Em 1980, o press-release do lendário Teatro Vila Velha em Salvador (palco dos tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa) dizia que o compositor Maurício Dias Cordeiro ( o Mauriçola), vinha dos festivais universitários de Juazeiro, margens “bossavistas” do rio São Francisco, terra do gênio João Gilberto – criador da bossa nova – e trazia uma grande bagagem musical.
Um ‘caldeirão’ que misturava não só a bossa de João, a Tropicália de Gil e Caetano, mas também a oficina sonora e poética dos Novos Baianos, liderada pelo poeta Luiz Galvão – parceiro, amigo, conterrâneo e um dos seus pais espirituais. O press-release foi escrito pelo poeta, jornalista e escritor Antonio Risério, um dos mais brilhantes intelectuais do Brasil.
Depois de muitas apresentações em Salvador, principalmente em casas noturnas do porto da Barra), onde ficou bastante conhecido, Mauriçola foi para o eixo Rio-São Paulo. Gravou discos, integrou grupos musicais, apresentou-se em shows que reuniam grandes estrelas no Ibirapuera (São Paulo) e Maracanãzinho (Rio). Em 1986, achando que a sua primeira filha deveria nascer em Juazeiro, voltou. E ficou!
Voltou outras vezes para Salvador, ia ao Rio e São Paulo e voltava para o Rio São Francisco (sua grande paixão geográfica). Em 1999 ensaiou uma volta gravando um CD duplo entre Salvador e o Rio de Janeiro, com participações de músicos geniais como João Donato, Ricardo Silveira, Jorge Helder, Luiz Brasil e do ator Paulo Betti, seu amigo. Foi mesmo só um ensaio, o CD nunca foi lançado oficialmente.
Decepcionado com muitos produtores musicais, Mauriçola preferiu sobreviver como publicitário, fazendo campanhas políticas e “jingles” famosos (“Us.top” São Paulo Alpargatas e Vilas do Atlântico estão entre eles).
Retorno
Agora, enfim, ele esta finalizando o seu último trabalho em estúdio, iniciado em 2011. Um box com três CDs deverá ser lançado no mês de maio em Salvador e depois em Juazeiro, dentro do projeto musical “Conexão Vivo”, para colocá-lo de novo no rumo à estrada da música, de onde nunca deveria ter se desviado. Este trabalho vai mostrar a força das suas composições.
Triste e inacreditável é que, em Juazeiro, sua terra-natal, pouquíssimas pessoas conhecem o seu trabalho e apenas algumas emissoras AM, de vez em quando, tocam suas músicas – seus “jingles” fazem mais sucesso.
O novo CD é simplesmente magnífico, com muita maturidade, misturando bossa nova, baião, pop, música instrumental e dance music. Belas melodias e harmonias fazem uma fusion com uma poesia profunda, romântica, de emocionar, fazer chorar e dançar também. Uma reflexão demasiadamente humana, existencial. O violão “acústico” é o epicentro, misturando-se com “timbres” eletrônicos. O disco tem a participação de grandes músicos como Edésio Cezar, Soneca Martins, Marcos Brasil, Júnior Percussão, além das participações especiais de Targino Gondim e Celso de Carvalho. O Novo CD tem direção musical de Soneca Martins e direção técnica de Fábio Ramon (Porto do Som). A moderna MPB já merecia! (texto enviado ao Blog)