Autor da biografia de Ana das Carrancas (A Dama de Barro), o jornalista, professor e escritor Emanuel Andrade publicou neste fim de semana um poema novo para refletir sobre a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) que assola o mundo. O texto, inclusive, deve integrar seu próximo livro que está organizando para até o final do ano, em formato físico e digital.
Vejam os versos do inédito ‘O Surto’:
O SURTO
Dias sem risos largos,
em cores pardas.
Pensamentos em preto e branco.
Dias minimalistas e neurais:
O mundo a transgredir em dor na mais
completa telepatia, fechando fronteiras
por entre o mapa da terra.
Dias de comoção e espanto no gosto
amargo a escorrer nos lábios sem voz.
Lágrimas diagramadas em diversas faces de tantas gerações.
Dias em que a manhã trava a tarde e
Contorce a noite.
Notícia de súbito sufocando até
a xícara de café com pão adormecido.
Uma coruja perplexa nos fios elétricos
roda a cabeça a tentar entender
porque o mundo paralisou entre pessoas mascaradas inflando o peito.
Manhãs invadem a tarde nos leitos da pandemia,
e noites assolam a madrugada na escuridão do medo.
Os pássaros noturnos sem rumo
clamam a esperança dourada do próximo sol.
E o mudo vai girando e girando na lógica concreta de um relógio que marca os segundos e minutos doídos com seus
ponteiros de batidas previsíveis.
Mas logo ali, onde se busca
uma estrada de emergência
há esquina de um beco sem saída,
onde cego entoa seu cântico cru
catando versos sublime
e grita baixinho (em voz de meditação)
que a calma iluminará a fresta de
um novo mundo novo,
talvez ao som de harmonias alinhavadas
pelas mãos de anjos invisíveis,
tocando a harpa de cada continente
a olhos e ouvidos abertos e atônitos,
Contudo, atentos por um mundo melhor.
Um mundo em que se reconheça de coração sem tamanho e nem cor,
as criaturas humanas,
cuidadas e cuidadoras,
entre máscaras e agulhas
no horizonte indefinido da ciência
que haverá de dizer não mais a dor.
Emanuel Andrade/Jornalista, Professor e Escritor