Com Enem, detento entra em disputado curso da Univasf e dá lição no Conjunto Penal de Juazeiro

por Carlos Britto // 14 de março de 2015 às 15:19

Carlos Santos pres e estudantePreso há pouco mais de quatro anos acusado de estupro de vulnerável, Carlos dos Santos Silva, de 29 anos, foi um dos detentos do Conjunto Penal de Juazeiro (CPJ) a participar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014. No começo de fevereiro deste ano, ele conseguiu através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) uma vaga num dos cursos mais disputados da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), o curso de Psicologia, e hoje serve de exemplo para outros detentos, que se preparam para fazer a prova do Enem em busca da oportunidade de recomeçar.

Com a entrada na faculdade, Carlos também conseguiu o benefício do regime semiaberto e sua rotina de vida mudou bruscamente. “Eu saio do CPJ as 6 horas da manhã e me dirijo a Petrolina. Vou direto para a Univasf e fico lá até as 18h, quando retorno ao CPJ e entro na unidade uma hora depois, onde faço minhas atividades e permaneço até o mesmo horário do dia seguinte“, conta o detento, em entrevista exclusiva ao Blog.

Nascido em Pindobaçu, norte da Bahia, Carlos dos Santos Silva sempre foi evangélico e morou em outros estados brasileiros a exemplo do Espírito Santo e Minas Gerais. No estado capixaba ele estudou Seminário. Já em Belo Horizonte, capital mineira, Carlos estudou Teologia e fundou uma Organização Não Governamental (ONG). No ano de 2007, já como pastor da Igreja Presbiteriana, ele conseguiu uma bolsa na Faculdade Mackenzie, uma das mais conceituadas do País, onde fez o reconhecimento do curso de Teologia . No ano seguinte, Carlos fez mestrado em Ciências da Religião.

Após conseguir todos esses feitos, sua história de vida começou a mudar. Ele saiu da igreja, começou a beber e acabou se envolvendo “com pessoas erradas“. “Em meados de 2010 voltei para a Bahia, já estava bebendo, mesmo assim ainda dei aulas em faculdades e colégios de várias cidades da região norte do estado, como Senhor do Bonfim, Saúde, entre outras. Logo depois comecei a me envolver com pessoas erradas, mulheres demais e festas também“, relata.

Acusação

Carlos Santos 2No mês de agosto de 2010, numa noitada com um amigo policial militar na cidade de Antonio Gonçalves, também no norte baiano, a vida de Carlos estava a um passo de dar uma mudada brusca. “Fomos em um motel com uma adolescente, mas ela não quis nada comigo. Achei natural e aceitei. Sai do motel sem tocá-la, deixei os dois lá e até hoje não sei o que aconteceu após a minha saída“, disse Carlos, ressaltando que em janeiro de 2011, sem saber do que estava sendo acusado, foi preso pelo próprio amigo policial – o mesmo que estava com ele no motel com a garota. Carlos foi acusado de estupro de vulnerável, e cerca de um mês depois o PM também foi indiciado e permanece preso até hoje.

Alegando inocência, Carlos disse que tudo não passa de uma “armação” e que vai lutar até o fim para provar sua inocência. “Sim, segundo a polícia, haviam indícios de um crime, mas eu sou inocente, jamais toquei naquela garota. Me viram como um bode expiatório e colocaram a culpa em cima de mim”, relata, informando que “nem colheram meus materiais [genéticos] para fazer exames, para saber se realmente eu tinha estuprado a menina“.

Sonhos

Carlos foi transferido para o CPJ e cumpriu pena em regime fechado até o início das aulas na Univasf. “Agradeço imensamente ao Diretor do CPJ e ao juiz da Vara de Execução Penal de Juazeiro pela a confiança depositada em mim. Estou fazendo aquilo que gosto e vou continuar fazendo de tudo para conseguir minha liberdade, para poder dar segmento à minha carreira profissional e enfim provar a minha inocência“, expôs, relatando que já tem vários livros escritos a mão e que pretende lançar uma publicação com sua história de vida.

Carlos, que foi condenado há 8 anos de prisão, informou que não tem nenhum tipo de monitoramento enquanto permanece fora da unidade prisional, que todos confiam nele e que não sofreu nenhum preconceito na Univasf, inclusive já contou toda a sua história para os colegas de curso. Ele disse também que está voltando para o meio evangélico e que sua mãe está vindo morar em Juazeiro. Com residência fixa e um trabalho, além do estudo, ele acredita que sua pena deve ser reduzida e que estará livre novamente em menos de dois anos. A exigência do CPJ quanto à saída de Carlos para a faculdade, segundo ele, foi que a Univasf emita, a cada final de semestre, um relatório referente ao seu desempenho na instituição de ensino.

Por Duda Oliveira

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