A seca castiga o nordeste e os sertanejos e para minimizar seus efeitos, o poder público busca alternativas para abastecer comunidades inteiras, como a perfuração poços, instalação de cisternas, criação de barreiros, e as conhecidas adutoras.
Neste artigo, Maurízio Bim, assessor de comunicação da prefeitura de Curaçá, na região norte da Bahia, conta a história do sistema de abastecimento aplicados nos anos 80, os reservatórios e tratamentos de água para abastecer as comunidades e a promessa da Adutora do Forró.
O sonho de levar água do Rio São Francisco para Barro Vermelho é antigo. O Distrito fica há dezenas de quilômetros distante do Rio e está localizado na área de sequeiro do município de Curaçá onde há alta evaporação e as chuvas são mais escassas e irregulares em quantidade e distribuição durante o ano. O resultado disso sempre foi um déficit hídrico histórico para humanos e animais domésticos, especialmente.
A água obtida para consumo da população era proveniente de cacimbas ou barreiros. Quando os barreiros (aberturas amplas no solo onde se acumula água de chuva) secavam já na primavera, a busca era pelas cacimbas onde a água, de profundas depressões, minava e servia para consumo doméstico e reidratação do gado. A busca por limpeza de barreiros e de cacimbas sempre foi uma alternativa considerada pelas comunidades de Barro Vermelho e Poço de Fora. No meu livro, História da Imprensa de Curaçá (página 62), ficou registrada uma solicitação do então Vereador José Luiz dos Santos (Zé Lunguinho) para construção de uma barragem m Caraíba dos Gomes (Barro Vermelho) para minimizar os efeitos da seca.
Mais tarde, nos anos 90, um poço instalado pelo Governo Estadual, serviu por algum tempo tanto àquela localidade quanto a Barro Vermelho, uma vez que os comunitários do Povoamento iam buscar água ali. Vários registros também de falta de água para consumo humano em Barro Vermelho foram feito no curaçaense Jornal Asa Branca, que existiu de 1980 a 1982. Uma alternativa era água de pipa vinda do Rio São Francisco, mas deveria atender todo o povoamento e havia reclamações de filas enormes e insuficiência do produto. Hoje em dia o Governo Federal, por meio do Ministério da Integração e sob coordenação do Exército Brasileiro, atende Barro Vermelho, inclusive o Povoamento (sede do Distrito), com a Operação Pipa, especialmente após instalação de algumas cisternas comunitárias na Localidade.
No fim dos anos 90, o Governo Estadual perfurou um poço tubular que foi utilizado até 2010, mas ele tinha água muito salobra, “mesmo para o animais”, como diz na matéria do ‘Asa Branca’. Também era difícil de dessalinizar, e que prejudicava tanto o conjunto hidráulico quanto as demais peças do sistema de saneamento local, o qual ficou totalmente instalado em 1996, quando a Companhia de Engenharia Rural – CERB da Bahia, disponibilizou reservatórios, adutoras e sistema dessalinizador (ver fotos).
A operação começou a ser feita pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE de Curaçá em meados de 1997 (para Barro Vermelho e Poço de Fora). Essa Autarquia Municipal recebeu a concessão do Sistema pela Prefeitura de Curaçá e então passou a tarifar e fazer as cobranças dos serviços de saneamento e fazer a manutenção geral, o que realiza até agora. Em acordo com a Comunidade, o SAAE tarifava a água salgada que ia para as torneiras e distribuía a dessalinizada no chafariz, também construído pela CERB em 1996 e mais tarde diretamente nas torneiras em datas e horários determinados. Houve diversos momentos críticos em que houve problemas no dessalinizador e outros nos reservatórios e teve diminuição de água nos poços tanto em Barro Vermelho quanto em Poço de Fora.
Houve vários momentos críticos de falta de água durante a gerência do SAAE nessas localidades devido problemas de manutenção do sistema dessalinizador. Isso provocou até a iniciativa do então Diretor da Autarquia, Hélon Burgo, em buscar junto ao Governo Estadual uma adutora para levar água do Rio até o Distrito. Segundo dados do SAAE, a ideia era partir em linha reta numa localidade chamada de Barra Grande, próximo à divisa com Curaçá, mas no município de Juazeiro. Tudo foi projetado e o planejamento entrou na fila de prioridades, mas não veio a ser aprovado e o projeto foi arquivado sem esclarecimentos das partes.
É provável que faltou o mesmo apoio político que o Projeto SIAA teve, especialmente com a entrada de Adelmário Coelho. Tentamos uma entrevista com Hérlon, mas não fomos atendidos. “Em 2006, o Prefeito Aristóteles solicitou que Hérlon operasse a Adutora Vale do Curaçá, construída pelo Estado para dar água do Rio aos animais. Era administrada pela FAESA e por fim pela Central das Águas. Nunca chegou água a Poço de Fora por ela e nós operamos por 3 meses, mas tinha muitos problemas”, revelou André Félix, Operador do SAAE de Curaçá em Poço de Fora.
O certo é que o problema de abastecimento continuou e se acentuou com a grande diminuição de vazão nos poços mananciais e houve até anulação da tarifa (cobrança) durante o período mais seco de 2007 a 2011, inclusive o SAAE realizou audiências públicas nessas comunidades em 27/5/2008 (dados da Revista Cura’Saae, junho de 2008 e setembro de 2009) pautando o racionamento.
A tarifa de cobrança de água é estabelecida pela Lei Municipal Nº 355/2000, mesma cobrança que acontecerá após a Prefeitura dar concessão à empresa que deve gerir o Sistema Integrado de Abastecimento de Água – SIAA de Curaçá, mais conhecido como Adutora do Forró. A Prefeitura sinaliza que o SAAE deve receber essa concessão e passar a gerir o SIAA, inclusive funcionários da Autarquia já se fazem alguns testes juntamente com trabalhadores da MRM, empreiteira que fez a Obra, que teve recursos do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC da ordem de 17.896.645,26 (dezessete milhões, oitocentos e noventa e seis mil, seiscentos e quarenta e cinco reias e vinte e seis centavos). Além do PAC, houve também recursos do Estado da Bahia, que inclusive fez o trabalho de fiscalização da Obra, por meio da CERB.
Embora o Projeto contemple 14 mil pessoas, deve atingir logo de início mais de 18 mil, uma vez que quatorze mil é menos que o número inferior à população da sede Curaçaense. “Para mim foi uma benção, um sonho realizado, mas me preocupo imensamente com o Rio, porque a população não tem consciência de que tem que economizar essa água para não ficar sem ela no futuro”, disse Ana Patrícia Fonseca, moradora de Barro Vermelho, a qual enfatizou bastante a degradação pela qual passa o Velho Chico. “Demorou tanto para essa água chegar, agora temos medo de que ela acabe”, concluiu. (Fotos: Arquivo Revista Saae – antigo sistema com reservatórios e dessalinizador)
Maurízio Bim/assessor de comunicação da Prefeitura de Curaçá.