dia após dia a mobilidade nas duas cidades e na minha visão vou expor alguns:
1 – É impressionante como as coisas na vizinha cidade de Juazeiro demoram acontecer pois quando das obras de duplicação da ponte, enquanto Petrolina viabilizou a duplicação do seu lado, Juazeiro ainda pena com a sua ponte estreita e o seu projeto do anel viário que não sai do papel. Qual a explicação? falta de representatividade política local em Brasília? como explicar se os últimos governos municipais sempre foram aliados dos Governos Estadual e do Governo federal (PT)?
2 – Por que é tão difícil construir uma ponte fora da capital (Recife e Salvador) pois quando passamos 2 anos sem andar numa Capital, quando voltamos sempre nos deparamos com novas pontes e ou viadutos e no caso de Petrolina/Juazeiro, existia até o projeto de uma nova Ponte no Distrito Industrial mais que foi vetada na época pelo Governo Federal pela indisponibilidade de recursos, decidindo-se assim pela duplicação da Ponte Presidente Dutra, perpetuando assim uma medida paliativa. No caso de Petrolina, bem que poderia existir uma descida de veículos vindo de Juazeiro pela Cardoso de Sá (Orla) pois o fluxo de veículos está muito grande e boa parte desses veículos vão em direção a Bairros que seria melhor seguir o trajeto pela Orla, desafogando assim o trânsito da Av. Guararapes.
3 – Em Petrolina, intervenção naqueles cruzamentos Ceape/Rádio Grande Rio AM, Areia Branca/José e Maria, se faziam mais do que necessário como em outros pontos com aqueles semáforos bizarros de 4 tempos como o da “Curva de Maria Maga” mas a Duplicação se fazia mais necessária na BR do Loteamento Recife/Vila Marcela.
Concordo, principalmente no item 3. Essa saída da cidade está um caos.
Excelentes e pertinentes sugestões. Acho que um dos primeiros pontos é se pensar no macro da mobilidade das cidades, chegamos a duas cidades que juntas têm aproximadamente 600mil habitantes e com uma frota de veículos que só cresce. Um segundo ponto seria contratar profissionais qualificados na área de mobilidade, pois não vejo no quadro em nenhuma das duas cidades, para de fazer intervenções por tentativa e erro, é o que temos visto. Quando se faz uma intervenção, não se testa antes, não faz um estudo da área de abrangência para saber até que área a mudança vai impactar e buscar soluções como pavimentação de vias que desafogam grandes avenidas; como é o caso da rua João Campos em Petrolina, que é larga e poderia ser via de acesso entre av. da Integração e Av. 7 de setembro ou vice versa, dentre outras. Poderia se fazer alguns binários, que é obra de baixo custo e por aí vai. O que não pode mesmo é ficar tentando e errando por falta de planejamento, como foi o caso do monumento da Integração, quantas intervenções; foi estudado o impacto delas, pois ali, afeta uma área grande e não só aquela rotatória e é isso que sempre bato na tecla, falta muito planejamento.