No final dos anos 60, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, percorria o Interior do Nordeste a bordo de uma Rural Willys ano 1961. Com ela, engolia poeira entre um município e outro, onde sempre o aguardava como palco a carroceria de um caminhão.
No mesmo veículo viajava o trio que o acompanhava nas apresentações. Piloto, seu sobrinho era um deles. O motorista e sanfoneiro era um tal de José Domingos de Moraes, que ficou mais conhecido como Dominguinhos.
Em Alagoas, quem também dirigiu a famosa Rural do Gonzaga foi Tororó do Rojão, o homem que tocava o triângulo no trio forrozeiro.
Luiz Gonzaga na Rural tendo como motorista Dominguinhos em 1969.
Numa dessas viagens, no Interior de Pernambuco, a caravana do Gonzaga passou por um veículo parado à beira da estrada. Ao seu lado um cidadão fazia sinais indicando que precisava de ajuda.
Solidário como todo bom nordestino, Gonzaga pediu a Dominguinhos para dar meia-volta.
“O amigo tá precisando de alguma coisa?”, perguntou ao sertanejo que estava ao lado de um velho Jeep.
“Vixe, meu Deus do céu! E num é o Luiz Gonzaga…”, alegrou-se.
“De carne e osso. Tá precisando de quê?”.
“Faltou gasolina…”.
“Não é problema. Vamos resolver agora”.
Dominguinhos, que acompanhava a conversa ao lado, lembrou que não tinha nenhum vasilhame para retirar o combustível.
“Eu tenho”, informou o proprietário do Jeep.
“E a danada da mangueirinha? Também tem?”, quis saber Gonzagão, já com um olhar de malícia e desconfiança.
“Tenho, sim senhor!”
Depois de abastecer o automóvel com combustível suficiente para chegar à cidade mais próxima, o Rei do Baião se aproximou do cidadão e falou:
“Quer dizer que o senhor tinha o vasilhame e a mangueirinha, né?”
“Sim, senhor. Sou um homem prevenido”.
“É não. Você é um homem acostumado”.
Entrou na Rural, rindo da situação. Dominguinhos quis saber a razão do riso e perguntou quem era o tal cidadão.
“Um viciado, um viciado em gasolina”, respondeu Gonzaga, às gargalhadas.