Desconectado, o Vale perde negócios

por Carlos Britto // 13 de julho de 2009 às 08:43

tele1Conhecido como exemplo de empreendedorismo num ambiente árido, o Vale do São Francisco venceu vários desafios nos últimos anos, mas, paradoxalmente, ainda sofre com a ausência de um dos principais insumos para o desenvolvimento: serviços de comunicação.

A má qualidade da telefonia e das transmissões de dados atrapalha os negócios numa região que, que mesmo afetada pela crise financeira global, é uma das poucas que apresentam uma atividade econômica vigorosa no Sertão de Pernambuco e da Bahia.

A rotina de uma parte dos cinco mil produtores é alterada com várias falhas tecnológicas, indo desde oscilações no fornecimento da internet à falta de banda larga e até a interrupção no serviço de telefonia fixa.

O pólo de fruticultura irrigada registrou um faturamento estimado em US$ 700 milhões no ano passado, produzindo principalmente uva e manga – em grande escala – e em menor quantidade outras frutas, como goiaba, maracujá, melão, melancia, graviola, mamão, acerola e limão. O Vale também fabrica vinhos e espumantes e, para fazer negócios, precisa dos serviços de comunicação porque a quase totalidade da sua produção é vendida para cidades que estão longe daquela região.

“A internet é cara, chega precariamente, não tem segurança nem continuidade. O celular também não funciona com qualidade”, comenta o presidente da Associação dos Produtores do Vale do São Francisco (Valexport), José Gualberto, acrescentando que o problema é que os empresários da região estão no século 20, enquanto os seus concorrentes estão no século 21. No Vale, a má qualidade dos serviços de comunicação atinge principalmente a área rural dos municípios de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista – no lado pernambucano – e Curaçá, na parte baiana.

Além da falta de conexão com o mundo, a má qualidade dos serviços de comunicação está trazendo pelo menos dois problemas para o produtor local: a dificuldade de produzir a nota fiscal eletrônica e a impossibilidade de conseguir fazer a rastreabilidade online das frutas produzidas no local.
“Por enquanto, a nota fiscal eletrônica está atingindo somente as empresas de vinho”, explica Gualberto. Como a maioria delas tem um escritório no Recife ou nas áreas urbanas do pólo estão driblando a dificuldade, mandando a nota fiscal por e-mail para a Secretaria da Fazenda.

Já com relação à rastreabilidade online, o problema parece não ser de fácil solução porque as grandes redes de supermercados – potenciais compradoras do Vale do São Francisco estão exigindo isso dos seus fornecedores. Só como exemplo, a rede de supermercado inglesa Sainsbury exige que seja feita a rastreabilidade em tempo real das frutas que vende aos seus clientes. “Isso começou com as multinacionais. Mas todas as grandes empresas – inclusive as nacionais – vão exigir esse padrão, e aí o impacto pode ser deixar de atender as exigências de rastreabilidade e também de vender o produto”, lamenta Gualberto.
telePara fazer a rastreabilidade na produção das frutas, é necessário ter internet (ou os serviços de banda larga) de boa qualidade na área rural, onde está a produção. “O que desejamos é que a Anatel imponha um padrão de qualidade de cobertura para as áreas de produção rural”, diz Gualberto, que representa uma entidade que congrega 98 produtores, incluindo algumas associações e cooperativas.

Anatel informa que a universalização das telecomunicações no Brasil atinge somente a telefonia fixa e não inclui os serviços multimídia, como o acesso discado à internet ou a banda larga.
Ou seja, infelizmente, a situação vai continuar como está por mais algum tempo.


Fonte: Jornal do Commércio

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