O agricultor Antônio Batista, hoje presidente da Associação dos Produtores Rurais de Santana do Sobrado, distrito de Casa Nova, norte da Bahia, é uma das principais vozes de ponderação entre seus pares. Assistiu sereno na última segunda-feira (25) à reintegração de posse que desalojou 364 famílias do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho – numa área pouco conhecida no território baiano, que também pertence à Codevasf. “Todo mundo sobrevivia do trabalho ali. Ninguém estava especulando nada”, afirma.
Numa entrevista ao programa Carlos Britto, na Rural FM, na manhã desta quinta-feira (28), Batista apresentou a sentença da Justiça – que ordenou também a desocupação de áreas do Projeto Salitre, em Juazeiro (BA) – e expôs ainda que não havia citação às famílias de Santana do Sobrado. “Nós não fomos intimados. Como não estávamos na sentença, não nos prevenimos tirando nossos bens de lá”. E continuou: “O oficial de justiça só disse que era ali e meteu a máquina. A Codevasf disse que era todo mundo, mas não é. Eles poderiam até entrar com a ação para tirar o restante de lá, mas de imediato nós não constávamos”.
Interesses
Em sua visão, a reintegração de posse – que oficialmente deveria ser de 1.727 hectares – estendeu-se a seu acampamento porque atende a interesses de “grupos empresariais”. “Se você puxar o registro de quem é dono daquelas áreas, verá que as terras são de uma família. Então o projeto de irrigação lá está garantido para os empresários, e não para os trabalhadores”, disse ele.
Antônio Batista também contou que durante a operação da Polícia Federal (PF) os produtores não reagiram com hostilidades – orientação que partiu dele. Mas estranha o fato de “policiais terem feito disparos [de arma de fogo]” para afugentar “cachorros”. Antes de concluir a entrevista, o agricultor fez questão de ressaltar ainda que procurou por duas vezes a Codevasf, buscando a regularização da área. “Nós não queríamos ficar clandestinos, então propusemos pagar as terras e a água, mas eles diziam que isso dependia de esferas superiores”.
Além das casas, todas as plantações foram destruídas. Segundo Batista, lá existiam 43 mil pés de manga, 22 mil goiabeiras, 8 mil videiras, 10 mil pés de acerola e 1.800 de maracujá. “Só na nossa associação tinha vezes que saíam por dia 5 caminhões de melancia, 3 carros de goiaba […] teve semana que saíam 90 toneladas de manga de apenas uma roça. Sendo que quando chegamos lá, eles nos disseram que era uma área improdutiva, que não brotava nada”, comentou.
O que diz a Codevasf?
Citada na entrevista, a 3ª Superintendência Regional (SR) da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (3ª SR Codevasf), em Petrolina, foi procurada para se pronunciar sobre o caso. Ao Programa Carlos Britto, o superintendente Aurivalter Cordeiro respondeu que o mandado de reintegração de posse se referia a todas as áreas da entidade naquela região e que os agricultores se encontravam numa área de reserva ambiental.
Também disse que, por estar dentro da reserva, a associação de produtores de Santana do Sobrado automaticamente fazia parte da execução da sentença judicial. O superintendente contestou ainda a declaração de Antônio Batista de que as famílias não teriam sido notificadas da desocupação. “Eles tinham o prazo de até dia 7 de outubro”. E complementou: “o oficial de justiça fez questão de deixar uma cópia com todos eles”.
“A área é de preservação da Caatinga, que é o bioma mais devastado do país e é um bioma 100% nacional. Lá vai ser todo refeito. A área está averbada no Ibama como reserva legal. Não há a possibilidade jurídica de ser dada destinação outra que não seja de manutenção da Caatinga”, concluiu.
Esta na hora do Brasil acabar com essa farra de invasões a propriedades alheias.
Na verdade está na hora de você olhar no dicionário o significado de pública. Aliás pode ser no google mesmo vc deve nem saber o que é um dicionário. No google tem um microfone que vc pode falar se não souber digitar.