Em artigo, professor da Uneb afirma que manifestações pelo País precisam chegar até às urnas

por Carlos Britto // 26 de junho de 2013 às 13:36

Às vésperas de mais uma mobilização em Petrolina e Juazeiro, o professor da Uneb, Edmerson dos Santos Reis, ressalta que essa onda de manifestações vinda do povo brasileiro precisa se estender mais adiante – nas urnas em 2014, por exemplo.

Entre outras coisas, Edmerson afirma que os protestos serviram para mostrar que o País não está “adormecido” diante de tantos problemas. Confiram:

Manifestação 8Eu ultimamente vinha discutindo muito sobre a inoperância, letargia, imobilidade da juventude e do povo brasileiro em relação a um Estado corrupto, que vive sob as rédeas dos grandes empresários, do agronegócio e das multinacionais, que acredita que oferecer “pão e circo” de péssima qualidade para o povo brasileiro é suficiente. Que felicidade em saber que o povo acordou, foi e permanece indo às ruas para dizer aos nossos governantes e ao mundo que o modelo de estado e de desenvolvimento que fortalece a desigualdade e que enriquece ainda mais a elite brasileira em detrimento do povo sofrido que vive nas periferias sem saneamento, sem limpeza urbana, em meio a buracos, epidemias urbanas, ou abandonados no campo, o que é a cara das cidades brasileiras, não nos serve, não nos permitirá em nada combater as desigualdades e fazer do Brasil um país de fato e de direito de todos.

O momento atual é surpreendente, fascinante….Penso que estamos acordando e que não podemos nos acomodar. As ruas devem continuar a serem tomadas pelo povo no sentido de dizer para as classes dominantes que não estamos cegos ou impávidos em meio a tanta corrupção, tanto desmando e faz de contas.

Acredito e penso que essa manifestação deve chegar às urnas, não sei como. E esse é o temor, de que muitos ‘sacanas’ que apenas pensam em chegar ao poder possam usar das mesmas artimanhas da política tradicional para atender aos seus interesses e fazendo uso do movimento para tal, mas que na hora que chegam ao poder, se vendem aos poderes executivos e se esquecem de lutar pelos interesses da sociedade brasileira. Mas, ao mesmo tempo, o que me deixa feliz é que não há líderes, mas ideias que mobilizam o povo e essas ideias estão em todo canto do país, pipocando como milho em uma panela aquecida que deverá transformá-lo em pipoca.

O que não sabemos é que pipoca surgirá dessa panela e desse milho em aquecimento, mas pelo menos sabemos que não seremos mais os mesmos e que esse movimento já contribui para um repensar do Brasil e de que o gigante não está morto e nem adormecido… Essa coragem precisará se transformar em propostas concretas de um novo Brasil, em que a participação popular de fato não fique refém do Estado e que a gestão social possa uma prática na vida dos brasileiro. Não nos servem conferências, seminários que produzem milhares de propostas que servem para nada, ou apenas para criar uma falsa fumaça de que há participação do povo nos destinos do país.

Tenho me preocupado com o uso das bombas, tiros de borrachas, spray de pimenta, gás lacrimogêneo, entre outros utilizados em demasia pela polícia… Já pensou se o movimento começar a se dar conta de que contra a violência, violência e meia pode ser o caminho? aí pode acontecer uma radicalização e levar o movimento a se constituir em outra coisa, que não será boa nem para o Brasil e nem para os brasileiros… Se assim acontecer e permanecer, corremos o risco e poderemos chegar a uma guerrilha urbana. Mas vamos ver até aonde vai dar essa mobilização.

No último dia 20/06/2013, no JusBrasil, Diário online de notícias da justiça, foi publicada uma notícia sobre a inscrição e possível criação em Goiânia – GO, do Partido Militar Brasileiro – PMB. Ou seja, um partido dos militares, se é que isso vai mesmo acontecer, pois na atualidade há muitas dificuldades de criação de partidos novos nesse país. Um partido com essa conotação, na minha análise, não ganhará a adesão dos brasileiros, a não ser de parte deles mesmos, pois num país “democrático” e desigual como o nosso, em que as forças militares sempre funcionaram como o braço direito do estado, não tenho a menor dúvida de que o povo brasileiro, sofrido e consciente, não respaldará uma plataforma que venha com essa perspectiva, e que sempre o teve como bandido, como fora da lei, como o suspeito, principalmente os mais excluídos (negros, pobres e os que fogem aos padrões de normalidade de vestir-se e de ser definidos pelas elites incluídas) .

Avante por um Brasil para os brasileiros, e não para os interesses das elites, das multinacionais e do agronegócio.

Que possamos forjar novas formas de ser e se fazer cidadão e cidadãs em um país para todos, com saúde, educação contextualizada aos territórios em que vivemos e tecemos nossas vidas; uma ciência e tecnologia voltadas para a produção de conhecimentos que sirvam para amenizar os problemas da sociedade brasileira; que os espaços públicos possam ser de qualidade e de uso comum; que a economia não seja utilizada para satisfazer aos interesse de outrem, mas para ajudar na minimização das desigualdade; que as nossas cidades sejam espaços bons de viver, que os espaços culturais sejam acessíveis a todos/as e não apenas uma parcela da sociedade, que as escolas e as suas propostas tenham no centro da formação a ética, a cidadania e a formação para os desafios presentes no mundo do trabalho, e não uma escola que despreza o conhecimento pertinente, necessário e formador, para se deter a uma formação de mão de obra barata para um mercado que pouco se preocupa com as pessoas.; que o problema da mobilidade urbana seja de fato uma pauta permanente e com ações concretas para a resolução dos problemas que travam as cidades, pois o transporte urbano público brasileiro é um dos piores do mundo, quando nos comparamos a países que se encontram na mesma condições econômicas que o Brasil.

Que saiamos desse movimento multivibracional das estruturas do poder no Brasil, com a possibilidade de um novo país que está em gestão e que o seu alimento principal seja sempre a mobilização popular. Pois como dizia o grande educador Miguel Arroyo, só se avança no campo dos direitos quando há mobilização social. Sem essa, a corrupção corre solta, e cada vez que a saúde, a educação, os transportes, as cidades vão mal, as desigualdades se ampliam e a sociedade se acomoda. Podemos afirmar com toda certeza que a corrupção se efetiva em dimensões exponenciais.

Um abraço!

Edmerson dos Santos Reis/Professor-Uneb (DCH III)

Em artigo, professor da Uneb afirma que manifestações pelo País precisam chegar até às urnas

  1. Geraldo Santos disse:

    Professor, ao ler essa matéria não possuo condições de me expressar, pois o texto já disse tudo! Parabéns e vamos à segunda parte em 2014!!!!!!

  2. Hipocrisia não. disse:

    Precisa chegar até a essa palhaçada do São João do Vale, a maior manifestação que o povo poderia fazer a nível municipal, seria deixar aquele lugar vazio. Fica a dica para os lideres da manifestação e para a população.

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