No Sertão do Pajeú, um repentista no poder

por Carlos Britto // 21 de outubro de 2012 às 17:10

Se o sertanejo é, antes de tudo, um forte, e uma das maiores expressões do Sertão pernambucano é o repente, que conta em poesias as agruras da região, os eleitores de Tabira, no Sertão do Pajeú, depositaram confiança em um representante da cultura popular local. Cantador de viola e repentista, o prefeito eleito da cidade, Sebastião Dias (PTB), está acostumado a traduzir o modo de vida do homem sertanejo através da arte. Agora, terá que tentar traduzi-lo no papel de gestor público.

Embora não seja um estreante na política – já foi diretor de Cultura, secretário de Cultura e vereador em Tabira – Sebastião Dias conta que a oposição debochava do fato de um poeta querer chegar à prefeitura. Segundo ele, militantes do prefeito e então candidato à reeleição, José Edson Cristovão de Carvalho, o Dinca (PSB), distribuíram mil miniaturas de viola e fizeram uma réplica do instrumento com dois metros de altura, colocada em uma praça que fica em frente a sua casa, dizendo que as quebrariam quando ele perdesse a eleição.

“Faziam chacota, diziam que iam quebrar a viola, iam me ‘arremedar’ na praça. Mas dizer isso no Pajeú é quebrar a cara, né? Não deu: quem manda no Pajeú é a viola, em Tabira principalmente. Isso é um reconhecimento ao poeta nordestino, essa figura que reivindica, que canta as dores do povo, o amor à natureza, isso é uma coisa muito forte. Eu sensibilizei o meu eleitorado justamente recitando versos e pedindo ao povo que respeitasse a viola, e foi o que aconteceu”, conta ele.

E foi inspirado nisso que após sua vitória Sebastião criou os versos que faz questão de recitar: “Foram dias de muito sofrimento/ afastado do som da minha lira./ Só porque defendi nossa Tabira/ prometeram quebrar meu instrumento./ Mas viver sem cultura eu não aguento/ poesia pra mim é coisa bela./ E até quando esta mão pega na vela/ poesia será a minha escola./ Quem queria quebrar minha viola/ foi dormir escutando o choro dela.” As informações são do JC Online. (Foto/reprodução)

No Sertão do Pajeú, um repentista no poder

  1. Paulo Robério Rafael Marques disse:

    Não é a primeira vez que um poeta popular ocupa um cargo eletivo. O grande poeta e senador paraibano Ronaldo Cunha Lima (in memorian) começou a sua vida política através da poesia de improviso feita nos seus discursos quando candidato. Com a poesia, Ronaldo foi vereador, deputado estadual por dois mandatos, prefeito de Campina Grande, senador e deputado federal.
    Em Caruaru, outro poeta popular e exímio repentista, Rogério Menezes, ocupa um cargo na Câmara Municipal, inclusive já foi o Presidente daquele poder.
    O poeta cantador, filósofo, advogado e teólogo, Pedro Bandeira Caldas, um dos criadores da Missa de Vaqueiros de Serrita, residente no Cariri cearense, já foi vereador por 3 mandatos em Juazeiro do Norte.
    Para mostrar o quanto tem valor o poeta popular, Pedro Bandeira já cantou para o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, e para o Papa João Paulo II, quando ele veio ao Brasil em 1980, assim como o cantador Otacílio Batista Patriota, de São José do Egito, que também se apresentou para a Sua Santidade em Fortaleza.
    Os poetas populares merecem mais respeito, pois são tão capazes, ou até mais, do que muito político “quenga velha” do ramo.
    Valeu meu amigo Sebastião Dias, mostre para esse grupelho de opositores o valor de um cabra do pajeú!

  2. Machado Freire disse:

    Pertinente e oportuna a avaliação do companheiro.
    Conheço o prefeito eleito de Tabira e Rogério Menezes há muito tempo.
    Rogério não teve sucesso no pleito passado. Ele disputou o executivo do município onde nasceu, no meu querido estado da Paraíba, enquanto Sebastião mostrou raça e ganhou a parada em Tabira, contra meia dúzia de bicudos.

    Os poetas repentistas do naipe de Sebastião, Rogério, João Paraibano e tantos outros daquela região do Pajeú são grandes talentos e têm como realizar grandes ações no campo da política que está cheia de figuras que pretendem remontar as velhas capitanias herediárias, como ocorre em Petrolina e Salgueiro.
    Isso é um grande perigo para a democracia e a transparência administativa. Eles querem ser os donos da verdade e se travestem de arautos da seriedade e da honestidade do tipo exportação do Paraguai.
    Acho que Sebastião Dias e Jesus Felizardo, este eleito lá em Mreilândia, vão ser um bom exemplo de prefeitos populares que não precisam gastar dinheiro atoa com artistas importados que custam um preço muito alto para as populações pobres que não têm nem água para beber.

    Vamos somar esforços e estimular esses amigos para que relizem administraçoes com o pé no chão.

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