Instituído em 15 de novembro de 1954 pelo padre Teofânio, o Circulo Operário de Juazeiro nasceu como entidade filantrópica com o objetivo de reforçar a luta dos operários nos anos 50 e auxiliar no desenvolvimento social.
Hoje, o Círculo aluga suas salas para pequenos comerciantes e oferece diversos cursos à população, a exemplo das aulas de Artes Marciais disponibilizada a preços populares, Cursos de Corte e Costura e Informática. Neste artigo, o estudante de Jornalismo da Uneb, Krishnamurti Silva de Lima, destaca lembra a trajetória da entidade. Confiram:
Círculo Operário de Juazeiro: 60 anos de história e contribuição à sociedade do Vale do São Francisco
A instituição filantrópica nasceu num período marcado por reivindicações do proletariado e sobrevive, até hoje, graças ao empenho dos seus associados.
No Brasil, os anos 50 foram marcados por inúmeras movimentações e avanços nos mais diversos âmbitos. A década, que ficou conhecida como “anos dourados”, culminou também em várias manifestações de caráter popular. Querendo vez e voz, a classe proletária se uniu contra a burguesia – caracterizada pelos detentores dos meios de produção – e a favor de melhores condições para sua categoria. Para a fortificação do movimento, a Igreja Católica foi fundamental, pois através de apoio de padres os operários conseguiram formar centros de encontro e apoio. Foi assim em Pelotas – RS o primeiro Círculo Operário formado no Brasil graças ao empenho do Jesuíta Leopoldo Brentano. O “circulismo”, então, surgiu baseado na interpretação de ação social alimentada por essa corrente católica, e galgada na estratégia da reforma social e do assistencialismo – políticas presentes no governo Getúlio Vargas.
Vindo da Holanda, o Padre Pascoal Stallaert aceitou a missão de trabalhar em terras brasileiras em funções missionaristas. Após sua chegada ao Rio de Janeiro, em fevereiro de 1949, onde aprendeu a língua portuguesa e se acostumou aos costumes nacionais, o Padre, “rebatizado” de Teofânio, foi transferido para Juazeiro-BA. Chegando ao Vale do São Francisco, o Padre se afeiçoou às terras nordestinas e ouviu os anseios da população operária fundando, assim, o Círculo Operário da cidade, no dia 15 de novembro de 1954. Naquele período de atividade, o Círculo Operário funcionava nos moldes dos atuais sindicatos de trabalhadores. Além de congregar a comunidade proletária, serviços básicos sociais eram oferecidos – como atendimento dentário, direcionamento jurídico e até pecúlio por morte.
Com o passar do tempo, o Círculo foi perdendo suas funções primordiais, pois essas foram substituídas por programas sociais e políticas governamentais, somadas ao esforço maçante das lutas sindicais e dos movimentos sociais em todo o país. Além disso, seu caráter filantrópico perdeu o índice cristão e hoje se apresenta de natureza laica.Assim sendo, a instituição passou por períodos de estagnação e penumbra e sua sede física, que fica localizada atrás da Igreja Matriz de Juazeiro-BA, se assemelhou com um grande “casarão assombrado”. Seus associados, de maioria anciã, não conseguiam mais participar das assembléias e a diretoria não via saída para essa crise, que quase culminou no fechamento do estabelecimento. Dona Ananda Simão, dona de casa noventenária e associada à organização, disse que o estado do Círculo naquele momento, por volta dos anos 80, do século XX, se assemelhava a uma pessoa em estado vegetativo: “Ninguém nunca mais tinha ouvido falar da situação do Círculo. Estavam incomunicáveis”.
O período de ressurgimento do movimento Circulista se deu no começo de 2004 quando, após 16 anos sem eleições, uma nova diretoria foi nomeada. O professor universitário Jorge Simão capitaneou a mudança e deu novos ares a um movimento que por ora, cada vez mais, culminaria com o desaparecimento. Como parte diretora, Maria de Fátima Pereira e Fabrizio Fatel foram ajudantes dessa redenção. Fátima conheceu o Círculo Operário muito antes de sequer se dar conta do movimento operário. A sede do Círculo era também espaço físico da Escola Estadual de mesmo nome: “Com cinco anos de idade foi minha primeira escola.” Muitas décadas depois, Fátima descobriu o movimento por um ex-namorado que fez parte da CBTC (Confederação Brasileira de Trabalhadores Circulistas), que gerencia os Círculos Operários nacionais – e resolveu fazer parte do quadro de sócios. Após 10 anos de atuação ativa na instituição, Fátima só se afastou do Círculo depois do falecimento do Prof. Jorge, mas sempre está a par do que acontece com a organização.
Fabrizio Fatel, popularmente conhecido como Bambam, é um dos grandes nomes do rádio Juazeirense e ator consagrado de Teatro. Precursor do Stand-up Comedy na região, Fabrizio também conheceu o Círculo Operário por acaso: “Eu procurei o presidente porque estava querendo um espaço para ensaiar uma peça [de teatro]”. A resposta da diretoria foi positiva, desde que ele passasse a integrar o quadro de sócios do Círculo Operário. Assim Bambam foi se afeiçoando com o mundo circulista e descobriu um dos principais defeitos da “queda”: O Círculo estava fechado à sociedade do Vale do São Francisco. Baseado nisso, Fatel assumiu a presidência e sacrificou sua carreira de radialista e ator para colocar a organização em pleno funcionamento ativo. “O Círculo Operário tem uma história muito bonita para deixar de ser contada” diz Bambam, orgulhoso de ter passado pela casa circulista.
Como consequência de seu trabalho, hoje o Círculo aluga suas salas para pequenos comerciantes e apresentam relevantes cursos de capacitação para a sociedade. Aulas de Artes Marciais disponibilizada a preços populares, Cursos de Corte e Costura e Informática (em parceria com a Empresa Mega curso) são exemplos da nova política que abrange mais do que somente a camada operária: ela circunda toda a população sanfranciscana.
Atualmente, o Círculo Operário de Juazeiro passa por mais uma mudança de diretoria. Dessa vez, o presidente responsável é o contador Antônio Calixto de Souza, que a convite de Bambam topou o desafio de levar adiante o legado dessa instituição que muito tem contribuído a história do Vale do São Francisco. Além do trabalho de rememoração da história circulista, Calixto pretende abranger mais o caráter filantrópico do Círculo, promovendo um diálogo mais próximo entre as lideranças sindicais e a sociedade como um todo. Com 60 anos de história, o Círculo Operário de Juazeiro continua firme e disposta a servir a população do Vale do São Francisco.
Krishnamurti Silva de Lima/Estudante de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios (Uneb)