Por meio de artigo enviado ao Blog, o leitor Laurenço Aguiar faz uma reflexão sobre o atual cenário político e social de Sento Sé. Segundo ele, o município enfrenta graves problemas e sofre de “uma gravíssima situação de atraso social”.
Acompanhem:
A população de Sento-Sé é formada de boas pessoas, suas condições humanas são incomparáveis com a “grande” arrecadação pública municipal per capta e com o enorme potencial natural favorável ao desenvolvimento sustentável que tem. Faço essa reflexão baseado em treinamento de Análise de Realidade Social e em avaliação feita pelo experiente comunista e jornalista Antônio Britto (autorizado por ele), que morou em Sento-Sé de 2005 a 2008 e que certa vez me fez diversas afirmações observadas por ele: “uma gravíssima situação de atraso social; baixíssima compreensão de direitos, deveres e valores da cidadania”. Ele que, trabalhando, andou do Oiapoque ao Chuí, viu que Sento-Sé era a mais grave situação de debilidade em termos de experiências de organização social municipal.
Viu que a sociedade não favorece que pessoas com forte noção de justiça e democracia tenham sucesso eleitoral. Nem em cidades garimpeiras, quase sem lei e sem ordem como algumas que conheceu na Amazônia, a população agia assim, pois as pessoas não tinham nascido ali, mas pensavam na família, nos filhos, amigos e na possibilidade de lá ficarem para o resto da vida, disse ele, e que era como se “as pessoas daqui ainda não tivessem se desligado do chamado Reino Animal, de tanto ignorar que a cidade é o lugar de morada de seus entes queridos”. Colocou essa visão em comparação com os filhos de Sento-Sé, que segundo ele, “não parecem estimar nenhuma dessas preocupações”.
Por minha vez, observo que o povo veio passando por um enorme processo de alienação, deformação social e ensinamentos adversos à condição de cidadania. O Sistema Educacional Municipal foi forjado absolutamente dentro dessa terrível lógica. De forma que o posicionamento moral e político-social de quem chegou ao Nível Médio e Superior se confunde com o de quem ficou analfabeto, ou mal aprendeu a escrever o nome, ressalvando as exceções.
Tá claro que o Sistema Político predominante vem da tradição local, da força do coronelismo que embriagou a população de medo, pois criou os mecanismos de violência como autoproteção. Uma enorme parte da população chega ao cúmulo de não se incomodar com a falta dos Serviços Públicos, em detrimento do favor, ficando assim com medo de combater a qualquer ato ou ocupante de cargo público nocivo à saúde, à cidadania e à vida.
“Sento-Sé está funcionando hoje como se fosse um espaço de legítima atuação do crime organizado, sem que para isso seja preciso criar senhas nem códigos como nas favelas das grandes cidades; e que só um Programa Educacional específico e sério poderá servir de base para ajudar a salvar a população de Sento-Sé”.
Porém, Sento-Sé não é um caso sem jeito, pois nenhum lugar nasce para se acabar na mesma situação anterior!… Apesar dos pesares, aqui existem pessoas com postura política social exemplar e diversos exemplos históricos positivos, além de perspectivas de melhorias diversas.
Laurenço Aguiar/Leitor