Neste artigo enviado ao Blog, o empresário Luiz Eduardo Coelho relembra um fato curioso que marcou a passagem do então ministro do governo militar do general João Figueiredo, Mário Andreazza, por Petrolina. Vale a pena ler até o fim:
Um almoço na casa de vovo Zefinha significava muita coisa.
Sempre farta e com uma enorme variedade de guloseimas, a mesa era sempre bem posta, com cristais e toalha de linho engomada para fazer realçar o melhor das iguarias regionais. Numa cozinha simples, mas de tradição regional, localizada ao fundo da casa,a fiel Deolinda preparava quitutes auxiliada por uma trupe de gente apta a preparar banquetes para a corte celeste, se preciso fosse.
A entrada da casa, naquele dia, o controle tornara-se mais rigoso, parecendo ter escapado das mãos do velho vigia Moreira, mais e mais escondido atrás dos seus óculos escuros, ladeado pelo bocapiu de palha e embaixo duma algarobeira frondosa. Naquele dia os nomes dos convidados eram então conferidos numa lista, por um grupo de seguranças de alto escalão, dando a impressão de que o cerimonial poderia ser mais rigoroso que o de costume.
Do lado dos convidados, uma gente variada: pesquisadores da embrapa, técnicos da codevasf, professores da autarquia municipal, gerentes de bancos oficiais, colaboradores do Grupo Coelho, comerciantes locais, o velho major Mariano e Miguel Amorim (sempre a mesma reivindicação ambulante); doutores, médicos, advogados e a “simpatia” de seu Dedé, ali representada nos seu sorriso largo.
Nenhum deles, entretanto, parecia preocupado em se reportar aos agentes federais, que incapazes de compreender aquele mosaico humano tão eclético, não encontravam correspondência entre a identidade de cada um e os nomes (apelidos) postos na lista. De nada lhes parecia servir a lista da-ti-lo-gra-fa-da.
E assim os agentes de segurança, vindos da capital da República, não tiveram outro remédio senão recorrer aos olhos do velho vigia da casa, para saber se podiam autorizar a entrada de cada pessoa à porta .
Lá dentro, na sala principal, o professor “Guega” interpelava o jovem militante da jovem liberal democracia, Marcelo Damasceno. Queria informações acerca do ato em que seria apresentado ao convidado de honra a quem iriá apresentar a sua pessoa e a sua prática e didática de sustentabilidade ambiental naquele sertão.
No mesmo instante passou apressada uma das senhoras da casa com uma bandeja de cocadas. A cocada fora recém-preparada e o forte aroma de rapadura queimada, bem como o brilho da mesma, era a marca da cocada de Doca, que em dias especiais como aquele ajudava Deolinda.
O aroma da rapadura queimada com coco tornaram impossível a resposta às perguntas do professor. Enebriado pelo aroma, a única resposta possível para Marcelo, naquele instante, era aquela que atendia ao desejo de saborear a iguaria. E assim o faz : avançou com a mão em direção a bandeja para retirar um naco…e, como em ato reflexo, sente que lhe golpeiam a mão. A dor do golpe desferido fez ele retirar a mão para massagear a mesma.
Mas o golpe que atingiu o “brio” de militante protocolar, cioso e preservador das hierarquias partidárias, não fora o golpe na mão. Antes, a observação de quebra de hierarquia que lhe fora feita pela senhora – (que talvez já sentisse, estava preservando algo reservado, no futuro, a seu filho): .
-“A cocada é do ministro (Andreazza)” .
Marcelo tentou disfarcar o próprio embaraço, imprimindo maior rigor às instruções cerimoniais que estava encarregado de explicar ao professor Guega, e que o mesmo deveria seguir quando lhe fosse dada a palavra para dirigir-se ao ministro. O prestígio que naquele dia lhe fora conferido por sugestão do jovem deputado da casa.
Guega percebeu prontamente que o seu papel na cerimônia fora vastamente diminuido por conta de uma cocada que ele próprio jamais ousara sonhar em comer. Buscou o jovem deputado “recado novo” com um olhar de ansiedade … .
O deputado encontrava-se próximo ao ministro, explicando como era feita a cocada que a sua mãe trouxera pessoalmente para a sala, e não por coincidência a sua sobremesa preferida.
Zé Coelho, que nunca esquecera seu aprendizado na intendência do Exército, perto dali, com voz firme socorreu-os, indicando a Guega que fosse à cozinha buscar uma rapadura. E dando ênfase à origem do produto, que veio de Xique-Xique (BA), remetido ,especialmente, pelo amigo Custódio Moraes.
Marcelo recordou-se então dos agentes à porta, queixosos de que os parâmetros dos cerimoniais daquela casa eram “especiais”.
Naquela casa a cozinha localizava-se ao fundo, mas a partir dela é que se ditava, além de padrões gustativos, hierarquias outras que sequer dependiam de ingredientes caros ou raros dos quitutes. Naquela casa, as senhoras eram, digamos, árbitros culinários e políticos…
De volta à capital federal, os agentes de segurança do então ministro tentaram explicar às colegas da cozinha palaciana uma receita escrita num papel em mau português.
Moreira escrevera, ao tempo em que resmungava:
– “onde já se viu ministro da República que não conhece a cocada da cozinha de dona Josepha? se o fulano quer ser autoridade, ou come antes ou depois de ser ministro… Isso tanto faz! “
Luiz Eduardo Coelho/Empresário Agrícola
(foto/arquivo de família)
ótimo artigo!
extraordinario o artigo da cocada.mostra a saga de uma familia predestinada e determinada.petrolina tem mais e que se orgulhar de sua gente.fernando e o cara!
gostei muito do artigo.
lembra uma epoca onde as coisas boas aconteciam em Petrolina.
foi ai que nasceu o projeto Senador NILO COELHO.
parabens a dr Luiz por nos contar um pouco da nossa HISTORIA.
AFRANIO PODERIA TER HISTORIAS CONTADAS ASSIM…
DE TODO MODO, PARABENIZO PETROLINA QUE TEM ESCOLHIDO SEMPRE GENTE DE MUITA DETERMINAÇAO.
NESTE ARTIGO FICA CLARO QUE :
O TRABALHO DE FERNANDO BEZERRA COELHO ,VEM DE LONGE.