Os bancos brasileiros têm em conjunto um estoque de pelo menos 100 mil carros recuperados de clientes inadimplentes, o equivalente à metade das vendas mensais de veículos novos no país, para desovar no mercado de autos usados. Esse estoque é mais um motivo de pressão no segmento de usados, que vive queda sem precedente nos preços e cuja falta de liquidez trava as ações para retomar a venda de carros novos. Os principais bancos que financiam veículos relatam que o volume de recuperação cresceu de 20% a 30% no início do ano em relação ao que acontecia até setembro. Já leiloeiros e empresas terceirizadas de recuperação veem alta de até 50% no número de veículos que costumava chegar aos pátios. Segundo o Banco Central, o sistema financeiro tinha uma inadimplência média de 4,3% em dezembro, o maior nível desde 2002. Se todos esses carros voltassem ao mercado, somariam até R$ 3,506 bilhões – o valor efetivamente recuperado, no entanto, é sempre menor do que a inadimplência total porque os bancos procuram esgotar todas as possibilidades de negociação.
Bancos tem estoque de 100 mil carros
por Carlos Britto // 25 de fevereiro de 2009 às 11:30
Os 100 mil (veículos retomados) estão dentro dos padrões normais. É um pouco mais de 1% dos financiamentos.”Disse Sergio Reze, presidente da Federação dos Revendedores de Veículos.
“Maior leiloeiro do país, Luiz Fernando Sodré Santoro, afirma que vendeu em janeiro em seu pátio em Guarulhos 20% mais do que em janeiro passado”.
Verdade
Aqui, os dados desmentem as conclusões da distorção. É evidente que todo aumento de estoque de carros usados em tese pressiona as vendas de novos. A questão é saber se esse volume mostrado representa uma pressão efetiva ou não. Segundo dados da própria matéria, não.
Apesar da preocupação crescente com a inadimplência, o volume de carros retomados representa pouco mais de 1% dos 9 milhões de veículos alienados no país, segundo a Fenabrave (associação das concessionárias). Na conta dos bancos, de cada 4 financiamentos inadimplentes, apenas 1 termina com a retomada.
“Os 100 mil [veículos recuperados] estão dentro dos padrões normais. É um pouco mais de 1% dos financiamentos. Se fosse uma coisa de outro mundo, viraria um negócio para a gente [concessionárias]. Se os leilões vendem, não há encalhe. O problema dos bancos acaba virando um negócio para terceiros”, disse Reze.
Dados que escamotearam
Em 2007 a carteira de financiamento dos véiculos do Bradesco era de R$ 59 bi. Em 2008, de R$ 73,6 bi. Em 2007 o volume de carros recuperados era de 0,10% da carteira; em 2008, de 0,35%. Por enquanto, números irrisórios.