Neste artigo enviado ao Blog, a Coordenadora Executiva da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Neilda Pereira (foto), lembra o Dia Nacional do Agricultor Familiar e fala das conquistas e desafios dos trabalhadores.
Acompanhem:
Nesta quinta-feira (25) é celebrado em todo o Brasil o Dia do (a) Agricultor(a) Familiar. A agricultura familiar tem muito a conquistar ainda, mas são inegáveis os avanços e conquistas do trabalhador e trabalhadora rural do nosso Semiárido brasileiro, em particular no Semiárido pernambucano.
Nada chegou de “graça” e em vão para o homem e a mulher do campo. Os avanços estão sendo conquistados com organização, participação e as lutas de muitas bandeiras. E a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), rede que envolve nove estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), que estão na região semiárida do país, tem um papel importante nas mudanças ocorridas no meio rural nas duas últimas décadas.
Através de suas ações e programas, a ASA vem atuando no desenvolvimento de políticas de convivência com o Semiárido. São agricultores e agricultoras que constroem processos participativos para o desenvolvimento e sustentabilidade da região com mais dignidade e justiça social, sem perder de vista o saber e as tradições culturais locais dos povos que habitam o Semiárido.
As tecnologias sociais – como cisterna de placas, cisterna-calçadão, barraginha, barreiro-trincheira, barragem subterrânea e tantas outras – têm contribuído diretamente na vida dessas famílias. Essas tecnologias não só melhoram a vida das pessoas, com água para consumo e para produção de alimentos com qualidade, mas também para a auto-organização das comunidades que ainda movimentam a economia local, pois a mão-de-obra para a execução destas tecnologias é da comunidade, e todo o material de construção é comprado no comércio local. Até o início de maio deste ano, 487.162 famílias foram beneficiadas no Semiárido pelas diversas tecnologias sociais, garantindo segurança e estoque hídricos por um bom período do ano.
Esse conjunto de dinâmicas e processos vivenciados pelas famílias agricultoras não é diferente em Pernambuco. Graças à rede de organizações que compõem a ASA Pernambuco, tem-se avançado na efetivação de uma Política Estadual de Convivência com o Semiárido, deixando para trás o velho e retrógado discurso e prática da Indústria da Seca.
A seca é um fenômeno natural e cíclico que não se enfrenta, nem se erradica. Nesta perspectiva a ASA/PE elaborou um Plano de Convivência, fruto da participação e proposição dos (as) agricultores (as), lideranças e diversos representantes da sociedade civil organizada. As ações propostas no plano têm influenciado diretamente para discussão dos planos municipais e estadual de convivência com o Semiárido.
As famílias agricultoras do Semiárido pernambucano são protagonistas de mudanças e avanços na agricultura familiar, com todo o seu universo diverso: agroecocologia, juventude rural, trabalhadora rural, soberania alimentar, educação contextualizada, produção, comercialização e assistência técnica. A agricultura familiar tem suas especificidades que devem ser consideradas nas construções das políticas, com homem e mulheres capazes de construir suas próprias histórias. A efetivação da Política Estadual de Convivência deve estar dentro dessa realidade e das necessidades das famílias. É preciso que os Governos estejam atentos a toda essa dimensão da agricultura familiar, buscando otimizar recursos e canalizar as políticas públicas para o desenvolvimento e estruturação da agricultura familiar no Estado para que elas (as famílias agricultoras) vivam na região com dignidade, empoderamento e sustentabilidade.
Neilda Pereira/Coordenadora Geral da Cáritas Diocesana de Pesqueira/PE e Coordenadora Executiva da ASA em Pernambuco