Em 2024, completa-se uma década da descoberta de uma espécie de borboleta, batizada primeiramente com o nome Pheles caatingensis, e posteriormente de Melanis caatingensis, em referência ao bioma Caatinga. A espécie foi encontrada em 2014 pelos biólogos do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna), vinculado à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). Isso simboliza um marco significativo tanto para a comunidade científica quanto para a preservação ambiental. Grupos da borboleta foram avistados nas regiões de Brejo Santo, no Ceará, e Cabrobó, em Pernambuco.
O responsável por essa descoberta foi o biólogo Carlos Eduardo Nobre, na época um dos pesquisadores responsáveis pelo monitoramento da entomofauna (fauna de insetos). Relembrar o achado, desde que o inseto foi avistado e catalogado, representa não apenas um avanço na catalogação da biodiversidade brasileira, mas também um importante indicativo de preservação ambiental nas áreas onde a espécie foi encontrada. A espécie só ocorre em matas ciliares (margens de rios), e a presença dela nessas regiões sinaliza que, apesar dos desafios ambientais enfrentados, ainda existem áreas de conservação significativas na caatinga que permitem a sobrevivência de espécies raras e pouco conhecidas.
De acordo com Eduardo Nobre, a descoberta de uma espécie de borboleta até então não descrita pela ciência, em uma área relativamente antropizada, revela quão pouco se sabia sobre os insetos da caatinga. “As atividades de monitoramento de fauna relacionadas ao PISF foram e continuam sendo muito importantes para conhecer espécies e suas relações com o ambiente, para sua catalogação e na identificação de impactos oriundos da modificação da paisagem pelo homem. Desde sua descrição, foram feitos diversos registros da agora recategorizada Melanis caatingensis, a borboleta-ribeirinha-da-caatinga, em outros locais do semiárido, mas sempre em ambientes associados a cursos d’água similares àquele onde ela foi primeiramente achada, o que revela o potencial bioindicador dessa borboleta”, ressaltou.
O pesquisador ainda destacou que onde a floresta ciliar é removida, a borboleta desaparece, juntamente a diversas outras espécies da fauna que dependem de habitats mais úmidos no meio da caatinga. “Florestas ciliares são protegidas pela lei brasileira, mas sabemos que seu cumprimento é por vezes negligenciado. A manutenção do esforço científico através do monitoramento de espécies como a borboleta-ribeirinha-da-caatinga torna fácil a identificação de impactos desse tipo e precisa ser incentivado pelo poder público”, finalizou.
A professora e coordenadora do Cemafauna, Patricia Nicola, destaca que a manutenção e preservação de exemplares como a Melanis caatingensis em acervos científicos é crucial para o avanço contínuo da ciência e a conservação da biodiversidade. “Esses acervos, distribuídos por diferentes instituições de pesquisa, como o Cemafauna, desempenham um papel fundamental na garantia de que essas espécies sejam acessíveis para futuras pesquisas e estudos comparativos. Eles permitem que a ciência continue a desvendar as complexas relações ecológicas e evolutivas dos organismos, além de apoiar esforços de conservação in situ e ex situ, assegurando a perpetuação do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira”, destacou.
Impacto
O impacto dessa descoberta transcende os limites acadêmicos, gerando maior conscientização sobre a importância da preservação ambiental e destacando a necessidade contínua de investir em estudos científicos que possam contribuir para a proteção da biodiversidade. Celebrar este marco reafirma o compromisso do Cemafauna, assim como da Univasf e do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, com a pesquisa e a conservação, aspectos fundamentais para o futuro da fauna e flora deste bioma exclusivamente brasileiro e único no mundo. As informações são da assessoria da Univasf.