Estudantes de Medicina em Paulo Afonso pressionam reitoria da Univasf por melhorias em infraestrutura do curso e prometem até greve

por Carlos Britto // 07 de junho de 2015 às 18:32

medicinaRevoltados com o cenário de indefinição quanto à infraestrutura do curso de Medicina oferecido pela Univasf em Paulo Afonso, no norte da Bahia, estudantes do campus criticam duramente a “omissão” da reitoria e devem fazer uma paralisação de advertência nesta quarta-feira (10). Mas eles prometem uma greve geral do curso, caso seus itens de reivindicações não sejam atendidos.

Confiram:

Diante de quase 10 meses de início do curso de medicina em Paulo Afonso (BA), a comunidade acadêmica vem sofrendo com diversos problemas de espaço físico para o andamento adequado e satisfatório das aulas teóricas e práticas. O descaso ocorre com a demora de início das obras do prédio definitivo para o curso em questão.

Embora desde 14 de março de 2013, quando houve o ato de doação do terreno da Chesf para a Univasf, este terreno ainda hoje encontra-se da mesma forma que foi recebido por esta Instituição, e que só este semestre foi licitado a empresa que vai cercar o mesmo, sem nenhuma outra obra adicional. Vale salientar também que foi apresentada uma planta para o Campus apenas no final do segundo semestre de 2014, incompatível com o PPC do curso de Medicina atual e que precisou ser reformulado e adequado pelo setor de Infraestrutura da Univasf, pois não era compatível com a metodologia utilizada neste curso.

Diante deste fato, há quase um ano o corpo acadêmico vem sofrendo com esta falta de infraestrutura e com a falta de planejamento para com o curso. O curso vem desenvolvendo suas atividades didáticas em instalações provisórias do Centro de Formação Profissional de Paulo Afonso (carinhosamente chamada de “escolinha da Chesf”), as quais foram escolhidas pela Administração Superior da Univasf.

No entanto, para quem não tem conhecimento, nosso curso segue as novas diretrizes curriculares dos cursos de medicina no Brasil (Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014), que preza o ensino médico voltado para o SUS e exige a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem (como, por exemplo, a Aprendizagem Baseada em Problemas), que necessita de ambiente totalmente diferenciado.

Além disso, existe uma edificação da Chesf aqui na cidade compatível com o desenvolvimento de todo o curso com metodologias ativas e que poderia ser utilizada futuramente como ambulatórios-escolas, tanto para o curso de medicina quanto para outros que virão na área de saúde, de acordo com as novas normas do MEC relativo aos campi de IES que necessitam de no mínimo quatro cursos em cada campus. No entanto, as instalações escolhidas pela administração da Univasf (escolinha da Chesf) não comportam mais o desenvolvimento das atividades didáticas do curso.

Com isso, mesmo utilizando desta estrutura provisória, ainda hoje são utilizadas para a parte prática (aulas de laboratório) as dependências de uma faculdade particular da cidade (Faculdade Sete de Setembro-Fasete), depois de acordo firmado após o início das aulas, em meados de setembro de 2014, e que mesmo depois de quase um ano, apenas dois laboratórios serão entregues no final deste mês.

Outro agravante são as salas de aula, que diferentemente da metodologia tradicional, precisam de um espaço físico menor (designado de salas de tutoria) com capacidade para 11 pessoas no máximo (incluindo o tutor). Atualmente, existem 4 (quatro) salas de tutoria e mais quatro em finalização de acabamento. Destas, 2 (duas) terão que se tornar almoxarifado, uma vez que equipamentos e simuladores que começaram a chegar ao campus não há onde guardá-los. A sala que servia para tal armazenamento será transformada em sala de professor, pois os novos docentes que chegaram já não têm onde se acomodarem.

Além disso, ainda existe um componente curricular (teórico-prático) que está sendo desenvolvido em outra instituição pública da cidade (Universidade Estadual da Bahia-Uneb), porque não temos um espaço que acomode os 27 alunos matriculados este semestre. Importante lembrar que neste momento estamos sem este espaço disponível, uma vez que a referida universidade encontra-se em greve. Outro fato a ressaltar é que a única sala que poderia servir para esta finalidade e que também se encontra em fase de finalização, poderá ser cedida para as aulas de habilidades, devido a inexistência de um espaço adequado para a execução destas aulas, bem como a acomodação dos modelos anatômicos que estão encaixotados por falta deste espaço didático.

Por sua vez, os discentes passam por outros problemas como: falta de diversificação de literatura básica e específica (a metodologia preconiza esta diversidade de literatura, pois o autoconhecimento é fundamental), uma vez que parte destes livros ainda não foi entregue à biblioteca do campus. Com isso, os alunos acabam buscando os livros dos docentes ou de colegas até do curso de medicina de Petrolina ou de outra IES para empréstimo deste acervo, pois não existe uma reprografia para que os mesmos façam as xerox no campus. Aliado a isso, a cidade possui locais que encarecem os custos destas cópias e que estão acima do poder aquisitivo deste alunado (em média de 50% a 90% acima do valor médio).

