‘Está garantido para os empresários’, diz líder de associação sobre retirada de 364 famílias de projeto irrigado em Santana do Sobrado

por Carlos Britto // 29 de novembro de 2019 às 07:20

Antônio Batista deu entrevista ao Programa Carlos Britto, na Rural FM.

O agricultor Antônio Batista, hoje presidente da Associação dos Produtores Rurais de Santana do Sobrado, distrito de Casa Nova, norte da Bahia, é uma das principais vozes de ponderação entre seus pares. Assistiu sereno na última segunda-feira (25) à reintegração de posse que desalojou 364 famílias do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho – numa área pouco conhecida no território baiano, que também pertence à Codevasf. “Todo mundo sobrevivia do trabalho ali. Ninguém estava especulando nada”, afirma.

Numa entrevista ao programa Carlos Britto, na Rural FM, na manhã desta quinta-feira (28), Batista apresentou a sentença da Justiça – que ordenou também a desocupação de áreas do Projeto Salitre, em Juazeiro (BA) – e expôs ainda que não havia citação às famílias de Santana do Sobrado. “Nós não fomos intimados. Como não estávamos na sentença, não nos prevenimos tirando nossos bens de lá”. E continuou: “O oficial de justiça só disse que era ali e meteu a máquina. A Codevasf disse que era todo mundo, mas não é. Eles poderiam até entrar com a ação para tirar o restante de lá, mas de imediato nós não constávamos”.

Interesses

Em sua visão, a reintegração de posse – que oficialmente deveria ser de 1.727 hectares – estendeu-se a seu acampamento porque atende a interesses de “grupos empresariais”. “Se você puxar o registro de quem é dono daquelas áreas, verá que as terras são de uma família. Então o projeto de irrigação lá está garantido para os empresários, e não para os trabalhadores”, disse ele.

Antônio Batista também contou que durante a operação da Polícia Federal (PF) os produtores não reagiram com hostilidades – orientação que partiu dele. Mas estranha o fato de “policiais terem feito disparos [de arma de fogo]” para afugentar “cachorros”. Antes de concluir a entrevista, o agricultor fez questão de ressaltar ainda que procurou por duas vezes a Codevasf, buscando a regularização da área. “Nós não queríamos ficar clandestinos, então propusemos pagar as terras e a água, mas eles diziam que isso dependia de esferas superiores”.

Além das casas, todas as plantações foram destruídas. Segundo Batista, lá existiam 43 mil pés de manga, 22 mil goiabeiras, 8 mil videiras, 10 mil pés de acerola e 1.800 de maracujá. “Só na nossa associação tinha vezes que saíam por dia 5 caminhões de melancia, 3 carros de goiaba […] teve semana que saíam 90 toneladas de manga de apenas uma roça. Sendo que quando chegamos lá, eles nos disseram que era uma área improdutiva, que não brotava nada”, comentou.

O que diz a Codevasf?

Citada na entrevista, a 3ª Superintendência Regional (SR) da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (3ª SR Codevasf), em Petrolina, foi procurada para se pronunciar sobre o caso. Ao Programa Carlos Britto, o superintendente Aurivalter Cordeiro respondeu que o mandado de reintegração de posse se referia a todas as áreas da entidade naquela região e que os agricultores se encontravam numa área de reserva ambiental.

Também disse que, por estar dentro da reserva, a associação de produtores de Santana do Sobrado automaticamente fazia parte da execução da sentença judicial. O superintendente contestou ainda a declaração de Antônio Batista de que as famílias não teriam sido notificadas da desocupação. “Eles tinham o prazo de até dia 7 de outubro”. E complementou: “o oficial de justiça fez questão de deixar uma cópia com todos eles”.

A área é de preservação da Caatinga, que é o bioma mais devastado do país e é um bioma 100% nacional. Lá vai ser todo refeito. A área está averbada no Ibama como reserva legal. Não há a possibilidade jurídica de ser dada destinação outra que não seja de manutenção da Caatinga”, concluiu.

‘Está garantido para os empresários’, diz líder de associação sobre retirada de 364 famílias de projeto irrigado em Santana do Sobrado

  1. Carlos Amorim disse:

    Esta na hora do Brasil acabar com essa farra de invasões a propriedades alheias.

    1. Roseane disse:

      Na verdade está na hora de você olhar no dicionário o significado de pública. Aliás pode ser no google mesmo vc deve nem saber o que é um dicionário. No google tem um microfone que vc pode falar se não souber digitar.

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