Artista plástico petrolinense que deixou para trás vida de agricultor expõe trabalho no Sesc até 5 de maio

por Carlos Britto // 28 de abril de 2013 às 21:35

529604_4803485757275_1420968890_nTema tão antigo e ao mesmo tempo tão novo, a libertação humana – questão tanto debatida por filósofos no decorrer da História e elemento ainda muito discutido nas mais diversas e complexas relações sociais da época – foi também a inspiração do artista plástico Ranilson Viana, de 26 anos, que expõe as suas obras até o próximo dia 5 de maio, na Galeria Ana das Carrancas, localizada no Sesc Petrolina (Rua Dr.Pacífico da Luz, Centro).

Com o tema “Espaço Corpo: poéticas da matéria”, a exposição traz um cenário marcado pela cronologia da arte desde os tempos remotos. Outro elemento presente é um livro de anatomia que simboliza tanto a paixão do artista pelo tema quanto uma das principais características de suas esculturas. Essa é a primeira exposição do artista plástico.

A primeira escultura com que o público se depara na exposição chama-se “Pulo da liberdade”, na qual duas mulheres pulam de mãos dadas por dentro de uma parede. Para o autor, as peças podem ter vários significados e interpretações, mas, com essa peça, ele quis passar uma mensagem sobre a homossexualidade. Paralelo a isso, Ranilson Viana deixa claro que não possui nenhum tipo de preconceito. Inclusive a escolha da cor da pele das mulheres – uma mais escura que a outra – fortalece essa declaração. O artista esclarece que tal produção foi motivada pela constante abordagem da mídia sobre essa temática, e a parede representa justamente a repressão sofrida pelos homossexuais.

A peça intitulada “A oportunidade” mostra um homem afundando na lama que luta para agarrar-se a uma corda. “A amizade” é outra peça que chama bastante atenção; ela retrata o drama de um homem que, mesmo em uma situação crítica, se esforça para ajudar o amigo, que está em piores condições. As esculturas são feitas de plastilina – um material sintético que leva cerca de um ano para secar, possibilitando, assim, a mudança e/ou o aperfeiçoamento do trabalho durante esse período. Isso facilita ainda mais o trabalho de Viana que busca constantemente pela perfeição de suas obras. “Para mim, uma peça nunca está terminada, sempre tá faltando alguma coisa”.

Libertação

Ranilson Viana nasceu na comunidade de Cristália (zonal rural de Petrolina) e amava desenhar desde pequeno. Ainda muito novo começou a trabalhar como agricultor para ajudar a família, mas não esquecia o desenho. Depois de um ano trabalhando com uva nos projetos, decide procurar outro meio de vida: deixa a vida de agricultor e passa a se sustentar da arte. “O artista só precisa de um emprego para morrer, pois se arranjar outra forma de ganhar dinheiro e garantir a vida não vai mais focar na produção”. Foi a partir desse momento que afirma ter conseguido a libertação pela qual hoje influencia em suas produções artísticas.

Mesmo sem frequentar uma escola de arte, Ranilson expandiu suas atividades artísticas experimentando a pintura e a escultura. Foi no Centro de Artes Ana das Carrancas que seu trabalho ganhou profissionalismo. “Foi lá que eu descobri que não era nada. Lá eu aprendi a ver, a observar o mundo e os detalhes. Percebi que ainda podia melhorar muito”.

Segundo ele, o estudo da anatomia humana permanece em estado de evolução e se apaixonou pelo tema quando começou a estudar escultura tradicional e o Realismo. “Eu queria algo que fosse diferente da escultura tradicional, do Realismo, e que entrasse um pouco no contemporâneo”. Mas, para o artista, o maior valor de suas peças é o sentimento.

Trabalhos e aspirações

Além das esculturas, Ranilson Viana também produz tela, busto e ponto de letra – arte com a qual faz caricaturas de pessoas com letras do alfabeto, podendo ser constituída com o próprio nome da pessoa que está sendo ilustrada. Personalidades como Eduardo Campos, Zezé de Camargo, Elba Ramalho, a dupla Vitor e Léo e Mariana Ximenez já foram homenageados pelo artista com artes dessas. O autor explica que desenhar pessoas importantes também é uma forma de divulgar o seu trabalho, o qual garantiu reconhecimento através do Facebook, onde posta algumas fotos de suas obras.

Atualmente, Ranilson está terminando um busto com destino ao Rio de Janeiro e tem um projeto para fazer uma escultura de 10 metros para expor, provavelmente, na orla de Petrolina ou na Ilha do Fogo, mas ainda está buscando ajuda financeira. Ele já é destaque na região, mas almeja o reconhecimento no mundo e tem como meta estar entre os cinco melhores do Brasil. (Com a colaboração de Paloma Jasmini/para o Blog)

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