Nota de repúdio: População do Povoado do Angico afirma que não tentou ferir trabalhadores com covid-19

por Carlos Britto // 02 de junho de 2020 às 18:02

Foto: Divulgação/Josué Damacena (IOC/Fiocruz)

Os moradores do Povoado do Angico, no município de Campo Alegre de Lourdes (BA), encaminharam uma nota de repúdio ao Blog esclarecendo um episódio ocorrido durante uma manifestação realizada por eles na última quinta-feira (28). Segundo informações, durante tal manifestação, os comunitários teriam tentado incendiar trabalhadores supostamente infectados pela covid-19, fato negado pelos moradores. Confiram:

Os moradores do Angico repudiam toda acusação no sentido de que o protesto tenha querido ferir quaisquer pessoas, afinal, são vidas que estão em jogo e os funcionários já passam pelo dissabor de estarem contaminados pelo vírus. Foi uma medida extrema, de desespero, um pedido de socorro, a fim de despertar o olhar do poder público para aquela localidade, já tão esquecida pelo Estado. São pais e mães de família, que se viram com a saúde própria e dos seus ser colocada em risco, para atender interesses outros que não a saúde pública.

No dia 28/05, foi noticiado pela mídia local que moradores do Povoado do Angico, localizado em Campo Alegre de Lourdes (BA) atearam fogo em um galpão montado pela construtora Andrade Gutierrez para abrigar funcionários contaminados pelo novo coronavírus, após um trabalhador da referida empresa ter ido à óbito, testado positivo para de Covid-19, na cidade de Buritirama (BA).

Os demais funcionários que trabalhavam no mesmo local da vítima, no povoado de Nova Holanda em Pilão Arcado (BA), fizeram testagem para o novo coronavírus, sendo constatado que 34 deles testaram positivo para a doença, o que levou a empresa a decidir pelo isolamento das pessoas em questão, como recomenda o Ministério da Saúde, como medida de segurança.

Os trabalhadores deveriam ser transferidos para a cidade de Barreiras – BA, onde seriam melhor atendidos e tratados. No entanto, em uma atitude irresponsável, que atenta contra a saúde dos infectados e de todos os moradores locais, alguns deles não foram para tal cidade, sendo colocados no balcão anteriormente citado, no Povoado do Angico, onde não há hospital, médicos ou tratamento específico para o coronavírus, ou seja, onde não há o mínimo suporte para que essas pessoas ficassem.

Além disso, foram colocados supostamente em um isolamento, já que não houve separação de pessoas infectadas e não infectadas, trazendo risco de contaminação para toda a população local, afinal, tratavam-se de 34 pessoas, em um local pequeno e considerando o alto índice de contaminação do Covid-19.

O que não foi esclarecido quanto ao fato em questão foi o que realmente aconteceu. Os moradores foram acusados de atentar contra os trabalhadores, sendo que, em verdade, o incêndio foi um protesto contra o desrespeito à saúde de todos, e, em nenhum momento, teve como finalidade atingir quaisquer pessoas que se encontravam no lugar. Prova disso é que o galpão incendiado foi o das ferramentas, nenhum morador do Angico tem ou teve intenção de causar qualquer mal às pessoas. A forma encontrada para o protesto foi uma medida totalmente compreensível, considerando a situação de pandemia que o país se encontra e o total descaso com que as autoridades estão lidando com a questão.

Os moradores do Angico repudiam toda acusação no sentido de que o protesto tenha querido ferir quaisquer pessoas, afinal, são vidas que estão em jogo e os funcionários já passam pelo dissabor de estarem contaminados pelo vírus. Foi uma medida extrema, de desespero, um pedido de socorro, a fim de despertar o olhar do poder público para aquela localidade, já tão esquecida pelo Estado. São pais e mães de família, que se viram com a saúde própria e dos seus ser colocada em risco, para atender interesses outros que não a saúde pública.

Os trabalhadores mereciam seriedade na resolução da questão, de acordo com a gravidade que a doença requer, e os moradores do Angico mereciam respeito para com a sua incolumidade física. Fica registrado o repúdio à forma distorcida como os fatos foram divulgados, tirando do foco o real problema, que foi o não encaminhamento dos trabalhadores para o lugar correto, numa vil tentativa de eximir de responsabilização os verdadeiros responsáveis por esse caos.

Anaquele Lima/Advogada e moradora do Povoado de Angico.

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