Bioeconomia é aposta para uso da Caatinga no desenvolvimento do Semiárido

por Carlos Britto // 27 de maio de 2024 às 20:00

Foto: Ascom

O avanço da pesquisa científica, aliado às iniciativas dos mais diversos segmentos da sociedade, revela um grande potencial de uso da caatinga para o desenvolvimento sustentável do Semiárido. O bioma apresenta uma expressiva riqueza de plantas, animais e micro-organismos que podem ser aproveitados de maneira sustentável, conforme os princípios da bioeconomia, que é um modelo de produção baseado no uso de recursos biológicos em substituição aos recursos fósseis e não renováveis, gerando valor com sustentabilidade ambiental.

O modelo é um foco estratégico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que busca soluções para os desafios da agricultura nacional. A Embrapa Semiárido já trabalha há décadas com componentes da bioeconomia, organizando e comunicando a importância e as oportunidades que esse modelo traz para a caatinga.

Entre os recursos biológicos do bioma estudados pela Embrapa estão os micro-organismos com potencial para a produção de insumos biológicos para a agricultura. Um exemplo é a prospecção de bactérias nativas capazes de fixar nitrogênio, suprindo as necessidades das culturas de forma econômica e sustentável. Além disso, a flora da caatinga oferece potencial para a extração de óleos essenciais de plantas nativas, utilizados no controle de pragas e doenças na agropecuária, bem como na indústria cosmética e farmacêutica.

A população local tradicionalmente utiliza as plantas nativas para diversas finalidades, como o extrativismo e o cultivo de fruteiras nativas para a produção de doces, compotas e bebidas. A pesquisa tem colaborado para desenvolver e aprimorar esses produtos, em parceria com o setor produtivo. Cadeias produtivas de leite, queijos e carne, especialmente de caprinos e ovinos, são estruturadas com base no uso da caatinga como fonte de alimentos. A Embrapa atua na identificação de espécies nativas com potencial para cultivo como forrageiras, nutritivas e tolerantes à seca.

Impacto social e sustentabilidade

A participação dos produtores locais, em conjunto com pesquisadores e tomadores de decisões, é fundamental para enfrentar os desafios e valorizar a Caatinga, promovendo a melhoria das condições de vida da população rural. Diversas outras oportunidades de uso do bioma, como a criação de abelhas nativas, uso florestal, madeireiro e ornamental, são objeto de pesquisa e desenvolvimento.

Durante o Seminário de Bioeconomia na Caatinga, realizado pela Embrapa em Petrolina, esses temas foram amplamente discutidos, destacando a importância da bioeconomia para a conservação, valorização e regeneração da biodiversidade do bioma.

Bioeconomia no cenário global

A bioeconomia tem colocado o Brasil em destaque no cenário global, com a proposição de um grupo temático para debater questões relacionadas, chamado GIB (Iniciativa G20 de Bioeconomia). Este modelo visa não apenas à descarbonização dos setores produtivos, mas também à inclusão socioprodutiva, redução de desigualdades e conservação da biodiversidade.

A caatinga, um ecossistema exclusivamente brasileiro, possui uma biodiversidade extraordinária e pouco conhecida. Pensar em um plano integrado de pesquisa, desenvolvimento, inovação e negócios para o bioma é essencial para promover a sustentabilidade e a resiliência às mudanças climáticas. As experiências na Amazônia demonstram que agregar valor à biodiversidade pode transformar a riqueza biológica em riqueza social e econômica, beneficiando as populações locais.

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