A onda de frio que atinge os sertanejos desde o último mês de junho tem causado estragos à agricultura em Petrolina, despreparada para a súbita queda de temperatura. Na zona rural da cidade, o frio provocou a quebra de safra, o surgimento de pragas e uma perda de 70% da produção de culturas como a acerola.
“A situação está mais ou menos. Estamos colhendo pouco, o suficiente pelo menos para pagar a água [da roça]. Em 2016, chegávamos a 40, 50 caixas por colheita/dia, e este ano caiu para 10, 12 no máximo. Se a produção é pouca, o dinheiro reduz. O problema é que as contas não deixam de chegar”, diz o produtor familiar Isaías Alves, que cultiva acerola em um hectare no N-4 do Perímetro de Irrigação Senador Nilo Coelho.
Segundo ele, a queda de produção não causou até agora um aumento no valor do produto, o que tem intensificado as despesas. “As empresas que pegam acerola para fazer polpa, compram por R$ 28 a caixa, se você tiver alguém ajudando na colheita, o custo é de R$ 8 a unidade; então sobram R$ 20 para despesas da roça, da casa, de tudo”, criticou.
Mesmo com a temperatura mais baixa na região, estudiosos afirmam que vários fatores contribuíram para a perda de produção. Para o agrometeorologista da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Júlio César de Melo Jr, a elevada nebulosidade, a pouca irradiação solar e a redução de insetos polinizadores podem ter influência num cultivo. “Esse fato [quebra de safra] está ocorrendo também com outras culturas aqui no Vale [do São Francisco]”, explicou.
Problemas e soluções
Outro problema encontrado pelos agricultores familiares é a falta de experiência em lidar com a colheita nesse período. De acordo com Melo Jr, uma solução seria as casas de vegetação. “Embora as extensões das roças e os invernadouros sejam muito caros e fora da realidade desses produtores”, salientou.
Segundo Isália Damacena, presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina (Sintraf), que tem observado a quebra de safra, os problemas da categoria não estão sendo acompanhados pelo Poder Público ou órgãos de Estado. “Não vimos nem mesmo pesquisadores indo aos projetos analisar os resultados das baixas temperaturas, para nos ajudar nas estratégias e previsões para os próximos meses ou ano”, concluiu ela. Com a palavra, as autoridades do segmento. (foto: Ascom Sintraf/divulgação)