Revoltados contra a falta d’água no Pontal Sequeiro, dezenas de agricultores de comunidades rurais e assentamentos daquela região decidiram ocupar, na manhã desta segunda-feira (21), a sede da 3ª Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Com vários cartazes e entoando canções de Luiz Gonzaga, os manifestantes cobram um posicionamento do órgão federal acerca da questão.
De acordo com a presidente da Associação dos Produtores Rurais do Icozeiro, Eliete de Souza Rodrigues, o problema está sendo agravado porque a 3ª SR Codevasf começou a cortar o abastecimento destinado às famílias, que não têm condições de arcar com os custos do fornecimento da energia elétrica responsável por ligar as adutoras. O vereador Ibamar Fernandes, que foi até a sede da Companhia após tomar conhecimento do protesto, já havia criticado duramente a Codevasf na Casa Plínio Amorim por conta disso.
Eliete explica que além do Icozeiro, onde algumas famílias haviam recebido um lote de sequeiro no qual trabalhavam em regime de condomínio, comunidades abastecidas pela Adutora do Pontal e outras da área – a exemplo de Uruás e Lagoa dos Cavalos – começam a ser prejudicadas.
“Uns já perderam as frutas, e agora estão perdendo o resto da plantação, porque a água já foi cortada na região do Gavião. E agora estão querendo cortar o resto do Pontal”, desabafa Eliete, acrescentando que essa responsabilidade precisa ser assumida pelo governo federal.
A líder comunitária afirma que a Codevasf ainda não justificou o motivo do corte. As informações obtidas pelo Blog são de que o titular da 3ª SR em Petrolina, Luciano Albuquerque, só estaria na sede da instituição a partir das 14h. Mesmo assim, ainda não há garantias de que ele receberá uma comissão de agricultores, que será formada para debater o assunto. “Esse é um grande presente de Natal e de ano novo que querem nos dar, o corte da água”, ironiza.
Preocupação
A maior preocupação das famílias é de que a área do Pontal Sequeiro chegue a uma situação de calamidade, porque o corte sairá afetando em sequência as comunidades – Uruás, Atalho, Cruz de Salinas e Caititu são as principais. Indignada com a situação, a agricultora Maria de Lourdes Caldas, de 63 anos, do Assentamento Rio Pontal, afirma que há quatro anos os canos que deveriam levar o líquido até as torneiras dos moradores “estão enterrados debaixo do chão”, sem que uma gota d´água chegasse até eles.
“Moramos a 15 km do rio. Tem um lugar mais perto por onde essa água poderia ser trazida, mas colocaram pela Adutora de Cristália, que é mais alta e a água não chega. Enquanto isso fica a gente morrendo de sede. Quando chega um carro-pipa no assentamento, já está dando é briga”, conta a agricultora, que também não poupa críticas a lideranças políticas da região, que veio de Salgueiro (PE), no Sertão Central, para Petrolina em 1973. Ela também não poupa críticas às lideranças políticas locais. “No sequeiro também moram seres humanos. Será que a gente só vale em época de eleição?”, desabafa.
No último final de semana, durante nova visita do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, para inaugurar o sistema de flutuantes no Lago de Sobradinho (BA), no norte da Bahia, representantes das comunidades entregaram a ele e aos gestores da Codevasf um documento relatando o problema. Decididos a permanecer na sede da 3ªSR o tempo que for necessário, até um posicionamento definitivo da Companhia sobre o assunto, as famílias trouxeram mantimentos e água e se instalaram provisoriamente num galpão da 3ªSR. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Petrolina, segundo informou a vice-presidente Maria de Lourdes Menezes Lima – mais conhecida por Lourdinha – vem acompanhando a questão desde janeiro deste ano. Ela contou ao Blog que já houve duas reuniões anteriores com o antecessor de Luciano, João Bosco Alencar