Artigo do leitor: "Que os filhos mandem prender os pais"

Artigo do leitor: “Que os filhos mandem prender os pais”

por Carlos Britto // 22 de janeiro de 2015 às 21:37

Neste artigo enviado ao Blog, o professor Otoniel Gondim faz uma análise nua e crua do recente resultado catastrófico dos estudantes no Enem 2015. Confiram abaixo:

O que seria muito do bem feito. Explico, leitor surpreso e dos olhos arregalados, a dispoisinho. Combinado, então. O ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, nada mais fez do que confirmar e tirar debaixo do tapete o que qualquer ser, principalmente os bons observadores da realidade, já sabiam há muito e muito. O ENEM 2015 jogou tudo e para todos sentirem na pele, tanto a nossa cidade, quanto o nosso imenso país. Para que providenciem rápido, feroz e radicalmente um remédio para o câncer instalado na educação, na cultura e no comportamento da contemporânea criança, jovem, adulto, idoso.

É quase que toda a nação e a nação toda, quase que toda a cidade e a cidade toda de Juazeiro-BA. O negócio, leitor, não ria não: tá feio, fedendo, f… mesmo, muito do feio. Refiro-me às últimas provas, às ultimas notas do ENEM. No geral uma baixaria de baixo nível escolar dos concorrentes. Pobrezinhos, que vergonha, não foi caras sem-vergonhinhas?

O maior horror deu-se nas notas de REDAÇÂO, RREDAÇÃO, REDASSÃO, REDACÃO. Um horror mais que horripilante. Frankensteins de escritos. Pois pois pois bem: cerca de 6.000.000, mais de meio milhão, de alunos fizeram logro no impossível e, será que foi combinado para ridicularizem os seus paizões (chegando que chegando lá?), tiraram o máximo do máximo do mínimo do mínimo permitido pela regra da correção: ZERÔÕÕÕÕÕÕ.

Para sorriso amarelo desdentado não tiraram notas negativas por ser impossível isso! Eis o tormento (felizmente há remédio para melhoras e amenizações dessa dor. Há, sim… igual propaganda da carne Friboi, muito confiável). Que as escolas, os meios de comunicação sérios, a sociedade e – tem que passar por eles – os pais com ainda restos de dignidade, enfrentem com coragem, energicamente, sem frescuras aviadadas, tudo sem cuspe e sem pena. É botarem os filhos para redigirem e bem. Ora, ora, ora, não existem milagres nessa empreitada humana, nessa história de escrever.

Há meios, dô-la a quem doê-la, ao alcance das mãos, bem embaixinho dos narizes. Pergunte-se. Leitor escritor, por que uns fazem boas e ótimas redações e outros se lascam, se arrombam, se fodem? Uns são mais iguais que outros? Ninguém nasce escrevendo, sabendo, lendo, alfabetizado, letrado.

A diferença nas notas de redação do ENEM tem motivos claros, indissolúveis. É porque tem gente lendo, escutando boas músicas, frequentando teatros, assistindo bons programas, conversando com quem tem algo a acrescentar de útil, importante. E tem gente se dinamitando, se bombando de besteiróis, de futilidades, escrotices vãs, e não lendo nem bula de remédio, somente escutando os pablitos da vida e se acercando de pessoas de conversas pífias, fofoquices. Desse jeito, mainha, não há cérebro que não se reduza a inteligência meramente vexatorial.

E aí vem a danada da pergunta, leitor, leitor, leitor… Quem, quais são os culpados de colocarem e criarem crianças e jovens para nos fazerem pertencer à casta de uma geração de nanicos analfabetos culturais? Existem vários culpados para isso, inclusive os próprios alunos…Num sei não, Lampião, a história tem mostrado uma outra história ao longo dos tempos. Os pais, uma imensa multidão de pais que são os pseudo-pais, são os maiores responsáveis…Deixam os seus filhos à mercê dos Léo, do saber vácuo…À mercê das coisas abutres que infernizam a boa aprendizagem educacional, a não cultura leviana.

Os pais que não fazem nada e não se esforçam o mínimo bastante para que os filhos saiam dessa podridão. Em suma, não colocam os filhos para ler e manter mecanismos para até afugentá-los da leitura. Lê. Lê. Lê. Para escrever, escrever, escrever. Ler é escrever! Lendo se aprende conhecimento e se avoluma de conteúdos, as palavras fluem, articulam-se bem as frases e parágrafos, as introduções, os desenvolvimentos, chegando a conclusões belas, de um texto, artigo, ensaio, crônica, poesia…de uma redação! Lendo se escreve correto, bonito de se ler. Quem sabe e gosta de ler, escreve bem. O resto é balela, papo furado pra boi dormir.

Pais pseudos quanto a esse erro desumano, não se enganem não: os filhos mais tarde irão cobrar, irão imputar a responsabilidade mor de os terem ajudado a serem reduzidos a ‘Zés Ninguéns’, lixos culturais e intelectuais, até ficarem, hoje, sendo motivos de chacotas e piadas, pelos amigos, colegas, sociedade. Que por destituídos da boa leitura etecétera e tal, situam-se há milhões de anos-luz no tempo.

Os filhos assim podem mandar prender os pais! Na ordem da “burrice” dos jovens que não leem patavina que preste, estão: Músicas sem mensagens, programas idiotas, filmes ruins, falta de teatro, aversões gratuitas a bibliotecas e museus, debates educacionais e os vícios nas ferramentas ignóbeis e bestiais da Internet. Tb, vc, pq… puta que pariu! De qualquer forma, se assim as partes o quiserem, ainda está em tempo. Se virem agora com os seus filhos, papais nanicos…e os façam, junto a vocês, crescerem no tempo, no espaço no coração e na razão. Vamos com eles aos livros???

*** Cabe bem um Mário Quintana: “O Analfabeto não é aquele que não sabe ler. É Aquele que sabe ler e não lê”.

Otoniel Gondim/Professor, Escritor e Compositor

Tags: Críticas, Enem, Estudantes, Leitor, Redação