Aliado a este problema, ocorre a falta de um restaurante universitário/cantina ou até mesmo de um espaço para que os alunos comprem suas refeições ou esquentem algum alimento a fim de que permanecessem no campus e não se deslocassem mais de 5 km para realizar tal refeição ou retornar as suas residências.

Entretanto, o ponto crucial que fez culminar neste manifesto foi a informação passada pela Chesf que o contrato firmado entre as duas instituições tem como prazo final outubro de 2016. E, como até o presente momento não se tem nem a planta estrutural do prédio definitivo pronta, como também não foi passado a intenção de ambas as partes de renovar tal acordo, a comunidade acadêmica está extremamente preocupada com o desenrolar dos próximos semestres, visto que foi também acordado duas entradas para este curso a partir de 2016 sem a devida consulta do colegiado acadêmico, a fim de saber da viabilidade de tempo de execução para tal duplicação de vagas.

Então, diante do fato de quase esgotar todas as nossas possibilidades de conversas, visto a quantidade de promessas não cumpridas e explicitadas nesta carta, mas também por reivindicações formais do corpo discente (até em protestos na vinda da reitoria e da Chesf (ver site abaixo e fotos em anexo), o curso de medicina informa que irá paralisar suas atividades didáticas, após decisão em reunião ordinária realizada no dia 03/06/15, e aprovada por maioria do colegiado presente. A paralisação ocorrerá no dia 10/06/15, com manifestação no centro da cidade e com a participação da imprensa local. Este dia servirá para chamar atenção do público local acerca de diversos pontos reivindicatórios elencados nesta carta relativos, principalmente, à carência de espaço físico.

Vale salientar que estes problemas são de conhecimento total da administração superior da Univasf, e que por inúmeras vezes vem se omitindo em solucioná-las. Queremos deixar claro que a comunidade acadêmica não quer uma paralisação de caráter prolongado, uma vez que a suspensão do movimento dar-se-á à medida em que a administração central atenda ao chamado para prestar os devidos esclarecimentos, bem como o encaminhamento imediato de soluções para os problemas apontados como urgentes por esta comunidade.

Caso não sejam solucionados objetivamente os pontos reivindicatórios desta carta até meio-dia do dia 15/06, esta comunidade acadêmica informa que deflagrará GREVE POR TEMPO INDETERMINADO, ou até que nossa situação seja solucionada.

Pontos Reivindicatórios:

I – Infraestrutura adequada: auditório, laboratórios, áreas de conveniência, salas de tutoria, sala para o centro acadêmico e sistema de videoconferência para acomodar as turmas até a finalização das obras do prédio definitivo e que não seja compartilhada com nenhuma outra IES da cidade de Paulo Afonso;

II – Motoristas com sistema de transportes suficiente e ônibus com ar-condicionado;

III – Biblioteca: livros, revistas científicas na área médica, novos espaços adequados para leitura;

IV – Fotocopiadora no Campus;

V – Cantina/Restaurante Universitário no Campus até a finalização das obras do prédio definitivo;

VI – Prestação de contas dos investimentos no campus e informação sobre verba total para o curso de medicina;

VII – Novos cursos de graduação: Chance de inserir novos cursos na área de saúde no PDI 2015-2025, baseados nas reais necessidades da região;

VIII – Realizar a vinda do SIASS para o campus com o intuito da realização de imunização e de outras campanhas envolvendo a comunidade acadêmica, visto a necessidade do campus estar inserido na área de saúde.

Curso de Medicina – Comunidade Acadêmica de Paulo Afonso (BA)

Site que mostra o protesto dos alunos: http://www.ozildoalves.com.br/internas/read/?id=24105

Atenciosamente,

Colegiado de Medicina (CMED) – Paulo Afonso/BA

Estudantes de Medicina em Paulo Afonso pressionam reitoria da Univasf por melhorias em infraestrutura do curso e prometem até greve

  1. Fera Sertaneja disse:

    Que situação vergonhosa. Os estudantes se matam para passar no ENEM, quando passam ainda tem que lidar com uma situação dessa, espero não precisar passar por isso.

  2. Maria de Fátima disse:

    Um pouco de dor pelo sucesso alcançado. Dos males, o menor.
    Pela característica atuante da gestão atual, tenho certeza, que avanços estão por vir. Recomendo muito diálogo e bom senso no enfrentamento desta questão. Ou, alguém tem dúvida do desejo da gestão?
    Para o bem de todos, vamos nos unir e enfrentar o problema. Com transparência e altruísmo.
    Não permitam (sou de fora) que o momento político arranhe a bela imagem da Univasf na sociedade.

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