O cidadão petrolinense Elieldo Gonçalves Avelino só tem 29 anos, mas já convive com sérias sequelas. Se continuar dessa forma pode virar um número qualquer em uma estatística que só vale para discursos burocratas ou para que alguém tire mais dinheiro de um programa qualquer.

Na sua casa não andam políticos, líderes comunitários e nem assistentes sociais. Sua mulher Edivânia, jovem e com traços sofridos, é mais que esposa: É a babá, cuidadora e um anjo a acolher Elieldo. Parece um fardo pesado demais, mas ela não reclama. Aceita resignada.

Elieldo é uma vítima da burocracia, do descaso, dos descumprimentos das leis que não geram qualquer punição. Elieldo e Edivânia estão sós. Vítimas da própria sorte que não têm e do apoio que lhes falta. Esta matéria é uma narrativa do que encontramos no bairro Alto da Boa Vista.

A vida de Elieldo Gonçalves Avelino, de 29 anos, mudou completamente no dia 1º de agosto de 2011. Depois de um acidente de moto em que ele fraturou a coluna, a sua rotina e a de toda a família foi modificada da noite para o dia. E até hoje (26), a vida de Elieldo é cercada de dores e expectativas.

O morador do bairro Alto da Boa Vista, na Zona Oeste de Petrolina, deveria ter feito uma cirurgia imediatamente para corrigir a fratura na coluna. Assim que sofreu o acidente, ele passou quase três meses internado no Hospital de Urgências e Traumas (HUT), atualmente Hospital de Ensino do Vale do São Francisco, à espera da cirurgia. Elieldo saiu da unidade de saúde e nunca fez o procedimento, que foi marcado e remarcado mais de quatro vezes. A justificativa da direção e dos próprios médicos era de que não havia material disponível.

Sem andar e nem sequer sentar na cadeira de rodas devido às fortes dores, Elieldo fez novos exames, que diagnosticaram que ele não precisaria mais do procedimento cirúrgico. “Depois de esperar um bom tempo pela cirurgia, a equipe médica me submeteu a novos exames, ainda em 2011. De acordo com os médicos, a fratura estava consolidada, não precisaria mais de nenhum procedimento. Mas eu continuava sentindo dores. E até hoje sinto, dia e noite, sem parar”, explicou.

Outro diagnóstico

A família recorreu ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que determinou que a unidade de saúde fizesse a cirurgia no prazo de três dias, sob pena de multa. No entanto, nada foi feito. “Mesmo com tantas dores, a equipe médica do hospital continua alegando que não há necessidade de nenhuma intervenção cirúrgica. Já fomos a outro médico – pagamos duas consultas particulares – e ele diagnosticou que há uma compressão em minha coluna, o que seria resolvido apenas com uma cirurgia”, diz.

Com o laudo de outro médico em mãos, Elieldo retornou ao HUT, mas a equipe médica não reconheceu que haveria necessidade de uma cirurgia. Desde então, sua vida se resume a uma cama e às sessões de fisioterapia que faz às sextas-feiras no hospital universitário. “Eles não arrumaram uma solução para o meu problema. Alguns médicos do hospital chegaram a afirmar que a cirurgia não garante que as dores irão passar. O certo é que se o procedimento tivesse sido feito no tempo certo, eu não sentiria tanta dor e o movimento das minhas pernas poderia até voltar”, conta.

O caso já está em andamento no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Aposentado por invalidez, a maior parte do dinheiro que recebe é destinada à compra dos remédios, principalmente para minimizar as dores. Emocionado, Elieldo diz que não perde a fé e a esperança de mudar de vida. “Mesmo que eu não volte a andar, quero pelo menos sentar e não sentir dor. Só desejo ter uma vida normal, mesmo como cadeirante. Tenho fé de que isso tudo passará”, comentou.

O Blog entrou em contato com o hospital universitário e divulgará o posicionamento da unidade de saúde nas próximas horas.

Por Monyk Arcanjo/Carlos Britto