Neste artigo enviado ao Blog, o economista Márcio Araújo também lamenta o desaparecimento do ex-deputado Osvaldo Coelho. Ele afirma, entre outras coisas, que “um pedaço do Sertão sofredor é muito mais alegre hoje por causa de homens como o Dr. Osvaldo”.
Acompanhem:
Ser sertanejo não é tarefa para fracos. Mas ainda há os caatingueiros mais fortes, os que guiam os demais, os que lideram as caminhadas, desbravando velames e macambiras, iluminando escuridões, abrindo perspectivas. O Dr. Osvaldo Coelho era um desses. Desses que não se encontram mais. Deu-lhe a natureza pouco mais que oitenta verões. Mas, muito mais secas e desafios. Precisava-se que a natureza lhe desse mais, lhe concedesse mais tempo para que visse mais caraibeiras florando.
Estaria concedendo aos demais sertanejos, mais esperanças e, sobretudo, mais dignidade. Um pedaço do sertão sofredor é muito mais alegre hoje por causa de homens como o Dr. Osvaldo. Há poucos dias entrevistei o Dr. Osvaldo para uma pesquisa de doutoramento.
A sua resignação com a continuidade da desigualdade era tão presente quanto a sua contemporaneidade. Desgostoso com a cena política atual, mostrava-se permanentemente antenado com os movimentos locais e mesmo com a literatura internacional que trata do tema combate à miséria, à pobreza, à desigualdade.
O polo Juazeiro-Petrolina dificilmente seria o que é sem Osvaldo Coelho. O legado é difícil de ser continuado. Uma liderança construída em alicerces dos tempos de outrora, cujas novas gerações carecem muito de aprender. A insistência na qualificação dos seres humanos sertanejos era uma acertada obstinação, como quem via na educação a única porta para a redenção, para o sucesso. Muitos dos que aqui chegaram e chegam em busca ou para labutar no ensino devem a Dr. Osvaldo o reconhecimento pela existência de muitos dos bancos escolares hoje existentes.
As frutas que nascem hoje nos pomares locais são frutos da sua perseverança, do seu altruísmo, da sua inquietação e indignação com a convivência da riqueza das águas com a pobreza dos homens. Muitos dos que aqui chegaram e chegam em busca ou para labutar na agricultura irrigada devem a Dr. Osvaldo o agradecimento pela página virada da miséria com as letras da irrigação.
A economia sertaneja perde, assim, um cientista social que entendia como poucos a alma do catingueiro. A sociologia da caatinga, um calculista que entendia dos números da pobreza material, mas também da riqueza da alma dos homens do Sertão.
Márcio Araújo/Economista e Professor da Facape